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Barril de petróleo supera os 80 dólares pela primeira vez em quase 3 anos

Crescente disparidade entre oferta e demanda prenuncia uma escalada ainda maior nas próximas semanas. Goldman Sachs prevê o Brent a 90 dólares no final do ano

Uma refinaria da Shell em Singapura, em novembro de 2020.
Uma refinaria da Shell em Singapura, em novembro de 2020.ROSLAN RAHMAN (AFP)
Ignacio Fariza

Dois anos e 11 meses. Esse é o tempo transcorrido desde a última vez que o barril de petróleo bruto do tipo Brent superou pela última vez o limite dos 80 dólares (cerca de 430 reais, por um volume de quase 160 litros). Nesta terça-feira, a principal referência petroleira na Europa ultrapassou novamente essa barreira, puxada pela recuperação econômica pós-pandemia, pelas crescentes dúvidas sobre a capacidade de alimentar o suficiente apetite global com a atual oferta ― artificialmente limitada pela OPEP, organização que reúne alguns dos principais produtores ― e pela conclusão de que as reservas existentes são menores do que se estimava. Para trás, bem longe, ficam aqueles dias de abril do ano passado quando a expansão da covid-19 mundo afora obrigava inúmeros investidores a pagarem para se desfazer dos barris que tinham em carteira e aos quais não conseguiam dar saída.

Desde o começo de 2021, o preço do barril tipo Brent acumula uma alta superior a 50%, cifra às quais é preciso somar as altas registradas já na etapa final do ano passado, quando a incipiente recuperação e as notícias positivas sobre a vacina já tinham começado a aquecer os mercados de matérias-primas. Mas nestas últimas semanas dois novos fatores se somaram ao perigoso coquetel que é para o Ocidente o encarecimento da energia ― mais inflação e uma mordida no poder de compra dos consumidores: a crescente demanda da China e da Ásia em geral, e uma crescente preocupação com a possibilidade de desabastecimento de combustíveis no Reino Unido, que fez os alarmes soarem e desatou a formação de estoques motivados pelo pânico. Um ponto a mais de desequilíbrio em um mercado já por si só descompensado.

Apesar da alta acumulada, praticamente ninguém no mercado se atreve a dar a escalada por concluída. O último grande nome a elevar suas expectativas para o petróleo bruto foi o gigante norte-americano do investimento Goldman Sachs, que já aponta para os 90 dólares por barril como próxima meta em um horizonte nada longínquo, o final deste ano. “Embora nossa visão sobre o petróleo sempre tenha sido de alta, o desequilíbrio atual entre a oferta e a demanda é maior do que tínhamos previsto”, escrevem seus analistas em um relatório publicado nesta segunda-feira, horas antes de o Brent superar a cota dos 80 dólares. “O repique vai continuar”, referenda à AFP John Driscollo, da consultoria JTD Energy Services. “Não vejo sinal de que tenha tocado o teto.”

Nem a variante delta do vírus nem os temores sobre gargalos nas cadeias de suprimento que possam afetar o crescimento mundial parecem suficientes para aliviar o viés de alta. A recuperação da demanda global de petróleo bruto tem sido “inclusive mais rápida do que diziam nossos prognósticos”, completam os especialistas em energia do Goldman Sachs. E a escassez de reservas apontadas em recentes leituras dos principais países tampouco ajudou a estabilizar as forças no mercado petroleiro. Pelo contrário.

A influência do gás natural

A subida do gás natural nas últimas jornadas foi a gota d’água para o petróleo. Embora estejam longe de serem substitutos perfeitos um do outro, diante do encarecimento acelerado do gás “alguns países asiáticos estão se lançando a comprar grandes quantidades de petróleo bruto para utilizá-los em usinas de geração de eletricidade com óleo combustível”, diz por telefone Gonzalo Escribano, especialista do Real Instituto Elcano, de Madri.

Diferentemente do que ocorria em outubro de 2018, na última vez em que o cru superou os 80 dólares, desta vez o horizonte parece livre de riscos geopolíticos relevantes para os países produtores. “É tudo uma questão de fundamentos de mercado: muito mais demanda, com os temores sobre um possível ressurgimento do vírus muito atenuados, e oferta restrita pelos efeitos do recente furacão Ida no golfo do México, com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) sem incentivos para aumentar a produção e interessada em ter preços altos, e com produtores de fracking nos Estados Unidos que não estão bombeando como nas outras vezes”, explica Escribano. “Há um pouco de exagero na reação, e os preços podem recuar depois do inverno, mas até então é provável que continuemos vendo altas.”

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