Governo decide vacinar apenas grávidas com comorbidades usando Coronavac e Pfizer. Oxford/AstraZeneca está vetada

Diretriz do Ministério da Saúde foi anunciada após caso de gestante que morreu de trombose após receber dose da Oxford/AstraZeneca. Ligação entre imunizante e reação ainda está sendo investigada

Paolo Aguilar ((EPA) EFE)

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O Ministério da Saúde anunciou nesta terça-feira que a vacinação contra covid-19 em gestantes será restrita, temporariamente, apenas a grávidas com comorbidades e somente com os imunizantes Coronavac e Pfizer. A vacinação com o fármaco Oxford/AstraZeneca está proibido após “evento adverso grave”. A pasta investiga o óbito de uma gestante no Rio de Janeiro por trombose, após ela receber o imunizante de tecnologia britânica e o segundo mais utilizado no país. Gestantes sem complicações de saúde e puérperas saem, por ora, do grupo prioritário de vacinação. A decisão foi comunicada em coletiva de imprensa pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e por Francielle Francinato, coordenadora do Programa Nacional de Imunização, que salientaram que esse “evento adverso grave” é “muito raro” e que “o Ministério da Saúde tem total confiança na segurança e eficácia dos três imunizantes usados no país”. O anúncio da pasta veio depois que a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou, na noite de terça-feira, a suspensão imediata do uso da vacina da AstraZeneca em gestantes em geral, que haviam sido incluídas como grupo prioritário na vacinação no mês passado.

Na manhã desta terça, os Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro já haviam suspendido a vacinação contra a covid-19 em grávidas com comorbidades com todas as vacinas disponíveis no Brasil. Os Estados não explicaram porque não estão seguindo a imunização com as outras vacinas disponíveis no país, mas a prefeitura da capital paulista, onde a vacinação começaria nesta terça-feira, afirmou que não há doses de Coronavac ou da vacina da Pfizer previstas para o público. Ainda não há previsão de quando as gestantes poderão ser vacinadas. Nesta terça-feira, grávidas com comorbidades que procuraram os postos de saúde em São Paulo foram surpreendidas pela informação e deixaram os locais de vacinação frustradas.

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A Prefeitura de São Paulo informou que a suspensão será mantida até que ocorra uma nova orientação do Programa Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde sobre a vacina da AstraZeneca, o que só ocorreu na noite de hoje. Ainda de acordo com o órgão, a suspensão não afeta a vacinação das puérperas (mulheres no período pós-parto, até 45 dias após o nascimento dos bebês) com comorbidades, que também se inicia nesta terça. Na capital do Rio, no entanto, a vacinação deste grupo também foi suspensa. O PNI segue as orientações da Anvisa, que afirmou que a bula do imunizante deve ser seguida. No caso da AstraZeneca, neste momento, grávidas não estão incluídas na bula. A Anvisa orienta ainda que gestantes só tomem a vacina com recomendação médica.

A decisão da Anvisa gerou impactos em outros Estados e municípios. Segundo o portal G1, no Acre, a capital Rio Branco teve que suspender a vacinação do grupo já que não possui outros imunizantes, além da AstraZeneca, disponíveis. Em Maceió, no Alagoas, a vacinação do grupo está sendo feito exclusivamente com a vacina da Pfizer, assim como em Manaus (Amazonas). Em Goiás, Rio Grande do Sul e Sergipe, a AstraZeneca também já havia sido suspensa e as gestantes estavam sendo orientadas a procurar postos que ainda possuem a vacina da Pfizer. No Mato Grosso do Sul as gestantes estão sendo vacinadas com a Pfizer. Na Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, o imunizante da AstraZeneca foi suspenso e há falta do outras vacinas contra a covid-19 para o grupo de gestantes.

Gestantes frustradas

Com expectativa de finalmente ser vacinada, Alessandra Birolli, de 33 anos, e 29 semanas de gestação, chegou cedo, por volta das 7h da manhã, a um posto de saúde do bairro de Pinheiros, na Zona Leste da capital, trazendo os documentos que confirmavam sua comorbidade ―qualquer condição de saúde, como diabetes, por exemplo, que torne o grupo ainda mais vulnerável a desenvolver uma versão mais grave da doença. Ao ser informada que só havia no local a vacina da AstraZeneca, ela resolveu se dividir com o marido e procurar algum lugar que aplicasse outros imunizantes contra a covid-19. As tentativas, no entanto, foram frustradas. Por volta das 8h, uma enfermeira de outro centro de Saúde no bairro de Pinheiros informou que as gestantes podiam voltar para a casa, porque não poderiam ser imunizadas até uma nova decisão do poder público. “Mais uma frustração. Aqui em São Paulo o secretário já tinha comunicado numa outra vez que todas as gestantes estariam liberadas e não passou essa ordem para os postos... Ele falou isso na TV, mas na publicação colocou que eram só as gestantes pertencentes aos grupos prioritários. Sem saber disso, eu já tinha ido a postos de saúde há 2, 3 semanas atrás tentando sem sucesso. Mais uma vez fiquei frustrada, desanimada, cansada”, afirmou Birolli à reportagem do EL PAÍS.

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Dados do Observatório Covid-19, com base em estatísticas oficiais, indicam que as mortes de gestantes e puérperas dobraram até agora em 2021, em relação ao ano passado. Passou de 10,4 óbitos semanais (449 mortes em 43 semanas de pandemia de 2020) para 22,2 semanais nas primeiras semanas deste ano, com 289 mortes. No fim de abril, as grávidas entraram no grupo prioritário de vacinação contra covid-19 no Brasil justamente por causa desses números. O Ministério da Saúde diz que o benefício da vacinação das grávidas com comorbidades é bem maior que o risco.

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) reconhece uma “possível ligação” entre esta vacina da AstraZeneca e casos muito raros de coágulos sanguíneos associados a baixos níveis de plaquetas. Cerca de 223 casos de coágulos tinham sido contabilizados entre 35 milhões de doses administradas na União Europeia, mais ou menos um caso a cada 175.000 imunizados, uma incidência muito baixa. Seja como for, a maioria dos afetados são mulheres relativamente jovens. A UE segue aplicando a vacina da AstraZeneca na população em geral.




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