Nova York comemora o triunfo e o ativismo da seleção feminina de futebol
A cidade dos arranha-céus recebe as ganhadoras do Mundial da França como heroínas
O general Dwight Eisenhower teve seu próprio desfile por liderar as Forças Aliadas, assim como Charles Lindberg após cruzar o Atlântico sozinho num avião. Pelo afamado Cânion dos Heróis já passaram também astronautas, Nelson Mandela e várias vezes os Yankees, os Metz e os Giants quando ganharam suas respectivas ligas. Nesta quarta-feira, o centro da celebração foi a seleção feminina de futebol, após seu incontestável triunfo na Copa do Mundo da França, aos gritos de "USA".
Foi um ato que serviu para aplaudir também a defesa que as campeãs fazem da igualdade de gênero no mundo do esporte e para denunciar a injustiça social. “Dentro e fora do campo”, disse o prefeito democrata e pré-candidato presidencial Bill de Blasio, “esta equipe representa o melhor de Nova York e do nosso país. A confiança, a coragem e a perseverança da seleção nacional feminina servem de inspiração para todos que as veem jogar”.
O prefeito disse que, se fosse presidente, recorreria a seus poderes para forçar a Federação a pôr fim à discriminação salarial contra as mulheres. O governador Andrew Cuomo também aproveitou para pressionar sancionando uma legislação que garante a igualdade nas remunerações. “Sem pagar às mulheres o mesmo que se paga aos homens não se poderá fazer negócios em Nova York.”
Os torcedores da seleção querem nada menos que a capitã Megan Rapinoe se candidate a presidenta em 2020, como se lia em alguns cartazes. Charlotte diz que Rapinoe é sua heroína. Ela esteve na comemoração do título há quatro anos. “Desta vez é muito diferente”, compara, “agora há muito mais energia. Espero que se mantenha para continuar dando força a seu ativismo”.
Rapinoe declarou durante a festa que é uma honra liderar a equipe. "Não há outro lugar onde eu gostaria de estar, nem na corrida presidencial", brincou. "Sinto muito, estou muito ocupada." Antes, em uma entrevista à CNN, mandou um recado a Donald Trump. “Sua mensagem exclui pessoas que se parecem comigo”, denunciou, “norte-americanos que poderiam apoiá-lo”.
A camisa de Megan Rapinoe predominava entre as dezenas de milhares de fãs que foram à rua. Também havia muitas com o 13 de Alex Morgan e o 17 de Tobin Heath. “São o exemplo de que os sonhos podem ser realizados”, comenta Ella. Joga futebol desde os quatro anos, e agora, aos 14, juntou-se com seis amigas de Nova Jersey para recepcionar as campeãs.
Stephanie Maden, uma das mães que as acompanhavam, acha frustrante “que as mulheres estejam por baixo quando estão conseguindo muito mais. Têm muito mais audiência, vendem muito mais roupa”. Em março, a seleção processou a Federação por discriminação de gênero. As duas partes concordaram em negociar um acordo depois do Mundial. Após o apito final em Lyon, na presença do presidente da FIFA, a torcida exigiu igualdade salarial ao coro de “equal pay” (pagamento igual).
Carlos Cordeiro, presidente da US Soccer, qualificou o tetracampeonato como “sucesso sem precedentes”. “São 22 das melhores atletas jamais produzidas pelos EUA”, disse. Reconheceu também o esforço que fazem para serem grandes também fora de campo. "Vocês ergueram suas vozes pela igualdade. Ouvimos vocês, acreditamos em vocês e estamos dispostos a fazer o que é correto", garantiu. "Você demonstrou que está do nosso lado", disse-lhe Megan Rapinoe.
A capitã se dirigiu ao público, ao final do ato, para dizer que esta seleção é "muito mais que um grupo de mulheres esportistas". “Não há nada que não possamos encarar. Algumas temos o cabelo rosa e roxo, tatuagens, tem garotas brancas, negras e toda a diversidade no meio, temos garotas hétero e gays.” Disse então que é preciso aprender a "amar mais e odiar menos", porque é "responsabilidade de todos fazer deste mundo um lugar melhor”.
Os ingressos para o desfile das campeãs se esgotaram em questão de minutos. É a segunda vez que a seleção feminina de futebol dos EUA comemora sua vitória em Nova York. A anterior foi quando ganhou a Copa de 2015. E é também a segunda vez que uma equipe de mulheres desfila pelo Cânion dos Heróis, como é conhecido o trecho da Broadway entre os arranha-céus do distrito financeiro. A cidade acolheu um total de 206 desfiles em sua história.
É o prefeito quem decide quem deve ser homenageado com as ticket-tape parades. O nome se deve às fitas de papel de telex que, em Wall Street, serviam principalmente para registrar o valor dos títulos cotados na Bolsa de Nova York. Quando os desfiles passavam, os funcionários atiravam as fitas usadas pela janela, a modo de serpentina, criando um efeito de redemoinho. Na última, foram jogadas várias toneladas de confete à passagem da comitiva. Na cerimônia na prefeitura, cada membro da equipe recebeu as chaves da cidade.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.