França retoma confinamento, Alemanha fecha bares e Itália tenta aplacar protestos contra restrições
Comissão Europeia anuncia estratégia de testes rápidos para rastreamento do vírus no continente que vive segunda onda, com 1.000 cidadãos europeus morrendo todos os dias
A Europa parece voltar rapidamente aos quadros iniciais da pandemia de coronavírus. França e Alemanha anunciaram nesta quarta-feira novas medidas de confinamento, ainda que mais suaves que nos meses de março e abril, em uma tentativa de conter o avanço da segunda onda da covid-19, enquanto a Itália tenta aplacar protestos de empresas afetadas pelas novas medidas de restrição.
“A situação do coronavírus é muito grave em quase todos os Estados membros”, advertiu a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, durante anúncio de uma estratégia de testes rápidos massivos para rastreamento do vírus. Segundo ela, o continente está “nas profundezas” da segunda onda, com 1,1 milhão de positivos detectados na semana passada e cerca de 1.000 cidadãos europeus morrendo todos os dias. “Esperamos que os casos continuem aumentando nas próximas duas ou três semanas”, afirmou. E embora os números de ocupação da UTI ainda sejam um terço dos da pandemia na primavera europeia, é provável que continuem a crescer com a chegada da temporada de resfriados e gripes.
O presidente Emmanuel Macron anunciou nesta quarta-feira o segundo confinamento de toda a população francesa, que entrará em vigor na sexta-feira e se estenderá até 1º de dezembro. A medida voltará a impedir as saídas não justificadas e também pequenas reuniões e eventos coletivos, além de forçar o fechamento de negócios considerados não essenciais. Mas, ao contrário do primeiro lockdown, de março e abril, escolas permanecerão abertas e indústria, agricultura, construção e administração pública continuarão funcionamento na medida do possível. Outra diferença: os familiares poderão visitar os mais velhos nas residências.
Em discurso no horário nobre, o presidente francês admitiu que o avanço da pandemia o surpreendeu, mas ressaltou que o mesmo aconteceu em toda a Europa. “Estamos todos no mesmo ponto, oprimidos por uma segunda onda que, agora sabemos, será sem dúvida mais dura e letal do que a primeira”, disse ele. "Se não travarmos brutalmente a contaminação, nossos hospitais logo ficarão saturados [...] E os médicos terão que escolher entre um paciente com covid e uma vítima de um acidente rodoviário, ou entre dois pacientes com covid. Levando em conta os nossos valores, o que é a França, isso é inaceitável ", acrescentou. Só na terça-feira, 523 pessoas morreram, o maior número desde abril. O país registra mais de 35.500 óbitos desde o início da pandemia. Nas últimas 24 horas, foram registrados 33.417 novos casos, elevando o total para quase 1,2 milhão.
A chanceler alemã, Angela Merkel, e os chefes de Governo dos Estados da Federação também negociaram na quarta-feira novas limitações à vida pública para acabar com o crescimento exponencial de contágios, que bate recordes há mais de uma semana. Durante todo o mês de novembro, bares, cinemas, teatros, academias e piscinas ficarão fechados, enquanto os restaurantes só poderão servir refeições para levar. Os contatos se reduzirão a um máximo de 10 pessoas pertencentes a duas unidades familiares. Nas últimas 24 horas, foram registrados 14.964 casos positivos de covid-19 e 85 mortes no país, de acordo com os dados do Instituto Robert Koch.
“É preciso agir agora”, disse Merkel, que afirmou que o período em que os contágios se duplicam diminuiu para sete dias e que o número de pacientes em unidades de terapia intensiva duplicou em 10 dias. “Precisamos reduzir o número de contatos”, acrescentou. O sistema de saúde até agora conseguiu lidar com os contágios, afirmou a chanceler, mas ao ritmo atual logo acabaria saturado se não agirem agora. Merkel reiterou que “o instrumento mais importante é o rastreamento de contatos”, que em alguns pontos do país estão perto do colapso. O objetivo é reduzir os contágios abaixo do que é considerado o limite de risco da Alemanha, ou seja, não mais de 50 novos casos em sete dias para cada 100.000 habitantes. Os dados do Instituto Robert Koch colocavam a incidência em 93,6 casos para cada 100.000 habitantes nos últimos sete dias. Merkel pediu “um esforço nacional”.
Protestos na Itália contra as novas medidas
O Governo italiano vem reiterando que seu objetivo nesta emergência sanitária, além de proteger a saúde da população, é salvaguardar o tecido econômico do país, duramente afetado nos últimos anos. Por isso, sua intenção é evitar um segundo confinamento a todo custo. Para conter o aumento exponencial de casos, o Governo de Giuseppe Conte decretou restrições parciais, como o fechamento de cinemas, teatros e academias, e a redução do horário de funcionamento de bares e restaurantes, que têm de fechar as portas às 18h ― sob protestos dos setores prejudicados. Agora, aprovou um pacote de ajuda de 5,4 bilhões de euros (36,4 bilhões de reais) para as empresas afetadas.
O Governo anunciou no domingo as restrições, que afetam principalmente os restaurantes e a cultura. E, na noite de terça-feira, liberou o pacote de ajuda. Nesse intervalo de tempo, donos de restaurantes, taxistas e trabalhadores de academias, cinemas e teatros realizaram protestos em várias cidades do país. O ministro do Desenvolvimento Econômico, Stefano Patuanelli, agradeceu àqueles que “saíram às ruas para se opor ao decreto do Governo, mostrando a vontade dos italianos de continuar produzindo, gerar empregos e fazer negócios”.
O primeiro-ministro Conte insistiu que “os fechamentos não foram indiscriminados” e afirmou que, “para evitar que a curva saia do controle, é necessário reduzir as principais ocasiões de socialização”. Também anunciou que a ajuda chegará de forma automática às empresas que já solicitaram financiamento nos últimos meses, garantindo que até “meados de novembro” já terão recebido o dinheiro.
No passado, o Governo recebeu inúmeras reclamações sobre a grande burocracia e a demora para o recebimento dos subsídios. O ministro da Economia, Roberto Gualtieri, disse que o novo decreto será posto em prática com “rapidez, simplicidade e eficiência”, acrescentando: “Temos consciência de que as restrições obrigaram muitos empresários a mudar de planos e perspectivas, por isso optamos por medidas de apoio mais simples e mais rápidas e decidimos reforçá-las”.
O destaque do decreto são os 2,4 bilhões de euros (16,2 bilhões de reais) em recursos a fundo perdido para as atividades fechadas durante pelo menos um mês pelas novas restrições aprovadas pelo Governo, ou para as que têm de reduzir seu horário. Desta vez, diferentemente das ocasiões anteriores, serão incluídas também as empresas com faturamento superior a 5 milhões de euros (33,7 milhões de reais). Segundo Gualtieri, mais de 300.000 empresas serão beneficiadas com esses recursos e obterão “quantias maiores” do que as recebidas em ajudas nos últimos meses, até o máximo de 150.000 euros (1 milhão de reais). As atividades que não solicitaram esses subsídios nas fases anteriores da emergência e precisarem deles agora poderão começar a recebê-los em meados de dezembro, assinalou o ministro.
Com informações de Bernardo de Miguel e Guillermo Abril.
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