_
_
_
_

Japão planeja jogar ao mar água contaminada por Fukushima

Governo japonês afirma que os tanques que armazenam o líquido estarão cheios até 2022

Tanques de água radioativa na usina nuclear de Fukushima (Japão), devastada pelo terremoto e o subsequente tsunami de 2011.
Tanques de água radioativa na usina nuclear de Fukushima (Japão), devastada pelo terremoto e o subsequente tsunami de 2011.KATO (REUTERS)
Macarena Vidal Liy
Mais informações
‘Fukushima, vidas contaminadas’, uma reportagem em realidade virtual
Fukushima: a recuperação depois do tsunami

Até 2022 a empresa proprietária da usina nuclear japonesa de Fukushima, a Tepco, ficará sem espaço para armazenar a água contaminada após o acidente de 2011. O ministro do Meio Ambiente, Yoshiaki Harada, disse nesta terça-feira que, em sua opinião, o país não tem escolha senão "jogar [a água] no mar e diluí-la", algo que causou indignação dos pescadores e preocupação nos países vizinhos.

Em 11 de março de 2011, um terremoto de magnitude 9 e um tsunami de 15 metros causaram uma das piores crises nucleares da história: o sistema elétrico da Fukushima Daiichi se desativou; três de seus seis reatores sofreram fusões e um foi danificado pelas explosões de hidrogênio. Mais de 160.000 pessoas se viram forçadas a deixar a região.

Desde o acidente a Tepco passou a armazenar em cerca de mil tanques instalados na central mais de um milhão de toneladas de água contaminada, resultante da mistura da água do subsolo com a proveniente dos tubos de refrigeração para resfriar os reatores. Continua construindo contêineres, cada um com capacidade para receber entre 1.000 e 1.200 toneladas de água. Cada um leva cerca de sete a dez dias para ficar cheio. A empresa estima que em três anos ficará sem espaço.

Um painel de especialistas deve enviar um relatório sobre possíveis opções ao Governo japonês, que será responsável por tomar a decisão final. A empresa proprietária se limitará a acatá-la. Outras possibilidades incluem o armazenamento prolongado em terra ou a vaporização da água. "A única opção será lançar [a água] ao mar e diluí-la", disse Harada em entrevista coletiva em Tóquio, quando lhe perguntaram sobre as possibilidades que estão sendo consideradas. "O Governo como um todo vai debater a questão, mas gostaria de apresentar minha simples opinião", acrescentou. O ministro não especificou quanto líquido acredita que seria necessário jogar no Pacífico.

O acúmulo de fluido radioativo é um problema com o qual a Tepco tem de lidar desde o início da crise. Os porões dos prédios que abrigam os reatores chegaram a conter 500 toneladas de água subterrânea, procedente das colinas próximas. Após a construção de uma “parede de gelo” de terra congelada que isola esses edifícios e desvia a água subterrânea para o mar, a quantidade se reduziu para 100 toneladas. A mistura resultante com a água da tubulação é bombeada, tratada e armazenada. Mas o tratamento para limpar os resíduos radioativos não permite a eliminação do trítio, um isótopo de hidrogênio considerado relativamente inofensivo.

Depois das palavras de Harada, o porta-voz do Governo japonês, Yoshihide Suga, saiu imediatamente em sua ajuda para esclarecer que a declaração do ministro era apenas uma opinião pessoal e que ainda não foi tomada uma decisão. Em uma reunião no início deste mês entre representantes do Executivo japonês e de embaixadas estrangeiras, as autoridades japonesas disseram que também não há um calendário para escolher uma opção definitiva, informou o jornal The Japan Times.

As associações de pescadores não demoraram para criticar o ministro: após a catástrofe nuclear, os peixes capturados na área apresentavam altos níveis de radiação e foi totalmente proibido pescar nessas águas. Faz apenas dois anos que os leilões de peixes em Fukushima foram retomados e ainda hoje as vendas estão 20% abaixo do que alcançavam antes de março de 2011. Qualquer medida que possa afetar a confiança do público em seu produto será um duro golpe para esses profissionais.

O presidente da federação de cooperativas de Fukushima, Tetsu Nozaki, qualificou as declarações como "insensatas, dada a posição" de Harada. "Queremos que haja um debate calmo", acrescentou, em declarações publicadas pelo Times. "É errado declarar que essa é a única opção num momento em que os debates prosseguem na comissão governamental", disse Takayuki Yanai, funcionário de uma das cooperativas.

A possibilidade de verter a água no Pacífico é algo que alarma vizinhos como a Coreia do Sul, que nos últimos meses vive um período de fortes tensões em seu relacionamento com o Japão por causa de uma disputa histórica. O Governo sul-coreano anunciou recentemente que está suspendendo sua colaboração com Tóquio para troca de informações de inteligência sobre a Coreia do Norte e ambos os Estados retiraram mutuamente o status de país mais favorecido, que concede benefícios em suas relações comerciais. A Coreia do Sul já havia pedido ao Japão explicações sobre seus planos em relação à água contaminada.

O órgão japonês regulador da energia nuclear já aprovou a possibilidade de realizar esses derramamentos no mar. Em março, o presidente da Autoridade Reguladora Nuclear, Toyoshi Fuketa, fez um chamado para que o Governo tomasse logo uma decisão: "Estamos entrando em um estágio em que nenhum atraso adicional será tolerado na hora de decidir qual opção implementar". A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que em janeiro publicou um novo relatório sobre o desmantelamento da usina afetada pelo terremoto de 2011, recomenda desde 2013 descargas controladas. E nesse relatório de janeiro lembrou que o Governo japonês estava considerando a "possível retomada das descargas controladas". Esses despejos são feitos "rotineiramente" pelas usinas nucleares no Japão e em todo o mundo, informava a AIEA.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_