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Brasil se alia a EUA e vizinhos e cria grupo antiterrorista na Tríplice Fronteira

Decisão foi anunciada durante visita do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, em Buenos Aires, para participar da segunda reunião hemisférica contra o terrorismo

Enric González
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, participa em Buenos Aires da Conferência Ministerial Hemisférica de Luta contra o Terrorismo.
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, participa em Buenos Aires da Conferência Ministerial Hemisférica de Luta contra o Terrorismo.AP
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A Argentina, o Brasil, o Paraguai e os Estados Unidos criaram um grupo de coordenação antiterrorista para vigiar a Tríplice Fronteira entre os três países latino-americanos, uma região turbulenta onde, de acordo com diversos serviços de espionagem, a organização libanesa Hezbollah arrecada fundos para suas atividades no continente. O anúncio coincidiu com a visita a Buenos Aires de Mike Pompeo, chefe da diplomacia norte-americana, e com a crise entre Washington e Teerã. O Hezbollah, que acaba de ser incluído na lista de organizações terroristas pelo Governo argentino, está diretamente ligado ao regime iraniano.

Pompeo viajou a Buenos Aires para participar das homenagens dos 25 anos do atentado contra a sede da AMIA (Associação Mutual Israelita Argentina), em que 85 pessoas morreram. Tanto os Estados Unidos como a Argentina acusam o Hezbollah de haver cometido o atentado, impune até hoje, e consideram que o responsável direto pela matança foi o libanês Salman Raouf Salman, também conhecido como Samuel Salman El Reda, membro do Hezbollah e casado com uma argentina. O Departamento do Tesouro norte-americano anunciou que recompensará com sete milhões de dólares (26 milhões de reais) a quem der informações sobre o paradeiro de Salman, que supostamente se encontra no Líbano.

Os Governos de Washington e Buenos Aires, ambos conservadores, parecem viver um idílio intenso —a relação da Casa Branca com o Planalto também vive momento de sintonia celebrada por Jair Bolsonaro. John Bolton, conselheiro de segurança Nacional da Casa Branca, elogiou Mauricio Macri por incluir o Hezbollah na lista de organizações terroristas, o que permitirá o bloqueio de contas correntes ligadas à organização. Mike Pompeo, em Buenos Aires, afirmou que o Hezbollah mantinha “uma forte e ameaçadora presença” no Cone Sul latino-americano e pediu que “todos os países sigam o exemplo argentino”. “Entramos em uma nova era em relação à cooperação entre os Estados Unidos e os países latino-americanos”, disse. O grupo de cooperação antiterrorista na Tríplice Fronteira se reunirá antes do final do ano em Assunção (Paraguai) para estabelecer sua estrutura de funcionamento.

O ministro das Relações Exteriores argentino, Jorge Faurie, disse que o Hezbollah mantinha ligações com a guerrilha colombiana e com o que restou do Sendero Luminoso no Peru, e significava “um perigo para toda a região”.

Tudo leva a crer que a boa relação pessoal entre os presidentes Donald Trump e Mauricio Macri propiciou uma troca de favores. O ministro Faurie agradeceu na presença de Pompeo “o apoio dos Estados Unidos durante nossas dificuldades financeiras”. Os Estados Unidos são o principal acionista do Fundo Monetário Internacional, que em setembro emprestou 57 bilhões de dólares (213 bilhões de reais) à Argentina (a maior ajuda já proporcionada pelo órgão) e desde então atendeu a todos os pedidos vindos de Buenos Aires, em especial os que se referiam ao uso de parte dos fundos concedidos para deter a desvalorização em relação ao dólar.

Enquanto a Casa Branca apoia Macri, que precisa de um mínimo de estabilidade macroeconômica para tentar ser reeleito nas eleições presidenciais de outubro, o argentino se alinha firmemente à Casa Branca em todas as questões diplomáticas, incluindo as iniciativas antiterroristas. Tradicionalmente, a proximidade a Washington não costumava dar bons resultados eleitorais aos governos argentinos; talvez, como disse Mike Pompeo, “os tempos estejam mudando”.

A proximidade entre os dois governos fez com que a Casa Branca autorizasse a publicação dos dados da CIA sobre o atentado contra a AMIA, o que é considerado em Buenos Aires como uma amostra de confiança. De acordo com a CIA, não existem dúvidas sobre a autoria do Hezbollah, “com o apoio do Irã”. A CIA considera que funcionários do corpo diplomático iraniano trabalharam conjuntamente com os três grupos do Hezbollah (o de informação, o de execução e o encarregado de apagar rastros) que organizaram e cometeram o atentado de 1994.

O jornal argentino Infobae informou que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, telefonou ao presidente Mauricio Macri para agradecer-lhe a inclusão do Hezbollah na lista de organizações terroristas.

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