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O ‘Bolt’ das Paralimpíadas é brasileiro e se chama Petrúcio Ferreira

Campeão olímpico e recordista mundial, paraibano chega como atleta mais rápido do atletismo paralímpico e favorito ao ouro nos 100 metros rasos da T47, modalidade para quem tem membro superior amputado

Petrúcio treina com a equipe de atletismo em Hamamatsu, no Japão.
Petrúcio treina com a equipe de atletismo em Hamamatsu, no Japão.ALE CABRAL/CPB
Diogo Magri
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Tokyo 2020 Paralympic Games - The Tokyo 2020 Paralympic Games Opening Ceremony - Olympic Stadium, Tokyo, Japan - August 24, 2021. Evelyn De Oliveira of Brazil leads their contingent during the athletes parade at the opening ceremony REUTERS/Athit Perawongmetha
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A comemoração, que imita um raio com os braços apontando para o alto, é a mesma. Os títulos mundiais, olímpicos e recordes também se equivalem. Por isso, é inevitável assistir a Petrúcio Ferreira, o paratleta mais rápido do mundo, e não se lembrar do multicampeão e multirecordista Usain Bolt, jamaicano que ainda ostenta os recordes de velocidade em provas olímpicas. A diferença é que, enquanto Bolt já se aposentou das pistas, o brasileiro chega no seu auge para os Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020. Aos 24 anos, Ferreira compete nos 100 metros rasos da categoria T47, classe para esportistas com membro superior amputado, onde é o atual campeão e recordista mundial e paralímpico. Para quem se acostumou com a Jamaica dominando as provas de velocidade, é bom saber de antemão: o raio que cairá no Japão, desta vez, vem da Paraíba.

Petrúcio nasceu em São José do Brejo do Cruz, uma cidade com menos de 2.000 habitantes a 400 quilômetros de João Pessoa, capital da Paraíba. Foi o primeiro filho de Rita e Paulo, que viviam em um sítio da região. Como primogênito, chorava se os pais desgrudassem dele quando criança. Tanto que Paulo, às vezes, precisava levá-lo consigo para o estábulo, onde trabalhava moendo capim para o gado. Numa dessas vezes, quando Petrúcio tinha um ano e 11 meses, o pai não viu o filho colocando o braço esquerdo na forrageira, a máquina que tritura o capim. Só ouviu o grito a tempo de tirar o menino e correr para o hospital, já sem uma das mãos. “Quando eu comecei a perceber o que tinha acontecido comigo, já com meus 14 ou 15 anos, eu falava: ‘pai, se aconteceu isso comigo é porque Deus tem um propósito, não adianta você ficar triste, porque isso aconteceu’. O importante é que hoje eu estou aqui contando essa história”, disse o já recordista mundial, em entrevista ao portal Olimpíada Todo Dia.

O garoto não deixou que a deficiência atrapalhasse seu crescimento e logo passou a se destacar no cenário esportivo local, ainda que priorizasse o futebol. Foi representando sua escola em um campeonato fora da cidade que Petrúcio chamou a atenção de um dos organizadores dos Jogos Escolares da Paraíba, que o convidou a conhecer o atletismo paralímpico. “Vi aquele menino franzino, do interior, e mandei ele trotar para aquecer. Ele só precisou dar umas dez passadas... já vi que tinha mola no pé”, conta Pedro de Almeida, que o conheceu na adolescência e treina o paratleta até hoje. Ferreira se mudou para João Pessoa, logo estava competindo pelo Brasil e, na velocidade dos seus sprints, conquistando o mundo.

A ascensão foi tão rápida quanto ele. Aos 18 anos, ganhou ouro no Parapan-americano de Toronto 2015 nos 100 e 200 metros rasos na categoria T47. Um ano depois, veio o triplo pódio na Paralimpíada do Rio de Janeiro, com ouro nos 100 metros rasos, prata nos 400m e no 4x100m. O primeiro lugar veio com o recorde mundial e olímpico da primeira prova, percorrendo os 100m em 10s57. Mas ele provou que a melhor marca de todos os tempos era só o começo. Abaixou o recorde para 10s53 em 2017, quando foi campeão mundial em Londres. E diminuiu para 10s50 em 2018.

O objetivo se tornou alcançar o paratleta mais rápido do mundo —o irlandês Jason Smyth, que compete na classe T13 (para baixa visão) e correu os 100 metros em 10s46 em 2012. Petrúcio diluiu o recorde de Smyth na semifinal do Mundial de 2019, correndo para 10s42, que é o atual recorde. Na final, venceu com um 10s44. Assim, ficou com os dois melhores tempos da história entre todas as categorias do atletismo paralímpico. Para se ter uma comparação, Marcell Jacobs foi campeão olímpico dos 100m rasos em Tóquio 2020 com uma marca de 9s80.

Petrúcio comemora vitória no Mundial de Doha, em 2019.
Petrúcio comemora vitória no Mundial de Doha, em 2019.Daniel Zappe/CPB

“Eu estou me preparando para Tóquio desde que terminou a Rio 2016. Apesar de algumas circunstâncias que aconteceram no meio do caminho, que foi essa situação de saúde que afetou o mundo inteiro. Mas os Jogos Paralímpicos não foram cancelados, apenas adiados por um ano”, disse ele. “Neste meio tempo, eu consegui manter o foco no meu objetivo que é representar o meu país e dar o meu melhor. Então, minha expectativa é muito boa porque os treinos estão fluindo bem”, garantiu o velocista antes de viajar ao Japão.

Petrúcio chegou a ficar sete meses sem treinar em 2020 por conta da pandemia de covid-19, mas já mostrou estar em forma. Na seletiva para a Paralimpíada, em junho deste ano, correu os 100 metros em 10s45, apenas três centésimos acima do seu melhor tempo da vida. Ao lado de Evelyn Oliveira, campeã paralímpica nas duplas mistas da bocha em 2016, o paraibano também representará o Brasil como porta-bandeira na cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos. Petrúcio chega em Tóquio como um nome histórico do paradesporto. Mas, com apenas 24 anos, ele deve chegar ainda mais longe —e ainda mais rápido.

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