Leopoldo López desafia Maduro e anuncia “mais movimentos do setor militar”
O líder da oposição diz na Embaixada da Espanha em Caracas, escoltado pela Polícia Nacional, que sua libertação foi apenas um primeiro passo que terá consequências
O líder da oposição venezuelana, Leopoldo López, refugiado em unidades diplomáticas espanholas há dois dias, desafiou Nicolás Maduro nesta quinta-feira, anunciando a falência do establishment militar e novas revoltas das Forças Armadas. "Claro, mais movimentos do setor militar estão chegando. Nosso chamado é para todos os militares, todos civis, para que contribuamos com nossa responsabilidade de contribuir para a cessação da usurpação. Essa ditadura vai acabar ", disse o político a jornalistas escoltado por agentes da Polícia Nacional espanhola, na porta da residência do embaixador da Espanha, Jesus Silva.
A Justiça venezuelana ordenou a detenção de López nesta quinta. Ele se encontra refugiado na Embaixada da Espanha em Caracas desde a noite de terça-feira. A contraofensiva do regime de Nicolás Maduro ocorre dois dias depois de uma operação liderada por Juan Guaidó para tentar promover uma rebelião civil e militar contra o Governo. O chefe do Parlamento, reconhecido como presidente interino da Venezuela por mais de 50 países, liberou López de sua detenção domiciliar com a ajuda de um grupo de militares. Depois de horas de mobilizações, o político optou por pedir proteção na Embaixada do Chile, e de lá finalmente se deslocou com sua esposa, Lilian Tintori, e uma de suas filhas para a residência do embaixador da Espanha em Caracas, Jesús Silva.
López falou nesta quinta-feira a partir da casa do embaixador espanhol. Um dos pontos-chave de sua mensagem diz respeito aos supostos encontros que ele manteve em sua casa com membros das Forças Armadas. "Por mais de três semanas eu me encontrei em minha casa com generais e comandantes, e nos comprometemos com o cessar da usurpação", disse. Devido à sua condição de prisão domiciliar, a casa do líder do Vontade Popular era protegida pelo Serviço Nacional de Inteligência Bolivariano (Sebin), o mesmo órgão encarregado de voltar a prendê-lo, além aqueles que foram colocados sob suspeita por conta da libertação de López na madrugada da última terça-feira.
O líder opositor disse ainda que esteve em contato com representantes dos países do Grupo Lima. "[A 'Operação Liberdade'] se levantou como um primeiro passo", disse. O líder do Vontade Popular insiste em sua pressão sobre o Exército, uma das fortalezas de Maduro: "A frustração que os homens e mulheres venezuelanos têm também tem uniformes". Ele garante que teve contato com membros das Forças Armadas: "Falei com muitos generais". "A ruptura começou, as pessoas e as forças armadas vão conseguir a cessação da usurpação", garantiu. Mais cedo, o Governo espanhol informou que não pretende entregar López à Justiça venezuelana.
Prisão domiciliar
No fim da manhã desta quinta-feira, a Quinta Vara de Execuções de Primeira Instância do Distrito Judicial Criminal da Região Metropolitana de Caracas tomou a primeira medida formal contra o ex-prefeito de Chacao, um dos municípios que compõem a capital. O tribunal, segundo informa a Suprema Corte , “revogou a medida de prisão domiciliar para o cidadão Leopoldo López por tê-la violado flagrantemente, além de ter violado a medida referida à condição relativa a pronunciamentos políticos por meio de veículos de comunicação convencionais e não convencionais, nacionais e internacionais, demonstrando com isso a não sujeição às medidas”.
López estava preso em sua casa desde julho de 2017, depois de ter passado mais de três anos na prisão de Ramo Verde. O tribunal emitiu um “mandado de captura dirigido ao Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin)”, que no caso de que o dirigente do partido Vontade Popular deixar a residência do embaixador espanhol, território inviolável, seria o corpo encarregado de efetuar sua prisão.
O tribunal determina que “o referido cidadão continue a cumprir sua pena de 13 anos de prisão — dos quis cumpriu cinco anos, dois meses e doze dias — no Centro Nacional de Processados Militares de Ramo Verde”, a prisão à qual foi enviado em 2014. Maduro limitou-se, por enquanto, a garantir que depois da libertação de López não haveria impunidade para os militares envolvidos e para os responsáveis políticos pelo que aconteceu. Anunciou na própria noite de terça-feira uma investigação da Procuradoria, controlada pelo chavismo, e exigiu lealdade das forças armadas.
O sucessor de Hugo Chávez não precisa apenas do apoio dos soldados, cujos comandantes permanecem até o momento leais ao regime, mas para sua estratégia é crucial aparentar unidade e controle absoluto do estamento militar. O presidente exibiu horas antes do anúncio dessa decisão uma imagem de força diante de milhares de soldados, aos quais exigiu dedicação no “combate contra o imperialismo, os traidores e os golpistas”. Mais tarde, falou por meio de vídeo para dizer que a quinta-feira "foi um bom dia" porque ele liderou "uma marcha da lealdade".
O líder chavista participou na manhã de uma manifestação de poder cercada por mais de 4.000 soldados. "As Forças Armadas têm que demonstrar ao mundo o que são, não é um grupo de golpistas que sai para tomar uma estrada com armas, é uma força organizada." Embora a oposição assegure que as deserções militares continuarão, Maduro insiste: "Sempre leais, nunca traidores". E conclui dizendo que, diante de uma "invasão" militar externa, ele tem certeza de que o Exército venezuelano venceria.
Já o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, disse que "há uma fissura nos escalões mais baixos das Forças Armadas venezuelanas", e que a tendência é de que a tal fissura suba na hierarquia. Segundo ele, a solução da crise passará por isso. Ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Augusto Heleno disse que não considera que Juan Guaidó foi derrotado apesar de Nicolás Maduro seguir no poder na Venezuela. Ambos falaram sobre a crise venezuelana durante a transmissão semanal de Bolsonaro em seu perfil no Facebook. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente acrescentou que "o Maduro não manda nele mesmo". "Quem manda nele são os generais, os cubanos, em boa parte os russos. Ele é vigiado o tempo inteiro", completou.
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