Navio científico estuda o alcance da lava do vulcão de La Palma no mar: “É impressionante”
Os pesquisadores do ‘Ramón Margalef’ pretendem registrar as mudanças na acidez e na temperatura da água
“É impressionante. Para um geólogo, é algo histórico”, diz Juan Tomás Vázquez após uma noite de intenso trabalho científico, mas também de assombro humano, perante a chegada da lava do vulcão Cumbre Vieja ao oceano. Vázquez está a bordo do navio oceanográfico Ramón Margalef, que ancorou no sábado passado em frente ao litoral ocidental da ilha espanhola de La Palma justamente para estudar este fenômeno. Nas primeiras 72 horas, seus tripulantes trabalharam sem descanso, noite e dia, para capturar uma fotografia muito detalhada do antes da lava. Agora, sem parar, já estão analisando o depois.
Vázquez, geólogo marinho do Instituto Espanhol de Oceanografia (IEO, ligado ao CSIC, a agência espanhola de pesquisa científica), conta que a equipe estava trabalhando com o barco mais ao sul, mapeando o leito submarino na zona onde poderiam encontrar sinais dos efeitos do magma: fissuras, emissões de gases ou deformações provocadas por sua pressão. “Estávamos nessa zona de possível impacto quando nos avisaram de que a lava já ia ladeira abaixo, que era iminente a chegada ao mar, e fomos para lá controlar todo o processo”, diz.
Passaram a noite inteira trabalhando diante da língua de fogo, como mostram as imagens compartilhadas nas redes sociais pelas contas oficiais do IEO-CSIC e pelos cientistas individualmente. “Não afetou imediatamente, não registramos efeitos instantâneos da lava na lâmina de água”, observa Vázquez. “Só esperamos que esses efeitos comecem a ser notados após 12 horas”, acrescenta. O mais provável e imediato, esperam os cientistas a bordo do Margalef, é um aquecimento da água (que agora está 25o C) e um aumento da acidez associada aos gases produzidos pelo fluxo de lava.
Um novo delta
Após essa primeira observação da cascata magmática, o geólogo marinho afirma que a ilha está ganhando do mar uma língua de terra em forma de leque: “Há um delta de lava que está crescendo na direção do mar, mas também lateralmente”.
“Vamos tentar nos aproximar um pouco do fluxo, com todas as medidas de segurança que forem necessárias”, explica Vázquez. A intenção é traçar um primeiro mapeamento do que está acontecendo à medida que esse rio de rochas fundidas despenca no Atlântico. “É provável que estejam ocorrendo desprendimentos submarinos, queremos ver”, acrescenta.
Felizmente, a equipe do Vázquez conseguiu concluir uma radiografia de alta resolução dos recursos marinhos nessa zona, trabalhando dia e noite, para obter essa batimetria de alta resolução. Agora, poderão comparar e detalhar como e onde se gera esse novo delta magmático em La Palma. “Tínhamos que agir antes que a possível lava chegasse à zona submarina e nos obrigasse a nos afastarmos”, dizia na segunda-feira Olga Sánchez, geóloga marinha do IEO-CSIC em Málaga, depois de passar duas noites construindo esse mapa submarino. “Tivemos que trabalhar com pressa, mas por sorte afinal a lava não chegou”, relatava ela à reportagem do EL PAÍS, que pôde vê-los trabalhar a bordo do Margalef.
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