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A oposição que decidiu enfrentar Nicolás Maduro na Venezuela

Um grupo de partidos com pouca representação entre os críticos ao chavismo decide participar das questionadas eleições parlamentares deste domingo

Lauren Caballero, candidato do partido Avanço Progressista, em um bairro de La Guaira, na Venezuela, em 28 de novembro.
Lauren Caballero, candidato do partido Avanço Progressista, em um bairro de La Guaira, na Venezuela, em 28 de novembro.MANAURE QUINTERO (Reuters)

A convocação das eleições parlamentares de 2020 na Venezuela é o resultado de um pacto político entre as forças chavistas e um pequeno grupo de partidos formalmente oposicionistas, agrupados na plataforma chamada Mesa de Diálogo Nacional. O acordo foi concebido para dar um chão institucional aos processos consultivos da revolução bolivariana, tirar do caminho os setores da desobediência liderados por Juan Guaidó e contribuir, ao mesmo tempo, para o crescimento destas formações emergentes.

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O Governo de Nicolás Maduro deu as boas vindas às organizações dispostas a reconhecer a legitimidade do atual ocupante do Palácio Miraflores e participar da votação sob os seus termos. Ele concedeu certas cotas de poder a alguns políticos desses partidos, especialmente na composição da nova direção do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Dois dos cinco juízes do CNE, Leonardo Morales e Luis Fuenmayor, representam essa corrente.

Foram alguns destes políticos opositores que, cinco meses antes, haviam pedido ao Tribunal Supremo de Justiça, afim ao chavismo, que declarasse que a Assembleia Nacional, liderada por Juan Guaidó ― reconhecido com presidente interino da Venezuela por 60 países ―, carecia de autoridade para nomear o novo comitê eleitoral. O Supremo venezuelano se pronunciou a favor poucas horas depois.

Os políticos da Mesa de Diálogo Nacional ― espaço coloquialmente chamado de mesita na Venezuela, reunindo um setor da oposição em diálogo com o chavismo ― desenharam algumas modificações para as eleições legislativas, aumentando em mais de 100 o número de deputados do Parlamento unicameral venezuelano (277 no total) e deixando reservada a eleição de 40 assentos por “voto em lista”, atribuídos segundo a votação nacional, enquanto as demais vagas são eleitas num sistema distrital, com peso proporcional à população. O chavismo teve mãos livres para comprar novas máquinas eleitorais, sobre cuja licitação e auditoria nada se sabe. Com estas decisões, chavistas e opositores estão procurando ampliar e compartilhar espaços de poder.

Os partidos dissidentes que decidiram participar do pleito não se apresentam unidos nas eleições de 6 de dezembro, uma circunstância que torna ainda mais factível uma cômoda vitória governista no processo. Esses opositores tiveram presença na publicidade eleitoral de rádio e televisão e participaram de debates televisionados contra políticos chavistas.

Embora convirjam em torno da convicção de apresentar seus candidatos, por mais questionada que seja a eleição, eles têm diferenças de enfoque e interesses. O argumento mais invocado é o que expressou Claudio Fermín, líder do movimento Soluções: a necessidade de combater a polarização política atual; não se empenhar em derrotar o Governo, e sim concentrar-se nas pessoas; não responder ao chavismo com a palavra oposição.

De todos os partidos da mesita, o Avanço Progressista é a organização política de maior envergadura e a mais disposta a fazer críticas a Maduro e à sua gestão. Seu líder é Henri Falcón, ex-governador do Estado de Lara e militante chavista até 2009.

Também participam o Movimento ao Socialismo, que teve protagonismo na política venezuelana dos anos noventa; o Soluções, de Fermín, outro político que se tornou popular há 20 anos; o Mudemos, organização conduzida por Timoteo Zambrano; e a corrente do pastor evangélico Javier Bertucci, que competiu contra Maduro nas impugnadas eleições presidenciais de 2018. Em linhas gerais, são políticos socialdemocratas.

Além da Mesa de Diálogo Nacional, participa da eleição também, por sua conta, o partido Primeiro a Venezuela. Ele é composto por alguns deputados da oposição acusados de terem recebido suborno do Governo para tirar de Juan Guaidó a presidência da Assembleia Nacional. Depois daquele episódio, o Supremo venezuelano, controlado pelo chavismo, emitiu sentenças obrigando à mudança das direções dos partidos oposicionistas Primeiro Justiça e Ação Democrática, aliados de Guaidó, para facilitar sua participação eleitoral, usando para isso dirigentes menos beligerantes. A circunstância serviu para confundir parte do eleitorado em um país no qual a censura oficial já campeia.

Finalmente, estão na disputa o recém-criado Unidade e Mudança, fundado pelo veterano dirigente social-cristão Eduardo Fernández e dirigido por Mercedes Malavé, além de outros pequenos grupos da democracia cristã.

Embora sejam criticados com frequência por seu obstrucionismo contra Guaidó e sua atitude complacente com o Governo, a maioria destes dirigentes defendeu sem matizes os espaços institucionais que podiam ser defendidos; não abandonar a cláusula do voto; procurar acordos com o chavismo para sair do marasmo econômico; centrar a gestão mais na emergência social que na mudança política, e procurar soluções para a crise da democracia em médio e longo prazo.

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