Sebastião Melo bate Manuela em Porto Alegre e já promete tentar evitar novo ‘lockdown’ na cidade

Futuro prefeito, do MDB, afirma que criará um comitê de ciência e economia para tomar “as melhores decisões” sobre covid-19. Com 45% dos votos, Manuela transcendeu debate local e se firmou como renovação da esquerda

Sebastião Melo (MDB), eleito prefeito de Porto Alegre, faz discurso da vitória um hotel em frente à rodoviária da cidade.MATEUS RAUGUST (Divulgação)


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Com mais de 370.000 votos a seu favor, Sebastião Melo (MDB) será o 11º prefeito da era democrática em Porto Alegre. O deputado estadual bateu Manuela d’Ávila (PCdoB) no segundo turno por 54,6% a 45,4%, na eleição mais apertada dos últimos anos na capital do Rio Grande do Sul. O resultado foi um banho de água fria na militância de esquerda na capital do Rio Grande do Sul, que alimentava grande expectativa depois que uma pesquisa Ibope, divulgada na noite de sábado (28), apontou empate técnico entre as candidaturas, com ligeira vantagem para a candidata comunista.

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“Recebo essa vitória com muita humildade. Vou olhar para todos, mas especialmente para os que mais precisam nessa cidade”, agradeceu Melo em sua primeira manifestação após a confirmação do resultado. O candidato também saudou a adversária, com que tem “uma boa relação”.

O discurso da vitória foi feito em um hotel em frente à rodoviária de Porto Alegre —um local simbólico para o primeiro prefeito da capital do Rio Grande do Sul nascido fora do Estado. Natural da pequena Piracanjuba, em Goiás, Melo vive em Porto Alegre há 42 anos. “Foi aqui que eu desci de um ônibus da Penha em 1978 e vim vencer na vida nessa cidade”, recordou.

Foi na capital gaúcha que o prefeito eleito se filiou ao Movimento Democrático Brasileiro e “se alistou nas fileiras de combate à ditadura”, conforme contou ao EL PAÍS. Militou em movimentos comunitários, elegeu-se três vezes vereador da cidade, foi presidente da Câmara Municipal em duas oportunidades e chegou à vice-prefeitura em 2013.

Agora, a partir de 1º de janeiro, terá o desafio de comandar a cidade em conjunto com sua aliança conservadora. Melo tem o apoio do Democratas, partido do próximo vice-prefeito Ricardo Gomes e do ministro da Cidadania Onyx Lorenzoni. Também compõe sua aliança o PRTB do general Hamilton Mourão, vice-presidente da República.

Às duas autoridades do Governo de Jair Bolsonaro ele dirigiu especiais agradecimentos no discurso. E avisou que vai pedir a apoiadores bolsonaristas —caso do deputado federal Bibo Nunes (PSL)— uma audiência com o presidente da República já na quarta-feira desta semana. Segundo Melo, “o tema principal” da conversa deverá ser a compra da vacina para a covid-19. “Estou muito convencido que o Governo federal vai comprar a vacina. Mas, se presidente não comprar, vamos fazer um consórcio de prefeituras da Região Metropolitana para garantir vacina para todos”, prometeu.

A posse de Melo se dará em meio ao recrudescimento da pandemia na capital, com repercussões na saúde e na economia da cidade. Na última sexta-feira, o mapa do distanciamento controlado formulado pelo Governo do Estado, pela primeira vez desde o início da crise sanitária todo o Rio Grande do Sul, aparece totalmente pintado de vermelho—sinal de risco elevado de contaminação. Na sexta-feira, o governador Eduardo Leite (PSDB) admitiu que os gaúchos estão diante de uma “segunda onda” da covid-19.

Ao EL PAÍS, antes da eleição, Melo reconheceu que “a pandemia é séria”, mas emendou dizendo que “a economia também tem que ser levada em conta”. Na semana em que Porto Alegre retoma medidas para reduzir o contato pessoal e a transmissão do vírus, com restrições a eventos sociais, o novo prefeito vai precisar costurar um plano evitar o lockdown (“não quero isso de jeito nenhum”) e conter o crescimento do número de infectados, mortes e leitos ocupados. Por isso, assegurou que criará um comitê de ciência e economia para tomar “as melhores decisões”.

Reta final emocionante acendeu militância da esquerda

Melo não pode ser considerado um azarão nas eleições 2020, mas não era franco favorito. De início, dividia a segunda colocação em pesquisas eleitorais com outros dois candidatos ―o atual prefeito, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), e o ex-prefeito José Fortunati (PTB), de quem foi vice, entre 2013 e 2016. Mas a desistência do antigo aliado poucos dias às vésperas do primeiro turno o favoreceu. Terminou a apuração com ligeira vantagem, 13.000 votos, sobre a adversária e consolidou a posição de líder ao obter a adesão de quatro adversários à sua candidatura no segundo turno.

Apesar da desvantagem inicial, na última semana cresceu a expectativa da militância de esquerda em Porto Alegre, que voltou às ruas com força depois de muitos pleitos em que ficou mais tímida. O que foi reconhecido por Manuela d’Ávila no discurso em que reconheceu a derrota, pouco antes das 19h: “Vocês foram incansáveis, tomaram as ruas da nossa cidade de uma maneira que não víamos há muito tempo”, elogiou.

No segundo turno, Manuela conseguiu formar uma frente ampla que contava tanto com partidos que possuem propostas mais à esquerda que as do seu PCdoB, como o PSOL, como aqueles mais ao centro, caso do PDT. Uniu também os ambientalistas do PV e angariou apoios nacionais de artistas e presidenciáveis.

Sua candidatura transcendeu o debate local e angariou apoios de artistas como Chico Buarque e Caetano Veloso, além de ter unificado vozes de três candidatos à presidência da República em 2018: Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), além de Fernando Haddad (PT), ao lado de quem, em 2018, Manuela enfrentou Jair Bolsonaro como candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad. Agora, deu mais uma mostra de popularidade e liderança entre a esquerda e termina a campanha como porta-voz da rejeição ao bolsonarismo. “Enxergar a esperança no olhar de homens e mulheres é o que vai nos inspirar para trabalhar por Porto Alegre e pelo país”, prometeu, ao final da fala em que também desejou sorte ao novo prefeito na gestão que se inicia em janeiro de 2021.


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