_
_
_
_

O nem príncipe nem vice da política brasileira

O deputado Luiz de Orléans e Bragança ouviu do próprio presidente que este queria tê-lo como vice em sua chapa nas eleições de 2018, mas desistiu de última hora. O motivo seria um suposto dossiê com fotos

Luiz Philippe de Orleans e Bragança em outubro de 2018.
Luiz Philippe de Orleans e Bragança em outubro de 2018.
Carla Jiménez
Mais informações
Bolsonaro anuncia saída do PSL e seus planos de fundar sigla Aliança pelo Brasil
Cúpula dos Brics expõe falta de coesão do bloco e indiferença com crise da região

O deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança estreou na política em 2018 exibindo seu currículo de “quase príncipe”. Bragança descende da família real brasileira, que governou o então Império até 1889. Em 15 de novembro daquele ano, um grupo de militares contrários à monarquia proclamou a República, em uma mudança tão radical de sistema de Governo que os reis e princesas no Brasil só sobreviveram nos livros infantis. Mas uma ironia marcou esta semana a vida do deputado de sangue real, que se elegeu com 118.457 votos pelo Partido Social Liberal (PSL), o mesmo partido do presidente ultradireitista Jair Bolsonaro. Em uma reunião, ele soube por Bolsonaro que quase foi vice-presidente da mesma República que enterrou para sempre a monarquia no país e mudou o destino de seus ancestrais, que incluem o rei João VI, de Portugal, que veio para o Brasil em 1808.

Às vésperas das eleições de outubro do ano passado, o então candidato Bolsonaro esteve a ponto de pedir que ele fosse seu vice na chapa do PSL. Mas, de última hora, decidiu convidar um militar, o general da reserva Hamilton Mourão, por razões pouco nobres. A existência de um suposto dossiê com fotos que mostrariam Bragança em uma orgia gay e comprovariam sua participação em ações de um grupo extremista que saía de noite para espancar mendigos nas ruas. Alguém recomendou a Bolsonaro que não corresse riscos e evitasse possíveis escândalos futuros, e assim foi. O candidato de ultradireita deixou de lado seu desejo e cerrou fileiras com o general Mourão, com quem assumiu o poder no início deste ano.

Passados 11 meses de Governo, o presidente se deu conta de que o potencial escândalo sobre Bragança era, na verdade, uma falsa intriga armada por algum invejoso. Ele se arrependeu de ter se deixado envenenar por quem o aconselhou a se afastar do deputado de sobrenome real. “Você deveria ter sido meu vice, e não esse Mourão aí. Casei errado. E agora não tem mais como voltar atrás”, disse o presidente a Bragança, segundo a Folha de S. Paulo.

O desabafo do chefe de Estado tem razão de ser. Bolsonaro está saindo do PSL depois de brigas públicas, disputas de poder e acusações de corrupção durante a campanha eleitoral. O presidente fundou outro partido, a Aliança pelo Brasil, e convidou os 53 deputados do PSL que se elegeram com seu apoio a seguir o mesmo caminho. Apenas 26 devem aceitar o desafio, segundo a imprensa. Entre eles, o deputado “príncipe”. Foi essa prova de lealdade que levou Bolsonaro a contar a Bragança sobre o quase convite a vice e seus motivos. “[Bolsonaro] reconheceu publicamente que [o ex-ministro Gustavo] Bebianno armou para cima de mim e, baseado nisso, tomou a decisão [de não me convidar]”, contou o deputado Bragança a aliados, mencionando Bebianno, ex-braço-direito do presidente, que ficou menos de dois meses no Governo e se transformou em inimigo de Bolsonaro.

Bragança tem sido um fiel soldado. Tem resistido a todos os escândalos que cercam seu presidente, que fez inimigos na mesma velocidade com que caiu sua popularidade. Entre seus desafetos está Bebianno, que ficou furioso ao se ver envolvido em acusações do presidente. “Que passe em um detector de mentiras comigo e repita o que disse olhando nos meus olhos”, disse Bebianno. Segundo ele, Bolsonaro lhe telefonou na véspera do anúncio de seu vice para contar que havia recebido de um coronel do Exército as tais fotos comprometedoras. Bebianno teria a missão de dizer ao “príncipe” que Bolsonaro não poderia mais convidá-lo a ser vice.

Ao se ver no meio da trama de intrigas, o deputado real ri, tratando como fake news as supostas agressões a mendigos e orgias. “Não sou gay nem sei onde é que faz suruba”, disse ele em mensagem de voz a seus aliados, na qual afirma, rindo, que “talvez isso até me ganhe vários pontos aí com a comunidade LGBT”.

Nesta sexta-feira, dia da proclamação da República, em meio a tantas notícias sobre Bragança, os internautas aproveitaram para lembrar, nas redes sociais, que no Brasil já não há príncipe.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_