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Deputada Tlaib, dos EUA, cancela visita à avó palestina após receber autorização humanitária de Israel

A representante democrata muçulmana rejeita as “opressivas condições” impostas pelo Governo de Netanyahu

Juan Carlos Sanz
A congressista norte-americana Rashida Tlaib.
A congressista norte-americana Rashida Tlaib.REBECCA COOK (REUTERS)

A deputada democrata norte-americana Rashida Tlaib cancelou sua viagem à Cisjordânia para visitar seus parentes depois de receber autorização do Governo de Israel nesta quinta-feira. A representante do Estado de Michigan no Congresso, nascida em Detroit em uma família de imigrantes palestinos, obteve permissão de Israel para se encontrar com sua avó, de mais de 90 anos, e outros parentes em uma aldeia perto de Ramallah, anunciou o ministro do Interior, Arye Dery, em uma decisão baseada exclusivamente em "razões humanitárias". A visita de trabalho planejada por Tlaib com a também muçulmana e deputada democrata de Minesota, Ilhan Omar, tinha sido proibida nesta quinta-feira pelo apoio que ambas deram no passado à campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), que busca o isolamento internacional de Israel para acabar com a ocupação.

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"Não posso permitir que o Estado de Israel me humilhe assim e use meu amor pela minha avó para suas políticas opressivas e racistas", disse Tlaib em sua conta no Twitter ao suspender a viagem. “Silenciar-me e tratar-me como uma criminosa não é o que ela (minha avó) desejaria", afirmou. "Seria como matar uma parte de mim. É por isso que decidi que visitar minha avó nessas condições opressivas vai contra tudo em que acredito", argumentou sobre sua decisão, com os títulos "Luta contra o racismo", "opressão" e " injustiça" acrescentados ao tuíte. Desde 2017, o Governo israelense proíbe por lei a entrada no país de estrangeiros partidários do boicote ao Estado judeu. Para entrar na Cisjordânia, território ocupado militarmente desde 1967 por Israel, é necessário cruzar os controles de fronteira, em mãos do país.

O ministro Dery, líder de um partido ultraortodoxo judaico, deixou a porta aberta para a possibilidade de Tlaib receber um visto na mesma ordem em que foi imposta a proibição de sua anunciada visita. Ele ofereceu permissão para que ela fizesse uma viagem particular se prometesse não promover a campanha do BDS durante a estadia. A congressista democrata enviara uma carta ao Ministro do Interior nesta quinta-feira à noite, na qual solicitava autorização para visitar a avó nonagenária e outros parentes na aldeia de Beit Ur al Fauqa, na Cisjordânia, localizada a oeste de Ramallah. "Pode ser minha última oportunidade de ver minha avó", ela argumentava na carta publicada pela imprensa israelense, na qual também se comprometia a "respeitar quaisquer restrições e não promover boicotes a Israel durante a visita".

No comunicado em que informou a deputada da autorização de entrada no país, o Ministério do Interior também advertia que Tlaib deveria “cumprir suas obrigações durante a visita, que deverá ter um conteúdo exclusivamente humanitário”. A representante democrata de Michigan já havia mostrado através do Twitter sua rejeição do veto israelense à visita de trabalho planejada: “A decisão de proibir a passagem de uma congressista norte-americana é um sinal de fraqueza (de Israel), já que a verdade sobre a situação dos palestinos é espantosa”. Agora ela parece ter mudado de ideia quanto à carta enviada e cancelou sua decisão inicial de viajar apenas de modo privado, amparada em uma permissão humanitária e impossibilitada de fazer declarações políticas.

Embora o embaixador de Israel em Washington, Ron Dermer, tivesse anunciado no mês passado que não iria negar um visto de entrada para Omar ou Tlaib, em vista de sua condição de congressistas, o Governo de Netanyahu recuou ante o pedido de Donald Trump. O presidente republicano redobrou nesta semana a pressão para que Israel vetasse a entrada das duas deputadas, situadas no setor do Partido Democrata mais crítico de sua política, e lançou um chamado ao primeiro-ministro israelense na quinta-feira pelo Twitter.

"Seria uma grande demonstração de fraqueza se Israel permitisse a visita das representantes Omar e Tlaib. Odeiam Israel e todo o povo judeu, e não há nada que possa ser dito ou feito para que mudem de opinião", ele tuitou. Menos de meia hora depois, o Ministério das Relações Exteriores de Israel anunciou a proibição da visita das duas deputadas muçulmanas democratas, que planejavam ir a Jerusalém, Ramallah, Hebron e Belém, convidadas pela organização Miftah, dirigida pela líder histórica da Organização para a Libertação da Palestina Hannan Ashrawi. O conservador Netanyahu pode ter posto em questão a relação especial e estratégica que Israel mantém com os Estados Unidos, garantidores de sua defesa em uma região hostil ao Estado judeu, ao esnobar os democratas e acatar o ditame do republicano Trump contra o interesse nacional israelense de manter laços estreitos com os dois principais partidos dos EUA.

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