A vida de Donald Trump depois de Washington inclui planos de uma nova rede social e golfe
Nos primeiros 100 dias fora da Casa Branca, o ex-presidente deixa claro que sua prioridade é conservar a liderança republicana
“Todos os caminhos republicanos levam a Mar-a-Lago”, dizia recentemente o porta-voz de Donald Trump, Jason Miller. A atual residência do ex-presidente, conhecida durante sua Administração como a Casa Branca do sul, tornou-se um centro de peregrinação para doadores e políticos conservadores em busca da vênia do nova-iorquino. Desde que seu mandato terminou, Trump se fechou na residência de Palm Beach (Flórida) acompanhado da família, dedicando-se a dar novos rumos aos seus planos profissionais e jogar golfe. Pouco participou de eventos públicos, mas deu um jeito de continuar sendo procurado e de relembrar aos seus quem é que manda no partido.
Efetivamente, Mar-a-Lago é a via mais direta para os bilionários dispostos a abrir suas carteiras e impulsionar as campanhas dos republicanos para as eleições legislativas de 2022, quando tentarão retomar dos democratas a maioria no Congresso. Com esse objetivo, deputados, senadores e governadores republicanos mantiveram diversas reuniões com Trump desde que ele deixou a Casa Branca, em 20 de janeiro. Além disso, pelo menos uma dezena de candidatos ao pleito legislativo do ano que vem organizou atos para arrecadar recursos em propriedades do ex-presidente, sempre com a esperança de que este aparecesse em algum momento. Às vezes acontece, e então ele faz discursos de meia hora ou mais. Também realiza aparições em casamentos de filhos de amigos. Em todos os casos, agita a infundada tese da fraude eleitoral, entre vivas e selfies, reivindicando uma suposta vitória no pleito vencido pelo presidente Joe Biden.
Trump sempre se caracterizou por ser pouco convencional. Já era assim antes de chegar à Casa Branca, continuou quando presidente, e não mudou agora, em seus primeiros 100 dias fora do cargo. Longe de tirar férias com a família ou escrever uma autobiografia como ex-mandatário, o republicano deixou claro que sua prioridade é preservar a liderança do Partido Republicano. Continua fazendo aparições em canais conservadores como a Fox News, onde se dedica a atacar as políticas migratórias de Joe Biden, que segundo ele vão “destruir o país”, e onde se atribui o mérito da ampla disponibilidade de vacinas contra o coronavírus. “De certa forma, sou o pai da vacina”, disse.
Neste mês, o republicano planeja trocar temporariamente Palm Beach pelo seu clube de golfe em Bedminster, Nova Jersey, a 60 quilômetros de Nova York, conforme informou uma fonte anônima à Reuters nesta semana. Mar-a-Lago costuma fechar nos meses do verão, temporada baixa por causa das elevadas temperaturas no Estado. Com isso, abandonará também o gabinete que montou na antiga suíte nupcial do complexo turístico, e perderá a pequena tradição que mantém seu ego em forma: os membros do clube ficam de pé e o aplaudem cada vez que ele entra no refeitório para jantar, e novamente quando sai, conforme contou a CNN.
Expulso das redes sociais por incitação à violência depois do ataque de 6 de janeiro ao Capitólio, sua estratégia passa por lançar breves comunicados —com menor frequência que seus tuítes— através da página 45office.com, que compartilha com a ex-primera-dama, Melania Trump. São textos em que arremete contra políticas de seu sucessor que desmontam seu legado: dos planos para elevar os impostos sobre os mais ricos até o fim do veto migratório a um grupo de países de maioria muçulmana.
Miller, que foi assessor de Trump durante a campanha para a reeleição, antecipou no fim de março que o republicano planeja lançar sua própria rede social, para a qual pretende atrair “dezenas de milhões” de seguidores. Segundo o porta-voz do republicano, o republicano já manteve várias reuniões de alto escalão para concretizar o que durante meses foi um rumor. A se confirmar, será a volta oficial do ex-presidente à linha de frente da batalha política.