_
_
_
_
_

“É um erro dizer que uma economia é administrada como uma casa”

Randall Wray, autor da Teoria Monetária Moderna, fala sobre a perspectiva que ganha adeptos nos EUA. Ele propõe uma alternativa à política econômica mais ortodoxa

Alicia González
Mais informações
E se imprimissem dinheiro para além de salvar bancos? A teoria ganha adeptos
OCDE adverte para o declínio da “comprimida” classe média

Randall Wray (65 anos) se considera discípulo do economista pós-keynesiano Hyman Minsky, que conheceu no início dos anos 80 na Universidade de Washington, em St. Louis. Desde que publicou seu primeiro livro em 1998, ele se concentrou no estudo dos sistemas monetários soberanos até desenvolver a Teoria Monetária Moderna, em que propõe uma alternativa à política econômica mais ortodoxa, que ganha adeptos nos Estados Unidos a partir do Green New Deal apresentado pela deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez.

Segundo a Teoria Monetária Moderna (MMT, por sua sigla em Inglês), um país com a sua própria moeda, como os Estados Unidos, não precisa se preocupar em acumular muita dívida, porque pode imprimir dinheiro quando quiser para lidar com os prazos e nunca suspender pagamentos.

Pergunta. Por que suas teses são tão revolucionárias?

Resposta. Muitos economistas e políticos insistem em equiparar o modo como uma economia é administrada, com o que acontece com as famílias, quando não é esse o caso. Um governo soberano simplesmente não pode ficar sem dinheiro porque é o responsável pela emissão de moeda e pode endividar-se quando ela lhe faltar.

P. Isso não acontece no caso da zona do euro.

R. Não, porque cada Estado membro renunciou à própria moeda nacional e o Banco Central Europeu (BCE) não é concebido como emprestador em último caso para os Estados. Esse problema ficou evidente na crise e obriga ao aperfeiçoamento da união monetária para garantir sua sobrevivência.

P. Por poder recorrer ao endividamento, isso significa que não há limites para os gastos?

R. Sim, existem, claro. O gasto público deve ser feito em áreas que não tenham esgotado totalmente sua capacidade porque, do contrário, se gera inflação. Mas a norma não deve ser a austeridade, como fomos levados a crer.

P. A austeridade salta pelos ares quando falamos sobre a crise financeira e os programas de expansão quantitativa dos bancos centrais.

R. Que foram um erro total. Não serviram para reativar as economias nem para sanear o sistema financeiro. De fato, muitas entidades estão voltando a cometer muitos dos erros que levaram à crise e podemos voltar a viver outro episódio.

P. Alguns criticam que sua teoria acaba com a independência dos bancos centrais.

R. Quando foi necessário, os bancos centrais acudiram para resgatar o setor público em tempos de crise, como fez o Federal Reserve após a Segunda Guerra Mundial ao comprar dívida pública, ou o setor financeiro na última crise. Nesse sentido, nossa teoria não é nada revolucionária.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_