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Ataques no norte de Síria continuam apesar da trégua acertada entre EUA e Turquia

Milícias curdas acusam Ancara de violar o cessar-fogo na fronteira

Natalia Sancha
A localidade síria de Ras el Ain vista da Turquia nesta sexta-feira.
A localidade síria de Ras el Ain vista da Turquia nesta sexta-feira.OZAN KOSE (AFP)
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Não há trégua no nordeste de Síria. Pelo menos cinco corpos calcinados e uma dúzia de feridos chegaram na manhã desta sexta-feira ao centro médico de Shahi Legerin, na localidade de Tel Tamer. Neste pronto-socorro improvisado, situado a 30 quilômetros do epicentro dos combates na localidade de Ras el Ain, seis cirurgiões trabalham sem descanso desde o dia 9, quando Ancara lançou uma ofensiva aérea e terrestre no norte da Síria, juntamente com forças locais aliadas.

Os curdos acusaram nesta sexta-feira a Turquia de violar o cessar-fogo de cinco dias combinado na véspera entre Ancara e Washington. “A Turquia está violando o acordo de suspensão de hostilidades, está atacando a cidade desde ontem à noite”, disse o porta-voz das Forças Democráticas da Síria (FDS), Mustafa Bali, no Twitter. “Apesar do acordo para interromper os combates, ataques aéreos e de artilharia continuam atingindo posições de combatentes, assentamentos civis e o hospital de Ras el Ain”, acrescentou o porta-voz. O presidente turco, Recep Tayipp Erdogan, negou que o Exército turco tenha violado a trégua.

O anúncio do cessar-fogo foi intensamente celebrado com tiros para o alto nas principais cidades do norte de Síria na noite de quinta-feira. Mas nesta manhã voltaram os drones, o fogo de morteiro e as balas em Ras el Ain. “Enviamos um comboio com quatro ambulâncias a Ras el Ain para levar medicamentos e retirar os mais de 40 feridos empilhados no porão do hospital, mas as forças pró-turcas não o deixaram passar”, explica um exausto cirurgião-chefe de Shahi Legerin, chamado Husein.

De fato, há três dias eles não recebem feridos da frente de combate, e os que chegaram nesta sexta-feira foram trazidos dos povoados de Mishrafa e Abu Rasem, a cinco quilômetros de Ras el Ain. “Alguns estão há 72 horas com um torniquete ou com um membro amputado, eles morrerão se não forem removidos”, afirma. Cinco trabalhadores médicos, três deles mulheres, morreram quando as ambulâncias em que viajavam foram bombardeadas por caças turcos.

“Não sabemos quantos mortos existem, mas eles continuam espalhados pelas ruas”, diz uma miliciana curda contactada via WhatsApp em Ras el Ain. “Não aceitamos as exigências de Erdogan 10 dias atrás, não vamos aceitá-los agora”, conta, sob anonimato, um membro das Unidades de Proteção Popular curdas (YPG, na sigla em curdo). “Mas precisamos de uma pausa para retirar dezenas de feridos e mortos”, acrescenta.

A trégua nasceu morta esta manhã em Tel Tamer, onde também não havia sinal do acordo selado pelas FDS (um conjunto de forças árabes e curdas lideradas pelas YPG e principais aliados da coalizão internacional que luta contra o Exército Islâmico na Síria) com Bashar al Assad. As unidades do Exército regular sírio não foram mobilizadas nem nesta localidade nem na fronteira onde fica Ras el Ain.

Erdogan quer estabelecer uma “zona de segurança” para reassentar dois milhões de refugiados sírios que chegaram à Turquia fugindo da guerra em seu país, iniciada em 2011.

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