Pior nevasca em décadas provoca caos na Espanha, fecha Madri e causa mortes
Tempestade Filomena, a mais grave em ao menos cinco décadas, afetou centenas de estradas. Só na capital espanhola, mais de 1.000 pessoas foram resgatadas dentro de carros submersos pela neve. Autoridades pedem que a população não saia de casa. Aeroporto Barajas fecha para pousos e decolagens
A tempestade Filomena provocou um pesadelo de neve em Madri, na Espanha: pessoas presas a noite inteira em seus carros, centenas de árvores caídas, ruas bloqueadas, serviços de emergência que não podem circular e trabalhadores essenciais que não pode chegar a seus postos de trabalho. O prefeito da capital espanhola, José Luis Martínez-Almeida, pediu que a população não saia de casa, alertando que a situação é “muito grave”. Ao menos quatro pessoas morreram em decorrência da nevasca, mas o número de vítimas não para de crescer conforme os resgates ocorrem no país.
Mais de 1.500 pessoas resgatadas de dentro de seus veículos em centenas de vias espanholas bloqueadas pela neve entre a noite de sexta-feira e a madrugada deste sábado. Algumas pessoas chegaram a ficar 24 horas presas dentro de seus carros. “Felizmente, eu tinha gasolina suficiente para manter o aquecedor”, contou Giovanna Alfaro, 58 anos, que passou quase um dia presa dentro de seu automóvel. O Exército espanhol foi acionado para ajudar nos resgates e as autoridades colocaram a Espanha para “alerta máximo” diante da previsão de novos temporais de neve. O Governo espanhol pediu que a população fique em casa. “Enfrentamos a tempestade mais intensa dos últimos 50 anos”, disse neste sábado o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska. A nevasca também abriu um debate político sobre a alta do preço da luz no país em plena crise econômica causada pelo coronavírus.
A maior nevasca em décadas causou na sexta-feira imagens surrealistas, como a de uma pessoa em um trenó puxado por cães circulando pela rua, esquiadores na Puerta del Sol e na Gran Vía e guerras de bolas de neve em Callao, no centro da cidade, mas à medida que a nevasca foi aumentando ao longo da tarde, tudo foi piorando rapidamente, com milhares de pessoas bloqueadas em seus carros, que tiveram de ser resgatados por militares. Na manhã deste sábado, ainda restavam centenas. As autoridades anunciaram a suspensão das aulas na segunda e na terça-feira em Madri e em Castilla-La Mancha e um casal morreu após ficar preso em seu veículo, arrastado pela correnteza em Mijas (Málaga). Incluindo uma pessoa em situação de rua, que morreu de frio em Calatayud (Zaragoza) há dois dias, já são quatro os mortos.
Além de Madri, outras nove províncias, das regiões de Castilla-La Mancha, Comunidade Valenciana, Catalunha e Aragón, estão em alerta vermelho de neve neste sábado. Trata-se de Albacete, Cuenca, Toledo, Guadalajara, Valência, Castellón, Tarragona, Teruel e Zaragoza. Em todas elas, a previsão é que se acumulem 20 centímetros de neve com as tempestades. Além disso, há alerta laranja (o segundo nível de uma escala de três) de neve em mais 19 províncias, e amarelo (o nível inicial) em outras 7. Ao todo, a neve afeta 36 das 50 províncias e 614 estradas, 100 delas na rede principal.
Na capital, bloqueada pela neve, não funciona o serviço público de ônibus, foi suspensa a coleta de lixo e o prefeito Martínez-Almeida pediu que as pessoas não saiam de casa. A única forma de locomoção é de metrô e, mesmo assim, algumas linhas estão cortadas. Martínez-Almeida não sabe quando será possível resgatar as pessoas que estão bloqueadas porque o tempo, adverte, não vai melhorar nas próximas horas. “Não posso dar neste momento um horizonte de tempo exato, porque vai continuar nevando”. A situação provocada pela tormenta em Madri passou, em poucas horas, de algo que oferecia imagens de cartão postal que se multiplicavam nas redes sociais para uma emergência grave, fazendo com que os serviços de emergência tenham enorme dificuldade para se locomover por uma cidade coberta pela neve. O pior é que as previsões indicam que continuará nevando durante todo o dia, e à noite haverá geadas.
O Exército espanhol, através da Unidade Militar de Emergência (UME), atuou durante toda a madrugada para tentar resgatar motoristas da rodovia A-5 (Móstoles e Alcorcón), A-4 (Aranjuez e Ciempozuelos) e A-3 (Arganda e Rivas-Vaciamadrid). Até o início da manhã, pelo menos mil veículos haviam sido resgatados. Também há muitos caminhoneiros bloqueados em várias províncias. Só em Guadalajara, há 1.300. O aeroporto de Madri-Barajas, que fechou por volta das 21h, não voltará a operar durante todo este sábado. Também houve cancelamentos e atrasos no transporte ferroviário e suspensões de ligações marítimas.
A Agência de Segurança e Emergência Madri 112 pediu que a população não use carro em nenhuma circunstância, apenas os serviços essenciais e com correntes nos pneus. “Não podemos ter mais gente bloqueada nesta manhã”, afirmou David García, porta-voz da agência. Não há um cálculo sobre o número de pessoas que foram evacuadas ou das que ainda estão em seus carros em Madri, mas a agência fala em “centenas” de veículos aos quais ainda não foi possível chegar.
Mas ainda resta pela frente um dia muito adverso devido à terrível tempestade de neve, chuva, vento, mar agitado e baixas temperaturas provocada pela interação da Filomena com a massa de ar frio instalada na península. A tempestade continua se deslocando e estará localizada neste sábado no Mediterrâneo, detalha Rubén del Campo, porta-voz da Agência Estatal de Meteorologia (Aemet). Os ventos úmidos do Mediterrâneo estão dando ainda mais impulso para intensificar as precipitações no leste da península, a maioria em forma de neve.