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Arábia Saudita prende por corrupção trezentos funcionários

A medida, cujos detalhes são desconhecidos, alcança militares, juízes e funcionários de vários ministérios

Ángeles Espinosa
Foto do príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman (MBS), em Riad, Arábia Saudita.
Foto do príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman (MBS), em Riad, Arábia Saudita.FAYEZ NURELDINE (AFP)
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Trezentos funcionários públicos, incluindo militares e membros das forças de segurança, foram detidos na Arábia Saudita acusados de receber subornos e abusar de cargos públicos. A Comissão de Controle e Anticorrupção (Nazaha), que encaminhou os indiciados aos tribunais competentes, estima em 379 milhões de riais (536 milhões de reais), o valor fraudado. As prisões foram divulgadas uma semana depois que surgiu a informação da detenção de pelo menos dois membros importantes da família real, o que, como aconteceu com a campanha anticorrupção que resultou no confinamento de dezenas de príncipes e magnatas no Ritz de Riad em 2017, levanta questões sobre seu objetivo principal.

“A Comissão abriu um processo administrativo contra 219 funcionários por descumprimento do dever e também iniciou processos criminais contra 674 pessoas, das quais 298 foram afastadas de seu emprego, de acordo com a lei, e acusadas de vários crimes de corrupção administrativa e financeira, como aceitação de subornos, malversação de fundos, desperdício de dinheiro público e abuso de poder”, informa a Nazaha em seu site.

Entre os detidos, a Comissão menciona oito militares no Ministério da Defesa, incluindo um general e vários oficiais reformados, por suborno e lavagem de dinheiro com contratos governamentais entre 2005 e 2015. (Significativamente, durante essa década esteve no comando do país o rei Abdullah, cujos filhos e colaboradores mais próximos foram expurgados quando seu meio-irmão Salman o sucedeu em 2015). Também aponta 29 funcionários do Ministério do Interior, metade dos quais trabalhava na Província Oriental, entre eles dois generais e três coronéis.

A campanha, divulgada no domingo à noite, chega ao judiciário e aos Ministérios da Educação e Saúde. Há dois juízes acusados ​​de receber suborno; 10 funcionários públicos presos por suposta corrupção em conexão com o colapso de um prédio em uma universidade de Riad que causou várias mortes; e 21 pessoas que cometeram irregularidades administrativas e financeiras em contratos com a Direção Geral de Saúde da Província Oriental, incluindo duas mulheres e três residentes estrangeiros.

Apesar de sua declarada meta de transparência, a Nazaha não fornece o nome nem outros detalhes sobre os diferentes casos. Também não está claro quando começaram as investigações contra os funcionários nem suas prisões. A campanha parece ecoar a realizada no final de 2017 contra dezenas de príncipes, empresários e altos funcionários para combater a corrupção. Na ocasião, os detidos foram trancados no hotel Ritz-Carlton em Riad e só receberam autorização para sair depois de renunciarem a uma parte substancial de suas fortunas.

As autoridades disseram então que tinham arrecadado 400 bilhões de riais. Observadores, no entanto, interpretaram a medida como um expurgo lançado pelo herdeiro e governante de fato do reino, o príncipe Mohamed Bin Salman (conhecido como MBS), para intimidar seus potenciais críticos. A Corte Real disse no início do ano passado que estava encerrando aquela campanha, mas as autoridades mais tarde anunciaram que também iriam investigar a corrupção entre funcionários públicos.

O príncipe Mohamed conquistou a simpatia de boa parte dos sauditas por conter aqueles que estavam enriquecendo às custas do erário em um país onde a enorme riqueza do petróleo fomenta o nepotismo e a troca de favores. No entanto, seus métodos pouco transparentes também suscitaram críticas e a suspeita de que apenas encobrem seu desejo de concentrar todo o poder em suas mãos. Na época em que lançou o expurgo de 2017, veio à tona que ele havia adquirido um castelo na França, um iate de luxo e uma pintura atribuída a Leonardo Da Vinci por 400 milhões de dólares (1,95 bilhão de reais).

“Como empresa, vimos mudanças significativas. Agora há licitações para os contratos públicos e quem oferece as melhores condições ganha. Até sua chegada, os serviços públicos de água, eletricidade e outros eram outorgadas de forma direta e ineficiente. Ele pôs ordem”, declarou recentemente um executivo europeu que trabalha para uma multinacional saudita. O interlocutor admitiu, porém, que essa luta contra a corrupção "não chegou a todos" e que os mais próximos de MBS "foram poupados".

A notícia das novas detenções veio à tona apenas uma semana depois da prisão de pelo menos dois membros importantes da família real, bem como um outro príncipe e vários funcionários de alto escalão vinculados a eles. O confinamento em suas residências do príncipe Ahmed Bin Abdelaziz, irmão mais novo do rei Salman, e do príncipe Mohamed Bin Nayef, sobrinho de ambos, foi interpretado como um novo reforço do poder do herdeiro e filho favorito do monarca.

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