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‘Soul rebel’, Bob Marley além de ‘Legend’

No 40º aniversário da sua morte, reunimos 20 canções do músico jamaicano que não aparecem na compilação póstuma que o transformou em mito

Bob Marley durante um show em 1980.
Bob Marley durante um show em 1980.Getty


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Bob Marley is pictured in the backyard of his home and Wailers/Tuff Gong HQ at 56 Hope Road, in Kingston, Jamaica on an unknown date in 1979 in this handout photo obtained on February 5, 2020.  Adrian Boot/Fifty-Six Hope Road Music Ltd./Handout via REUTERS. THIS IMAGE HAS BEEN SUPPLIED BY A THIRD PARTY.  NO RESALES. NO ARCHIVES. MANDATORY CREDIT
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Todo mundo conhece Bob Marley. Ou talvez fosse mais correto dizer que Bob Marley é conhecido em todo o mundo. Nesta terça-feira se completam 40 anos do dia em que um câncer matou o músico jamaicano. Dezenas de milhares de pessoas acompanharam seu cortejo fúnebre em Kingston, e por causa da comoção nacional o Parlamento da ilha caribenha adiou por uma semana o debate sobre o orçamento governamental. Em vida, já se falava dele como o primeiro superastro saído do Terceiro Mundo. Mas sua morte prematura, devida pelo menos em parte a que suas crenças religiosas o impediam de receber um tratamento adequado para a sua doença, terminou por transformá-lo numa lenda que nunca se desvaneceu. Ainda hoje ecoa nos lugares mais recônditos do globo. Em muitos países da América Latina, África e Ásia, é um mito muito superior aos Beatles.

Mas, apesar de ter lançado 12 álbuns no mercado mundial entre 1973 e 1981 (sem contar Confrontation, que só saiu após sua morte), a maior parte desse sucesso se deve a uma coletânea póstuma, Legend. O álbum chegou às lojas em 8 de maio de 1984, e inicialmente sua entrada nas listas de vendagem não foi muito chamativa: 58ª posição nos Estados Unidos. Só que nunca mais parou de vender.

Em maio de 2014, entrou pela primeira vez no Top 10 dos EUA. Na verdade, isso se deveu a uma armadilha com a qual os herdeiros do músico não tiveram nada a ver. Para comemorar o 30º aniversário do seu lançamento, a plataforma Google Play pôs o disco à venda durante uma semana por menos de 1 euro (6,36, pelo câmbio atual). Teoricamente essas vendas não deveriam ter sido contabilizadas ―só são contados discos que valem mais de 3 euros―, mas o Google Play havia comprado da gravadora Universal, pelo preço integral, as 40.000 cópias que vendeu naquela semana.

De todo modo, não era preciso nenhuma maracutaia para fazer história. Naquele ano a Billboard estimou que só nos EUA haviam saído quase 27 milhões de cópias. O disco vendia entre 3.000 e 5.000 exemplares por semana, e já somava 500 delas na lista. Em agosto de 2020 foram certificadas as 33 milhões de cópias. Naquele ano foram contabilizadas 148.000 discos em vinil. Se há algo que ninguém discute é que Legend é o disco de reggae mais vendido da história.

Todo o resto já foi discutido. Legend dá uma visão parcial da carreira de Marley. É verdade que inclui canções de leitura política (Get up, stand up, I shot the sheriff, Buffalo soldier e Redemption song), mas em geral a imagem que transmite é a da foto da capa: um Marley sorridente e colorido. A versão original incluía 14 canções em suas versões curtas, pensadas para a rádio. Entre elas, 10 das 11 que entraram nas listas britânicas. Mas não inclui suas canções com letras mais diretas, deixa os primeiros discos de escanteio e ignora o mais político dos últimos, o pan-africanista Survival (1979), embora nele apareçam tantas canções enormes que quase poderia ser tomado por um greatest hits. Legend forjou um mito, mas também banalizou sua música, que para muitos é sinônimo de quiosque praiano.

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E era muito mais do que isso. Apesar de ter morrido com apenas 36 anos, Marley deixou uma discografia extensa e arrevesada, cheia de canções que dão para muito mais do que se ouve em Legend. Marley, com todas as suas contradições, tirou o rock do Primeiro Mundo. Era um astro do Caribe que se dirigia a todo o planeta. Esta é uma lista cronológica de outras 20 faixas que não entraram naquela compilação, mas poderiam ter entrado. Percorre toda a sua trajetória, começando com Soul rebel e How many times?, dois temas de sua época jamaicana, embora algumas outras, como Sun is shining, que aqui aparece na versão de Kaya (1978), procedessem desses anos, antes que Chris Blackwell o contratasse para o seu selo Island e juntos adaptassem seu reggae ao gosto estrangeiro.

Algumas, como Ride natty ride e Lively up yourself, ainda soam cruas e antigas, mas mesmo quando ele parece místico ou severo as canções de Bob Marley têm algo de reconfortante e profundamente otimista. Marley celebrava a derrota como uma antecipação de uma vitória que estava por chegar. E, como ele mesmo dizia em Trenchtown rock: “Uma das coisas boas da música é que bate, mas não machuca. Então me bata com música”.

O autor deseja agradecer a Pedro Torquemada Alonso por sua colaboração na seleção das canções desta lista.

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