_
_
_
_

Disney sai do armário em ‘Love, Victor’

Primeira série com protagonista ‘queer’ da produtora renuncia ao tom trágico habitual em produções desse tema

Michael Cimino y Anthony Turpel, en un instante del primer capítulo de 'Con amor, Victor'.
Michael Cimino e Anthony Turpel, em imagem do primeiro capítulo de 'Love, Victor'.Mitchell Haaseth (DISNEY)
Tom C. Avendaño
Mais informações
Retrato familiar de Mia Farrow, Woody Allen y sus hijos Satchel (después Ronan) y Dylan realizado a inicios de 1988.
Série da HBO reabre acusação contra Woody Allen por abuso sexual
Una imagen de 'Lovers Rock', la segunda entrega de 'Small Axe'.
A música que dá ritmo a ‘Small Axe’, a celebrada série de Steve McQueen
O roteirista e cineasta Cao Hamburger, criador de 'As Five', e as protagonistas da série, de esquerda à direita: Daphne Bozaski, Manoela Aliperti, Heslaine Vieira, Gabriela Medvedovski e Ana Hikari.
Cao Hamburger põe o dedo nas feridas da geração Z

Victor Salazar, o protagonista da nova série para adolescentes da Disney, é latino em um país para brancos; aluno de classe média baixa bolsista em um colégio para ricos e possivelmente gay em um mundo para heterossexuais. Não tem total certeza da última questão. Menos ainda quando a garota mais popular do colégio começa o ano letivo paquerando-o: seu único passaporte ao status.

Love, Victor é a continuação de Com amor, Simon, uma comédia romântica de 2018 que contava a saída do armário de um adolescente nas melhores condições possíveis. Essa sequela em forma de série se coloca na situação contrária. “Ainda não há tanta representação latina na televisão, e com esse tipo de série pretendíamos ser parte da solução a esse problema, a essa falta de diversidade”, diz por Zoom ao EL PAÍS Elizabeth Berger, roteirista dos dois projetos. O resultado é que, se a identidade sexual é hoje em dia inseparável da econômica e da racial, Victor é um símbolo de interseccionalidade. A única minoria a que parece não pertencer é a de ser rico.

Essa amálgama de problemas é, entretanto, o que dá asas à série. A alienação econômica de Victor, por exemplo, é o que agrava as consequências sociais de sair do armário. “Se você já é o que sobra por ser o único do time de basquete que não pode pagar o equipamento, quer realmente se diferenciar ainda mais anunciando esta outra parte de si mesmo? Quando a outra opção é estar com a garota mais popular do colégio?”, diz o outro diretor da série, Isaac Aptaker.

O outro problema está em sua casa. Sua família não é totalmente homofóbica, mas também não parece achar tudo bem ter um gay em suas fileiras. O dilema identitário de Victor não é o quanto vai sofrer por anunciar sua sexualidade, e sim o quanto seus pais vão sofrer. “Victor vê a si mesmo como uma rocha em sua família. Algo que está sempre aí, inalterável”, descreve Berger. “Há muita confusão familiar ao seu redor e sua própria mãe já lhe disse, ‘Fico tão feliz por ter você, nunca preciso me preocupar contigo’. Coloca nele uma pressão enorme para que seja o bom filho, para que não balance as coisas. Por isso Victor tem tudo tão enterrado. Tem medo de assustar seus pais.”

Apesar de tudo isso, Love, Victor —a primeira série da Disney protagonizada por um personagem queer e que no Brasil deve estrear em junho— não renuncia ao tom otimista e relaxado das produções da casa. O normal nas histórias LGBTQ costuma ter um componente sombrio e melancólico, quando não diretamente trágico (o tópico de matar personagens homossexuais em ficções televisivas está mais do que provado). O que parece pedir algo tão traumático como sair do armário. As primeiras críticas da série, que estreou em 2020 nos Estados Unidos, foram nesse sentido: era uma comédia adolescente correta, mas com gentileza de sobra e sem a perversão historicamente associada à cultura queer.

Apoie a produção de notícias como esta. Assine o EL PAÍS por 30 dias por 1 US$

Clique aqui

Isso também foi dito de Veneno e It’s a Sin, as outras duas grandes séries LGBTQ do último ano, e dois dos maiores sucessos de público, hetero ou não, do gênero, possivelmente graças a essa acessibilidade calculada. “Eu e Isaac somos fãs de séries mais sombrias, que vão, e abro aspas, além. Adoramos Euphoria. Mas não é o que queríamos fazer aqui. Queríamos fazer uma série que desse esperança, que te fizesse sentir bem em relação ao futuro e à continuação de sua própria vida. Que te faça sentir bem por quem você é. Que você pudesse falar de si através dela com seus pais, com seus irmãos”, avisa Berger.

Aptaker alerta: “Nunca dissemos: ‘Precisamos nos dirigir a um público generalista’. Estamos contando a história de um garoto de 15 anos que está muito, muito no começo da viagem identitária, e no piloto não sabe se gosta de meninas ou meninos, ou os dois. Está investigando, e nesse sentido não nos parecia honesto que a história fosse por vias sexuais. Ou, chamando-a de uma maneira, explicitamente gay. É reprimido, precisa sair do armário em uma pequena cidade do Texas e não tem uma referência gay que o faça pensar: ‘Minha vida será assim’. Deveríamos ter calma”.

Aptaker e Berger, também diretores de This is Us, são brancos contando uma história de latinos. “Por isso, criamos uma equipe de roteiristas cheia de vozes LGBTQ e latinas, com vidas, famílias e infâncias que pudessem se projetar diretamente na de Victor”, defende Aptaker. “As pessoas comparam essa escrita coletiva a fazer terapia em grupo: não estou totalmente de acordo. No final das contas, nosso objetivo é construir uma série e contar uma história. Não é um processo livre. Mas é terapêutico. As pessoas se abrem, falam de partes difíceis de sua vida e adolescência. E se mostram vulneráveis.”

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_