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Debbie Harry: “Superei tudo graças à confiança em mim mesma. Decidi que nada me pararia”

A voz de Blondie é uma fonte inesgotável de histórias e um ícone da cultura pop. Em sua autobiografia, ‘Face it’, revela que acha que entrou no carro do assassino serial Ted Bundy

Debbie Harry, a voz da Blondie, em 1978.
Debbie Harry, a voz da Blondie, em 1978.GETTY

Foi uma garota adotada que sonhava em ser a filha secreta de Marilyn Monroe, seu ícone; por ela decidiu usar o cabelo loiro platinado e Deborah Harry subiu ao palco com a banda Blondie. Viveu, e protagonizou, a efervescência da Nova York dos anos setenta em locais como o CBGB e hoje, aos 75 anos, afirma entre risadas que continua sendo a punk perfeita. “Acho que é porque não gosto de seguir ninguém, prefiro pensar por mim mesma. Sempre considerei que a essência do punk era ser independente”, diz enquanto pensa sobre a crise sanitária que paralisou o mundo: “Isso me preocupa, é tudo muito confuso, gostaria que tivéssemos mais informação, mais ciência (...). Não tenho certeza sobre o que ocorrerá, mas espero que Trump não vença as próximas eleições, que votem para tirá-lo”.

A cantora e atriz não hesita em expressar suas opiniões e revelar detalhes difíceis de sua vida, como pode ser lido em sua autobiografia, Face It. Nela conta que foi estuprada no apartamento que dividia com seu namorado, Chris Stein, guitarrista do Blondie, e que escreveu seu hit One Way or Another pensando em um ex ciumento e agressivo que a assediava e controlava suas contas de telefone. “Retrospectivamente não me sinto como uma vítima porque consegui superar tudo graças ao tipo de vida que tive a sorte de ter. Mas nesses momentos me senti vitimizada em certa medida, ainda que para meu próprio crédito sinto que superei tudo graças à confiança em mim mesma e à minha determinação. Estava decidida a não deixar que nada me parasse”. Conseguiu. Debbie Harry marcou uma época, foi retratada por Warhol, há camisetas com seu rosto. O que sentiu ao ver sua imagem transformada em símbolo da cultura pop? “Inicialmente surpresa, mas suponho que se trata de uma das coisas que todo artista deseja que aconteçam quando começa a tocar”.

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“Conheci muita gente interessante porque estava no lugar certo na hora certa”, afirma. No começo, andou com toda a fauna na Nova York dos setenta, dos Ramones aos New York Dolls e Iggy Pop. Com esse último e David Bowie fez a primeira turnê da Blondie, e no livro lembra que lhe pediram cocaína e, depois de usá-la, Bowie lhe mostrou seu pênis. Pensou duas vezes antes de colocar uma cena dessas no livro? “É um momento especial de minha vida que guardo. Como a maioria das pessoas no mundo, amo Bowie e sua música. Sou uma grande fã, e pensei que se tratava de uma história muito doce e íntima, por isso queria contá-la”, argumenta. Também fala de seu vício em heroína; de que uma vez entrou no carro de um homem que, tem certeza, era o assassino em série Ted Bundy – “Um instinto animal me fez fugir, me disse que precisava escapar”, diz –, e que se considera uma psíquica – “Tenho intuições. Aparecem ideias de lugar nenhum que acabam sendo verdade. Tem muito a ver com ser sensível e lógico ao mesmo tempo. Tive muitas experiências inexplicáveis ao longo de minha vida” –.

A moda, que a ajudou a criar esse personagem atrevido e enigmático que brilhava no palco, é fundamental para ela. “Conservo praticamente todas as peças que usei em meus shows ao longo dos anos e gosto de voltar a vê-las de vez em quando. A moda me faz sentir bem, simples assim”, reconhece. Além das lojas de segunda mão, o estilista Stephen Sprouse foi seu grande cúmplice de estilo: “Adorava vê-lo desenhar esboços, sempre colocava música, e era divertido ver como sua mão acompanhava a melodia, traduzia a música em roupa”.

A arte foi outra de suas paixões: foi retratada por Obey e Warhol, comprou um dos primeiros quadros de Basquiat por 300 dólares... “Eu o vendi, foi uma pena porque no mercado atual seria muito valioso”, diz entre gargalhadas. Porque, mesmo perdendo sua casa por problemas com o fisco, Debbie Harry é pragmática, afirma que prefere não pensar no que poderia ter ocorrido: “Não sou o tipo de pessoa que se preocupa com remorsos. Minha vida foi muito boa”.

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