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Venezuela reconhece inflação de 9.500% em 2019

Maduro consegue desacelerar o aumento de preços à custa de uma brutal contração econômica

Florantonia Singer
Vendedor em um mercado em Caracas.
Vendedor em um mercado em Caracas.Matias Delacroix (AP)

A hiperinflação na Venezuela continua fazendo estragos. Em 2019, atingiu 9.585%, conforme informou o Banco Central da Venezuela na quinta-feira. O preço dos alimentos foi multiplicado por 80 no ano passado e o dos produtos relacionados à saúde por 180. Quem esteve recentemente em um supermercado, uma farmácia ou um consultório médico no país sul-americano está ciente do que Banco central revelou. Custear a vida diária é a maior preocupação de muitos venezuelanos. Há produtos disponíveis nas prateleiras das lojas, mas apenas uma pequena parcela da população pode comprá-los.

Os novos números da inflação continuam brutais, ainda mais em uma economia moribunda como a venezuelana. No entanto, revelam uma desaceleração em relação ao índice de preços ao consumidor de 2018, que ficou em 130.060%, segundo os mesmos dados oficiais. E, apesar disso, os números são inferiores às estimativas de organismos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), que recentemente constatou que o país perdeu dois terços do PIB pelo caminho em seis anos de crise.

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A inusual publicação dos dados foi feita através do portal do instituto emissor, sem maiores explicações por parte do Governo. O dado não foi sequer mencionado na recente prestação de contas feita por Maduro diante da Assembleia Nacional Constituinte. Para alguns economistas, a divulgação do número faz parte da política de liberação econômica que Maduro começou a aplicar no ano passado, como última medida para enfrentar a deriva em que está mergulhado o país depois de 15 anos de controles.

“No ano passado, o motivo de revelar números podia ser outro, mais relacionado às condições de seus parceiros comerciais para obter mais endividamento. Hoje, tem a ver mais com a tendência de liberalizar a economia e dar um marco às empresas privadas para estabelecerem preços e estruturas de custos e que assumam o bastão para conseguir garantir certo abastecimento. O Governo começou a reconhecer, sem dizê-lo, que não pode manter o gasto público com a redução da renda do petróleo”, afirma o economista Luis Bárcenas, da empresa de consultoria Ecoanalítica.

Os números, no entanto, não mostram que a abertura corresponde a uma verdadeira guinada. O Governo de Maduro mantém uma queda de braço com hiperinflação por meio da redução do gasto público e da redução total do crédito. Na Venezuela, o cartão de crédito é um objeto em desuso, pois nenhum banco pode oferecer financiamento por conta das restrições impostas pelo Banco Central da Venezuela à reserva legal. A dolarização informal também o favoreceu nessa luta contra os preços. “As pessoas não têm o mesmo poder de compra, razão pela qual as empresas baixam os preços ou não os aumentam de forma tão agressiva porque estão diante de um consumidor com menos dinheiro para gastar”.

O país ainda não superou a hiperinflação. Em 2020, pode permanecer no desonroso primeiro lugar entre os países com a inflação mais alta do mundo e onde a economia encolheu dois terços desde que Maduro chegou ao poder. Espera-se que este ano seu desempenho continue a se retrair em 10%, de acordo com a última estimativa do FMI, publicada este mês.

O desequilíbrio entre o aumento da taxa de câmbio e dos preços tem produzido o que os economistas chamam de encarecimento da vida em dólares, que as pessoas chamam erroneamente de inflação em moeda estrangeira. Bárcenas ressalta que entre 2018 e 2019, considerando o percentual de inflação revelado pelo BCV, o poder de compra do dólar –no qual já são realizadas 60% das transações– caiu cerca de 20%. No final do ano passado, você precisava de 0,25 dólar a mais para adquirir o mesmo que em 2018 você comprava com um bilhete verde.

Em contradição com a dolarização, a Constituinte de Maduro anunciou recentemente reformas nas leis tributárias que impõem penalizações adicionais entre 5% e 25% nas transações realizadas em dólares ou criptomoedas diferentes do petro. A medida buscaria, além de forçar o uso do petro, capturar parte do fluxo de divisas que se move atualmente na economia. “A deterioração do bolívar é tal que talvez as pessoas prefiram usar dólares mesmo pagando um imposto adicional”.

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