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União Europeia alerta para risco de novo terrorismo ligado à implantação do 5G

Coordenador da Luta Antiterrorista da UE propõe a criação de um ciberlaboratório liderado pela Europol para combater as novas ameaças

Cartaz do 5G, em uma feira de telefonia, em Nova Delhi, em outubro.
Cartaz do 5G, em uma feira de telefonia, em Nova Delhi, em outubro.Anushree Fadnavis (REUTERS)

O Conselho de Ministros de Interior da União Europeia (UE), que se reúne nesta sexta-feira em Luxemburgo, analisará as implicações para a segurança que a iminente implantação da quinta geração de telefonia móvel (o chamado 5G) provocará. E o panorama, juntamente com o esperado desenvolvimento da inteligência artificial, é alarmante e preocupante segundo o relatório elaborado para a reunião pelo coordenador da Luta Antiterrorista da UE, Gilles de Kerchove.

As novas redes, cuja implantação pode ficar nas mãos da empresa chinesa Huawei, poderiam facilitar o surgimento de um terrorismo com novas feições e, previsivelmente, muito mais letal. De Kerchove propõe a criação de um ciberlaboratório liderado pela Europol, a agência de segurança da UE, e especializado em analisar e combater as novas ameaças.

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A urgência de agir parece evidente, segundo o documento que chegará à mesa dos ministros. O texto adverte que a mudança tecnológica em curso pode alterar completamente o atual quadro de segurança pública e poderia provocar “uma mudança em direção à privatização da segurança ou poderiam surgir novas formas de terrorismo”. E enfatiza que “a vulnerabilidade dos cidadãos, das economias e dos Governos aumenta proporcionalmente à sua conectividade e interdependência e poderia disparar com a chegada do 5G e dos aparelhos interconectados”.

Kerchove alerta os ministros de que a vulnerabilidade de dados já representa um dos maiores riscos da economia relacionada à inteligência artificial. “E em breve os computadores quânticos serão capazes de decifrar qualquer criptografia, a biologia sintética permitirá recriar vírus fora dos laboratórios e do corpo humano e os aparelhos interconectados poderão se tornar armas”, de acordo com o documento que servirá de base para o debate do conselho de ministros da UE, que contará com a presença do titular espanhol em exercício, Fernando Grande-Marlaska.

O sinal de alarme chega em plena disputa entre a Europa e os Estados Unidos sobre a possibilidade de a empresa chinesa Huawei, líder em 5G, liderar a implantação das infraestruturas da nova tecnologia. Washington, que vetou a Huawei por sua suposta relação com o Governo chinês, exige que os países da UE impeçam que a empresa chinesa tenha acesso e controle de suas redes.

A Administração Trump afirma que o 5G poderia dar a Pequim uma poderosa arma de dominação sobre a economia e a sociedade do Velho Continente. Países como a Alemanha e o Reino Unido desdenharam das advertências de Trump e se recusam a romper relações com a Huawei por medo de que a implantação das novas redes atrase dois ou três anos.

O documento do coordenador da Luta Antiterrorista da UE não menciona a Huawei. “Não se trata de apontar para uma empresa específica, que hoje pode ser chinesa e amanhã russa”, justifica uma fonte diplomática. Mas a omissão do nome da gigante asiática que lidera a tecnologia 5G não impede que sua sombra paire sobre o repentino alarme da UE e os planos para combater as novas ameaças.

De Kerchove propõe que o futuro ciberlaboratório tenha a colaboração, sob a liderança da Europol, da Agência Europeia de Fronteiras (Frontex), da Agência Europeia para a Cooperação Judiciária Penal (Eurojust) e da Agência de Cooperação Policial (CEPOL), o que dá uma ideia da envergadura e do alcance que o novo organismo poderia atingir.

O modelo a seguir seria a agência norte-americana conhecida como DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency), fundada em 1958 (como ARPA) e que é considerada uma das fontes da revolução tecnológica que levou ao nascimento da Internet. Seu trabalho, de acordo com o relatório de De Kerchove, “resultou em grandes conquistas industriais e tecnológicas tanto na esfera civil quanto na militar”.

O presidente francês, Emmanuel Macron, já propôs em 2017 uma réplica europeia da DARPA, que batizou de Agência Europeia de Pesquisa e Desenvolvimento de Novas Tecnologias. Esse organismo começa a ganhar corpo com um relatório que detalha as funções que deveria assumir.

Kerchove propõe aos ministros que a nova agência se encarregue de avaliar os riscos e possibilidades das novas tecnologias, de criar um “lago de dados compartilhados” com os quais testar instrumentos de inteligência artificial, realizar simulações de ataques cibernéticos e facilitar o uso de dados em casos de necessidade de forma compatível com as exigências de privacidade dos usuários ou de segurança das empresas de Internet.

“É vital que a UE decida as tecnologias nas quais deseja desempenhar um papel de liderança nos próximos cinco ou dez anos e que tome as medidas necessárias para cumprir esse objetivo”, recomenda o documento do coordenador da Luta Antiterrorista da UE. O texto também defende que “a UE precisa recuperar a soberania sobre seus dados”. E lembra que hoje muitas empresas europeias, especialmente aquelas especializadas em reconhecimento facial, testam seus algoritmos na China porque no país asiático o acesso a dados é mais fácil.

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