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Censura chinesa bloqueia o aplicativo Clubhouse

Aplicativo de conversas se tornou um insólito espaço de liberdade de expressão na China continental

La censura china bloquea Clubhouse
Uma imagem do Clubhouse, a rede social de áudio.New York Post
Macarena Vidal Liy
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Yangon (Myanmar), 06/02/2021.- A protester wearing a face mask with the flag of the National League for Democracy (NLD) party flashes the three-finger salute, a symbol of resistance, during a protest against the military coup, in Yangon, Myanmar, 06 February 2021. Thousands of people took part in the protest in Yangon. It was the largest street demonstration since Myanmar's military seized power and declared a state of emergency for one year after arresting State Counselor Aung San Suu Kyi and Myanmar president Win Myint in an early morning raid on 01 February. (Protestas, Golpe de Estado, Birmania, Estados Unidos) EFE/EPA/LYNN BO BO
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Era questão de tempo, como temiam seus usuários. Os censores chineses se mobilizaram rápido. O aplicativo de mensagens de voz Clubhouse, que se descreve como “um espaço para conversas informais e diretas”, havia se tornado – para aqueles que conseguiam um convite para entrar – um raro espaço de liberdade de expressão neste país. Nesta segunda-feira foi bloqueado, depois de um fim de semana em que centenas de cidadãos chineses debateram em seus chats sobre assuntos como os campos de reeducação de Xinjiang e as relações entre Pequim e Taiwan.

O aplicativo, que só funciona com o sistema operacional do iPhone, existe há um ano, mas sua popularidade explodiu há uma semana, depois que o fundador da Tesla, Elon Musk, entrou em uma das suas salas de bate-papo. Na China, onde até então havia passado despercebido tanto para os internautas como para o potente aparato censor, o Clubhouse virou repentinamente um obscuro objeto de desejo, ao menos para membros da classe média urbana e mais acomodada que têm no celular da Apple um símbolo de status e contam com os contatos necessários para receber um convite que lhes permita conhecer essa rede social – e também que podem baixá-la das lojas da Apple no exterior, porque tampouco está disponível na versão chinesa dessa plataforma.

São, portanto, uma minoria num país onde a maior parte dos celulares usa alguma variação do sistema Android – mas é uma minoria de um tamanho não desdenhável. Nas plataformas de comércio eletrônico e nas redes sociais, esses convites, que teoricamente seriam gratuitos, estão sendo vendidos a 500 yuans (417 reais).

Receber um convite abria todo um mundo de possibilidades, normalmente fechadas a quem, dentro da China, não conte com alguma das ferramentas informáticas que permitem burlar o Grande Firewall, como é popularmente conhecida a censura que o Governo impõe à Internet dentro de suas fronteiras.

O atrativo era, principalmente, poder conversar livremente e ouvir opiniões de todo tipo, sobre assuntos considerados sensíveis, como os protestos em Hong Kong e o tratamento dispensado à minoria muçulmana uigur em Xinjiang. Conversas desse tipo estão fortemente censuradas nas redes sociais chinesas, inclusive na onipresente WeChat, o WhatsApp chinês, e no Weibo, equivalente ao Twitter. As redes sociais ocidentais mais populares, como Facebook, Instagram e o próprio Twitter, são bloqueadas.

Alguns dos debates travados ao longo deste fim de semana nos chats em mandarim transcorriam de maneira “fantasticamente sincera”, como descreviam alguns de seus participantes em outras redes sociais. Um destes canais, que reuniu membros da diáspora uigur no exílio e chineses da etnia han, a majoritária no país, contou com dezenas de participantes que expuseram todo tipo de pontos de vista; vários de seus ouvintes iam comentando em tempo real em outras redes sociais. Outro chat, sobre o massacre da praça Tiananmen, alcançou na sexta-feira passada o máximo de 5.000 usuários conectados.

No Weibo, as hashtags relacionadas a conversas no Clubhouse recebiam até 50 milhões de comentários sobre o conteúdo dos debates e a possibilidade de abordar assuntos políticos ou sociais de qualquer tipo. Outros advertiam sobre o risco de deixar, como exige o aplicativo, o número de celular, o qual na China está vinculado à identidade real de um usuário.

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No próprio Clubhouse começavam a surgir também canais em mandarim dedicados especificamente a debater, quase sempre em tom jocoso, “quanto tempo o Clubhouse ficará aberto” ou se “convidaram você para tomar um chá por usar o Clubhouse?”. Na China, em determinados contextos, “ser convidado para tomar um chá” alude a ser intimidado para um interrogatório policial ou para uma repreensão das autoridades.

Nesta segunda-feira, inclusive o jornal Global Times, que adota uma linha nacionalista e pertence ao Partido Comunista da China, dedicou um artigo ao frenesi causado pelo aplicativo, mas minimizando a importância do interesse despertado. “Ao contrário das informações nos veículos de comunicação que descrevem o aplicativo como ‘um paraíso da liberdade de expressão’, muitos usuários na China continental consideram que os debates políticos no Clubhouse são frequentemente enviesados, e que as vozes pró-chinesas podem ser eliminadas facilmente.”

A tendência chamou a atenção dos censores. Nesta segunda-feira, a partir das 19h30 (12h30 em Brasília), quem desejasse acessar o aplicativo na China passou a receber uma mensagem de erro: “Não é possível estabelecer uma conexão segura com o servidor”. Onde a página de abertura do aplicativo mostraria uma lista de conversas e a atividade do usuário, aparece um espaço vazio, só quebrado pela frase “abra um novo chat para começar uma conversa”. Alguns usuários disseram nas redes sociais chinesas que não conseguiam receber os códigos de verificação, necessários para ativar o aplicativo, em seus celulares chineses.

Imediatamente começaram as reações de frustração entre seus usuários chineses. “Bloquearam o #Clubhouse na China. Não é surpreendente, mas é um pouco decepcionante”, escreveu uma internauta dessa nacionalidade.

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