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Animação não é coisa de criança

Oscar se abre para filmes de animações mais experimentais e ousados

Imagem de 'Cheatin'.
Imagem de 'Cheatin'.

Já se passou uma década desde que Os Incríveis marcou um antes e um depois no campo da animação. O trabalho de Brad Bird para os estúdios Pixar é visto entre os profissionais como um momento repetido, e até superado, em outros filmes como Toy Story 3, também da Pixar e também Oscar de melhor animação. Os estúdios Pixar levaram sete dos 14 Oscars concedidos para essa categoria desde sua criação. E, entretanto, se existe algo certo na próxima cerimônia dos prêmios de Hollywood, é que a Pixar não vai levar nenhuma estatueta.

Pela primeira vez na história do Oscar, os estúdios que contribuíram para o renascimento da animação não têm um filme na disputa ao não contar com uma estreia este ano. Essa certeza abre um mar de dúvidas pois em uma indústria que parecia monolítica – controlada durante anos por grandes como a Disney, DreamWorks e Pixar, os únicos capazes de fazer um investimento maior do que os 120 milhões de euros (382 milhões de reais) do custo de uma estreia de um longa animado – surgiram novos competidores de todos os lugares.

Esse ano a Academia de Artes e Ciências Cinematográfica aceitou 20 longas-metragens na competição. Entre eles não faltam as estreias milionárias que, como Big Hero 6 ou Como Treinar seu Dragão 2, mantém a liderança dos grandes – Disney e DreamWorks. Também brigam pela mesma estatueta filmes muito pequenos como Cheatin’, de Bill Plympton, o mestre da animação independente capaz de desenhar sozinho todo seu longa-metragem com papel, lápis e um orçamento de pouco mais de 400.000 euros (1,27 milhões de reais). “Algumas vezes as premiações demonstram que entendem o valor de fazer cinema colocando filmes realizados fora dos grandes estúdios”, comentou Plympton após sua pré-seleção.

Existem mais criadores que compartilham de sua filosofia. O Plympton Studios é um dos muitos estúdios emergentes que ficaram conhecidos nos últimos anos. O filho do fundador da Nike canalizou sua paixão pela animação stop-motion em um estúdio como o Laika, que já produziu três filmes desde sua criação, um deles – Coraline – candidato ao Oscar, e espera ter a mesma sorte nessa edição com Os BoxTrolls. Devolvendo a vida para uma técnica que parecia estar em extinção e com um estilo mais próximo ao steam-punk do que o hiper-realismo da animação por computador dos grandes estúdios, o Laika soube fazer a diferença e competir com os grandes em seus próprios termos.

A porta também se abriu para outros estúdios independentes como Reel F/X que, com a ajuda do produtor mexicano Guillermo del Toro e o amparo financeiro dos estúdios Fox, se lançou na disputa com Festa no Céu. Com sede no Texas, a companhia especializada em efeitos visuais continuou com a tradição comercial da animação por computador. Entretanto, seu diretor, Jorge Gutiérrez, soube mudar a estética e o roteiro, distanciando-se do resto das produções. “Como independente, pude manter o controle criativo, algo que não tinha conseguido dentro da indústria”, admite o mexicano, que além do mais busca seu espaço nesse gigante adormecido que é o público hispânico. Em outros casos a revolução começou de dentro de um desses grandes estúdios. É o caso da Warner Bros, quando criou a unidade que se encarregou do sucesso mais subversivo do ano, o filme Uma Aventura Lego. Como assegura o animador e historiador Tom Sito, são esses pequenos grandes sucessos que mostraram ser possível triunfar na animação sem a necessidade de ser da família de Mickey Mouse ou Buzz Lightyear.

Entre os 20 concorrentes muitos vêm de fora, como Song of the Sea ou The Tale of Princess Kaguya, narrando com animação tradicional contos locais da Irlanda e Japão. E mais, Rock in My Pockets foi feito em Nova York mas com financiamento estrangeiro, e compete não somente na categoria de melhor filme de animação como na de melhor filme de língua não inglesa representando a Letônia, país de sua diretora, Signe Baumane.

A proliferação de títulos animados é tal que aumentou de 3 para 5 o número de finalistas nessa categoria. Durante muito tempo a categoria foi considerada para crianças, mas, levando em consideração somente a renda de três dos competidores (Como treinar seu dragão 2, Rio 2 e Uma Aventura Lego), a arrecadação supera os 1,2 bilhões de euros (3,8 bilhões de reais), e é difícil continuar falando de uma brincadeira: é preciso prestar mais atenção ao que acontece nesse mercado.

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