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Trump se nega a prometer transição pacífica se perder eleições de novembro

“Vamos ver o que acontece. Tenho me queixado muito do voto [pelo correio], é um desastre”, afirma o presidente dos EUA, alimentando a acusação de fraude na votação postal

Donald Trump na tarde desta quarta-feira, durante uma entrevista coletiva na Casa Branca.
Donald Trump na tarde desta quarta-feira, durante uma entrevista coletiva na Casa Branca.TOM BRENNER (Reuters)
Amanda Mars

Donald Trump já vislumbra o resultado das eleições presidenciais de 3 de novembro sendo levado à Suprema Corte. O presidente dos Estados Unidos vem há várias semanas semeando dúvidas sobre a fiabilidade do sistema e sobre o voto postal, que neste ano deve ser em volume maciço por causa da pandemia. Na tarde de quarta-feira ele foi além, recusando-se a assumir o compromisso de promover uma transição pacífica caso saia derrotado. Em entrevista coletiva na Casa Branca, o republicano foi diretamente questionado por um jornalista sobre isso, em duas ocasiões, e em ambas respondeu com evasivas. “Vamos ver o que acontece. Você sabe que eu tenho me queixado muito do voto [pelo correio], é um completo desastre”, afirmou, alimentando as dúvidas.

O mandatário joga gasolina numa sociedade que é hoje um barril de pólvora, em meio a uma grave crise sanitária e econômica e após meses de protestos raciais e distúrbios que deixaram mortos em cidades como Portland (Oregon) e Kenosha (Wisconsin), entre outras. Na noite desta quarta-feira, em Louisville (Kentucky), dois policiais foram baleados em manifestações contra a decisão de um júri de instrução de arquivar as acusações de homicídio contra três policiais envolvidos na morte a tiros da jovem negra Breonna Taylor, durante a execução de um mandado de busca em sua casa, em 13 de março.

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Durante a coletiva de Trump, um jornalista fez referência à tensão social nos EUA em sua pergunta ao presidente. “Há pessoas provocando distúrbios. O senhor se compromete a assegurar que haverá uma transição pacífica do poder?”, insistiu. E Trump respondeu: “Queremos nos livrar desses votos [postais, que ele alega, sem qualquer base, serem fraudulentas] e teremos uma transição pacífica; bom, não haverá transição, haverá uma continuidade”, afirmou, prognosticando assim sua vitória eleitoral. “As cédulas estão fora de controle e os democratas sabem disso melhor do que ninguém”, acrescentou.

Durante a campanha eleitoral de 2016, Trump já havia deixado dúvidas sobre sua disposição em aceitar uma derrota ― como previa a maioria das pesquisas. Agora voltou ao tema, mas as circunstâncias são completamente diferentes. Com a pandemia, a maioria dos Estados flexibilizou as exigências para o voto postal e estima-se que até 78% do eleitorado norte-americano ― um recorde ― possa utilizá-lo. Muitos especialistas concordam que, por esse motivo, é provável que o vencedor não seja conhecido na madrugada de 3 para 4 de novembro, e sim dias depois, quando todas as cédulas trazidas pelos carteiros terminem de ser apuradas. Essa incerteza é um campo minado no atual clima de polarização política e social.

Também na quarta-feira, em declarações à imprensa durante uma reunião com secretários de Justiça de vários Estados, Trump observou que as eleições podem acabar sendo decididas na Suprema Corte, razão pela qual seria urgente escolher um substituto para a juíza progressista Ruth Bader Ginsburg, que morreu na sexta-feira passada. A principal instância judiciária dos EUA é composta de nove membros, e a eventual presença de apenas oito juízes durante vários meses poderia dar lugar a situações de empate e bloqueio.

“Acredito que isto acabará na Suprema Corte, e é muito importante que tenhamos nove juízes”, disse. “É melhor [confirmar um novo magistrado] antes das eleições, porque acredito que esta fraude que os democratas estão preparando acabará na Suprema Corte dos Estados Unidos”, acrescentou. Neste sábado ele anunciará o nome indicado para ocupar a vaga de Ginsburg, uma substituição que o ajudará a reforçar a maioria conservadora na corte que, na prática, pode acabar decidindo a eleição.

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