‘Bolsotrumpistas’ ansiosos com a eleição dos EUA: “Se estivesse lá apoiaria Trump como apoio o Bolsonaro”
Apoiadores ideológicos do presidente brasileiro veem reeleição de Trump como fundamental para manutenção de aliança entre Governos norte-americano e brasileiro contra avanço da China
Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo aguardam com uma mistura de expectativa e apreensão o resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos, cujas urnas começam a ser abertas nesta terça-feira (3). Para parte dos apoiadores mais ideológicos do presidente ouvidos pela reportagem de EL PAÍS, a reeleição do republicano Donald Trump é fundamental não apenas para manter o apoio do país norte-americano ao governo brasileiro, mas também para impedir o avanço do que seria o socialismo internacional — ou globalismo, nas palavras do chanceler Ernesto Araújo— supostamente liderado pela China. Já a possibilidade de uma vitória de Joe Biden, o candidato democrata, causa preocupação ao grupo.
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Apoiador do presidente Bolsonaro, o candidato a vereador pelo PSC David Alexander acredita em uma vitória do republicano. “O nosso pessoal está preocupado acompanhando, mas eu acho que o Trump vai ganhar”, afirma. E se Biden vencer? “Não gosto nem de pensar nisso aí”.
“Hoje nós temos uma ação a nível global de implantação do socialismo nos países, a gente vê isso muito claro na América Latina e no Brasil até a eleição do presidente Bolsonaro”, afirma José Maciel, técnico têxtil de 59 anos que participa do acampamento “Fora Dória”, montado há cerca de seis meses próximo ao Parque do Ibirapuera e ao Comando do Exército em SP para apoiar o governo do presidente Bolsonaro. “É muita coisa em jogo. Existe um tripé de países hoje que a gente acredita piamente que está segurando esse avanço do socialismo no mundo: Brasil, Estados Unidos e Israel. Existem outros como Hungria, Polônia, Austrália e Japão que dão apoio, mas estes três são os principais”.
No raciocínio de Maciel, que não acredita numa vitória de Biden, o triunfo democrata deixaria o Brasil praticamente sozinho na luta contra o comunismo global, pronto para sucumbir ao poderio econômico e militar chinês. “Se tiver uma mudança de orientação no governo dos norte-americanos, se Trump perder, já era, podemos começar a aprender mandarim. O Biden vai deixar os chineses entrarem de vez”, diz o militante bolsonarista.
Para Advânia dos Santos, cuidadora de idosos e artista plástica de 39 anos que participa do acampamento desde o início, Bolsonaro e Trump representam o mesmo projeto e visão de mundo. “Se eu estivesse nos Estados Unidos eu apoiaria o Trump da mesma forma que eu apoio o Bolsonaro no Brasil”, diz ela, vestida com uma camiseta onde Trump e Bolsonaro estão lado a lado embaixo da frase “quando os justos governam, o povo se alegra”. “Eles são curtos e grossos, dizem na lata o que tem de dizer mesmo, doa a quem doer. Gosto deste estilo também”. Assim como o colega de Maciel, ela teme pelo pior para o Brasil se o democrata vencer. “Confesso que tenho um pouco de medo do Biden ganhar. Vai ser tipo, ‘e agora, como vamos fazer sozinhos’?”, questiona.
Essa visão explica a participação dos ativistas na manifestação em apoio à reeleição de Trump neste domingo na capital paulista. Levaram bandeiras do Brasil e dos EUA e torceram muito pela vitória do republicano. “Sabemos que não temos como influenciar o resultado daqui, mas quisemos mostrar para eles que não estão sozinhos e acreditamos muito neles”, diz Maciel.
O ato fechou a Avenida Paulista neste domingo (1) e serviu também para os apoiadores do presidente Bolsonaro protestarem contra o governador de SP, João Doria (PSDB) e a vacina chinesa contra a covid-19, entre outras pautas. “Cada um levou a sua bandeira”, explica Maciel. “Meu corpo me pertence”, “Go Trump”, “Fora Doria e Vachina” e “Doria, não sou cobaia” eram algumas das frases estampadas nos cartazes. A vacina foi chamada no carro de som de “experimento socialista”. Os manifestantes também protestaram preventivamente contra um endurecimento das medidas de distanciamento social, a exemplo do que está acontecendo na Europa para enfrentar a segunda onda da pandemia.
De acordo com nota divulgada pela Polícia Militar, cerca de 300 pessoas participaram da manifestação. Também em nota, o governo de SP afirmou que respeita “o direito democrático à livre manifestação, mas lamenta que o obscurantismo ideológico insuflado por uma minoria raivosa em redes sociais seja usado para espalhar pânico e desinformação”.