Governo Bolsonaro vence primeiro round com caminhoneiros e greve tem baixa adesão no país
Ministério da Infraestrutura e a Polícia Rodoviária Federal registraram poucos atos e problemas nas rodovias federais. Lideranças afirmam que alguns profissionais optaram por ficar em casa
A greve de caminhoneiros marcada para esta segunda-feira (1) teve pouca adesão em todo o país. Convocada por entidades que representam a categoria para pressionar o Governo Bolsonaro a atender algumas reivindicações, como a redução do preço do óleo diesel e a fiscalização do piso do frete, a paralisação não teve apoio da maioria dos profissionais para alívio do Planalto, que tem a categoria como aliada de sua gestão. O Ministério da Infraestrutura e a Polícia Rodoviária Federal, que monitoraram o movimento, registraram poucos atos e problemas nas rodovias federais.
Breves bloqueios parciais aconteceram em algumas localidades, como, por exemplo, em um trecho da BR-304 próximo a Mossoró, no Rio Grande do Norte. Segundo o Ministério da Infraestrutura, um grupo de manifestantes bloqueou parte da via por cerca de uma hora, sendo necessária a intervenção de policiais rodoviários federais para desobstrui-la.
Em São Paulo, caminhoneiros interromperam no início da manhã o fluxo de duas faixas da Rodovia Castello Branco, na altura de Barueri, e protestaram contra o governador de São Paulo, João Doria. Além da redução da cobrança de PIS/Cofins sobre o óleo diesel e aumento na tabela do piso mínimo do frete, os caminhoneiros pediam a redução do ICMS, imposto estadual, sobre o combustível e também a redução na tarifa dos pedágios estaduais e o melhoramento das vias estaduais.
“Os caminhoneiros hoje só recebem apoio do Governo Federal, infelizmente. Em todos os Estados as rodovias são um lixo. O presidente Bolsonaro vem ajudando a categoria, ele faz até onde pode. Ele melhorou a questão do radar, da renovação da carta, a gente apoia o Bolsonaro”, afirma o caminhoneiro Marcio de Faria, que participou do ato em Baurueri. De acordo com o motorista, muitos caminhoneiros ainda estão chegando para a paralisação, que ele espera durar até que algum acordo seja concluído. “Se não chegarmos a um consenso, essa greve vai ficar pior do que em 2018. Não tem data para a gente parar”, disse. Em maio de 2018, centenas de caminhões pararam nas estradas do Brasil como protesto contra os sucessivos aumentos no preço do combustível. O ato durou 11 dias e criou grandes prejuízos econômicos para o país.
Na semana passada, entidades como a Confederação Nacional dos Caminhoneiros e Transportadores Autônomos (Conftac) e a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) divulgaram nota afirmando que o movimento não era oportuno, em meio à crise gerada pela pandemia do coronavírus, “apesar de a categoria sofrer com os altos preços do combustível, decorrentes de uma carga tributária abusiva”. Ailton Gomes, presidente do Sindicato dos transportadores de combustível do Rio de Janeiro, afirmou que o grupo não irá participar da greve. “Bolsonaro já conseguiu baratear os pneus e está vendo a questão do PIS/Cofins do diesel. Acho que agora são questões estaduais”, diz.
A Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava) também informou no fim da semana passada que não iria participar da paralisação. Segundo a associação, alguns grupos estão aproveitando o movimento de luta para garantia do cumprimento de leis da categoria e de redução de impostos de combustíveis para incluir pautas como fora Bolsonaro, João Doria e fechamento do STF. “Estão tentando utilizar a categoria de caminhoneiros como massa de manobra e perdendo o objetivo de luta de direitos da categoria”, diz a Abrava em nota.
Já as entidades que lideram o movimento desta semana sustentam que a paralisação deve ganhar força. O Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) divulgou nas redes sociais vídeos exibindo caminhões parados em estacionamentos à beira de estradas e de pequenos grupos de pessoas protestando em diferentes pontos do país. Representantes dessas entidades alegam que parte dos caminhoneiros que aderiram à paralisação optou por permanecer em casa e, que por isso, não houve grandes bloqueios ou congestionamentos em estradas.
A pauta de reivindicações dos caminhoneiros não se resume ao valor do diesel. Entre as demandas, estão questões como fiscalização do piso do frete, incentivo à renovação de frota e crédito para a manutenção dos caminhões, melhoria das rodovias e conclusão do Documento de Transporte Eletrônico (DTE).
Teste para o Governo Bolsonaro
Apesar do Governo ter avaliado, desde a semana passada, que o movimento estava sob controle, um áudio do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que começou a circular no último domingo em grupos de WhatsApp da categoria ―em que ele diz que não iria atender a nenhum item da pauta dos motoristas que anunciaram greve―, gerou incertezas. A fala poderia inflamar o movimento.
Nesta segunda-feira, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Augusto Heleno, tentou colocar panos quentes no episódio e escreveu, no Twitter, que “o Governo federal respeita as aspirações dos caminhoneiros” e que o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Tarcísio de Freitas, “vão buscar, junto à área econômica, recursos legais para reduzir despesas que recaem sobre esses abnegados trabalhadores, essenciais ao dia a dia do país”.
Há dias o presidente tem feito sucessivos apelos aos caminhoneiros, que sempre foram seus aliados, para que a categoria desistisse da paralisação. Para tentar bloquear o ímpeto grevista, o presidente afirmou que pretende reduzir os impostos sobre o diesel para aliviar o bolso dos trabalhadores e compensar a alta de 4,4% do preço do combustível ocorrida na última terça-feira. Explicou, no entanto, que a conta para retirar os impostos não é fácil. Cada centavo na redução do PIS/Cofins sobre o diesel representa um impacto de 800 milhões de reais nas contas públicas, que já estão no vermelho há seis anos. Um peso alto diante de uma crise econômica que já se agudiza com a pandemia de coronavírus.