Mario Vargas Llosa entra para a Academia Francesa
O prêmio Nobel hispano-peruano, que ocupará a cadeira 18, será o primeiro membro da instituição que não escreve na língua de Molière
Mario Vargas Llosa será imortal. Literalmente. Os imortais é o nome dado aos membros da Academia Francesa, que hoje aprovou em sessão plenária e à porta fechada a admissão do autor de A cidade e os cachorros e Travessuras da menina má.
É uma revolução para esta instituição fundada no século XVII pelo Cardeal Richelieu e criticada por seu imobilismo. Pela primeira vez em sua história, terá em suas fileiras alguém que não tenha publicado um único livro em língua francesa, cuja defesa e preservação é a razão de ser da instituição.
Vargas Llosa ganhou o primeiro turno de votação com 18 votos de um total de 22, de acordo com uma declaração da Academia. Um mínimo de 20 acadêmicos tinha que estar presente para que a votação ocorresse.
O próximo passo para que a eleição seja válida é a aprovação pelo presidente da República, em uma audiência com o novo acadêmico. Após receber o aval de Emmanuel Macron, Vargas Llosa pode então ser “instalado”, ou seja, tomar posse do assento 18, em uma cerimônia privada em um círculo reduzido. O processo será concluído algum tempo depois em uma cerimônia pública da qual todos os acadêmicos, incluindo o novato, participarão com seus trajes verdes e espadas estabelecidos na tradição do Primeiro Império e na qual o novo imortal fará um elogio ao seu antecessor na cadeira, o filósofo Michel Serres, que morreu em 2019.
A posse definitiva, entretanto, levará tempo, talvez até o primeiro trimestre de 2023, pois há quatro novos membros na lista de espera para a cerimônia antes de Vargas Llosa.
Vargas Llosa, que já é membro da Real Academia Espanhola, não será o primeiro acadêmico estrangeiro na Académie. Alguns, como como Julien Green, Eugène Ionesco, Hector Bianciotti, François Cheng e Maurizio Serra, também escreveram em inglês, romeno, espanhol, chinês e italiano, respectivamente. Mas o novo imortal é o primeiro a escrever exclusivamente em uma língua estrangeira.
O cargo é vitalício. A Academia Francesa tem 40 lugares, dos quais 6 estão vagos. É presidida por um secretário perpétuo, atualmente a historiadora Hélène Carrère d’Encausse.
Com Vargas Llosa, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2010 e colaborador do EL PAÍS há mais de três décadas, a Academia abriu duas exceções a suas regras. A primeira foi admitir um escritor que não escrevesse em francês. A segunda era aprovar um candidato acima do limite de idade de 75 anos. O romancista hispano-peruano tem 85 anos.
A dupla exceção tem suas razões. A admissão de Vargas Llosa é um reconhecimento de um romancista que foi educado na França e que sempre reconheceu sua dívida com a literatura francesa, de Gustave Flaubert a Jean-Paul Sartre e, mais tarde, a pensadores como Raymond Aron e Jean-François Revel, decisivo em sua formação como intelectual liberal, a quem presta homenagem em um de seus últimos livros, La llamada de la tribu, publicado, como quase toda sua obra, por Alfaguara em espanhol e Gallimard em francês. A orgia perpétua, seu ensaio sobre Madame Bovary, é um dos melhores estudos deste clássico do século XIX —o livro foi publicado em 2015 no Brasil pela Companhia das Letras.
Ao acolher Vargas Llosa, os imortais também estão devolvendo o brilho para a instituição. Desde a morte de François Mauriac em 1970, nenhum laureado com o Prêmio Nobel de Literatura tinha assento na Academia. Vargas Llosa também será o único acadêmico a ter seu trabalho publicado na Pléiade, a seleta coleção de clássicos de Gallimard.
O escritor franco-espanhol Pierre Assouline observou em um artigo há alguns dias: “Não é tanto que a Academia está sendo presenteada a Vargas Llosa, mas que Vargas Llosa está sendo presenteado à Academia. É até bastante corajoso por parte dos Quarenta trazer entre eles um romancista que os supera de longe; a foto de família não lhes fará nenhum favor. Basta comparar suas obras e seu brilhantismo”.
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