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Cinema
Crítica
Género de opinião que descreve, elogia ou censura, totalmente ou em parte, uma obra cultural ou de entretenimento. Deve sempre ser escrita por um expert na matéria

Que durem até o infinito, e além

A Pixar, agora absorvida pela marca Disney, cria uma obra que, embora pareça destinada às crianças, na verdade foi pensada para o deleite do público adulto

Carlos Boyero
Fotograma de 'Toy Story 4'.
Fotograma de 'Toy Story 4'.
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Durante um jantar com um amigo e seu filho mais velho, um garoto inteligente, espontâneo, com interesses diversos e sadios, o pai e eu falávamos com entusiasmo e admiração sobre Toy Story 4, sobre a saga desses brinquedos com vida própria, sobre a Pixar, esse invento maravilhoso que revolucionou tantas coisas no cinema de animação. Vejo que o menino está mais preocupado com seu sushi que com a nossa elegia do vaqueiro Woody e do astronauta Buzz Lightyear. E lhe pergunto se a ele, seu irmão menor e seus amigos não adoram Toy Story e os filmes da Pixar. Com tanta educação quanto sinceridade, me responde que gosta, sim, de alguns filmes mais que de outros (os meninos estão ligados acima de tudo na série Carros), mas que não são os filmes que mais lhes agradam.

A conclusão é mais óbvia do que arriscada. A Pixar, agora absorvida pela marca Disney, cria uma obra que, embora pareça destinada às crianças, na verdade foi pensada para o deleite do público adulto. Os mais velhos têm o pretexto perfeito para acompanhar seus filhos para verem um filme de animação, mas o grande barato está garantido é para os pais. Às vezes nem sequer necessitam de um álibi. Vão sozinhos, e com a certeza de que vão encontrar o que buscam em Wall-e, Up, Ratatouille, Procurando Nemo, Monstros S. A., Os Incríveis, Divertida Mente, Toy Story e outros que recordam com um sorriso terno.

TOY STORY 4

Direção: Josh Cooley.

Com as vozes de: Tom Hanks, Annie Potts, Tim Allen, Tony Hale.

Gênero: drama. EUA, 2019.

Duração: 100 minutos.

Conheço uma criança que desde bebê, quando começou a balbuciar, sua maior diversão era que lhe dessem de presente bichinhos de borracha ou de plástico. Com quatro anos, já possui um zoológico completo, que cuida com amor e infinita dedicação. Mas suspeito que aquele mundo inesgotável de bonecos, carros, soldadinhos, trens, fortes (de fortaleza militar, se possível de madeira), tampinhas, bolas de gude, peões, jogos de montar e demais artefatos pertencem a um passado muito remoto. Que agora os desejos da infância estão mais concentrados em videogames, tablets, celulares e outros aparelhos eletrônicos. Cada um se diverte como quer ou pode.

E não sei quanto tempo pode restar aos adoráveis protagonistas de Toy Story 4, esses brinquedos com alma, com novos donos, medo, sensação de abandono. Uns sobreviventes. Também generosos e solidários. A ponto de adotar um garfo destinado ao lixo, mas com ao qual se afeiçoou a menina que é a atual proprietária do grupo. E retorna toda a família, com o eterno protagonismo desse vaqueiro tão imaginativo, sensível e nobre chamado Woody e do disparatado astronauta Buzz Lightyear. E retorna a pastora Bo Peep, que aparecia no segundo episódio. Lá começou um idílio de complicado final feliz entre ela e Woody. A pastora continua igual de brava, e o fogo com o caubói-modelo volta a surgir. Ou nunca se apagou. E há surpresas muito gratas no bonito desenlace.

Memorável será alguma nova incorporação, como o fantástico motorista canadense Duke Caboom. Também uma boneca inquietante e seus temíveis ajudantes, quatros marionetes antigas que recordam Chucky, o brinquedo assassino. A lógica leva a crer que a saga termina aqui. Em um final muito bonito. Mas estes bonecos podem causar dependência nos viciados se os perdermos de vista. E somos muitos os fissurados.

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