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EUA qualificam Guarda Revolucionária do Irã como “grupo terrorista”

É a primeira vez que uma força militar nacional estrangeira merece esse qualificativo. Isso transformaria em “patrocinador do terrorismo” qualquer um que negocie com ela

Pablo Guimón
A Guarda Revolucionária do Irã em um desfile de 2016.
A Guarda Revolucionária do Irã em um desfile de 2016.Ebrahim Noroozi (AP)

Donald Trump anunciou nesta segunda-feira que os Estados Unidos declararão a Guarda Revolucionária do Irã, o corpo militar de elite do país, como “organização terrorista estrangeira”, em uma ação que busca elevar a pressão sobre o regime de Teerã. Trata-se da primeira vez que os EUA qualificam “uma parte de um Governo estrangeiro” como organização terrorista, como aponta a própria Casa Branca em nota.

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“Este passo sem precedentes dado pelo Departamento de Estado reconhece a realidade de que o Irã é não só um Estado patrocinador do terrorismo, como também que a Guarda Revolucionária participa ativamente, financia e promove o terrorismo como uma ferramenta política”, diz o comunicado. O secretário de Estado Mike Pompeo esteve por trás dessa mudança na política norte-americana, que representa um passo adiante na recente escalada em sua retórica contra o Irã.

A Administração Trump espera que a medida, que entrará em vigor em 16 de abril, contribuirá para o isolamento do Irã e para deixar claro que Washington não tolerará o apoio de Teerã a grupos que desestabilizem o Oriente Médio. A Guarda Revolucionária e o Parlamento iraniano advertiram aos EUA, segundo a Reuters, de que adotariam represálias se a medida for efetivada.

“Esta ação expande significativamente o alcance e a escala de nossa pressão máxima sobre o regime iraniano”, prossegue o comunicado da Casa Branca. “Deixa claros os riscos de prestar apoio ou realizar negócios com a Guarda Revolucionária. Se você fizer negócios com a Guarda Revolucionária, estará financiando o terrorismo.”

A qualificação permite aos EUA tomar medidas judiciais por violação de sanções contra indivíduos ou empresas que prestarem apoio material à Guarda Revolucionária ou a seus afiliados. Também poderia acarretar complicações diplomáticas, ao impedir que militares e diplomatas norte-americanos mantenham contato com autoridades iraquianas ou libanesas que interagem com os pasdaran (termo persa com o qual são conhecidos os membros desse exército ideológico). Oficiais do Exército e os serviços de inteligência dos EUA vêm expressando sua preocupação por esse possível efeito colateral de uma medida que Washington estuda há anos.

Chefes do Pentágono e da CIA, segundo o The New York Times, se opõem à decisão, que poderia permitir a oficiais iranianos justificar ações contra unidades de Operações Especiais e da CIA mobilizados no exterior.

Os Estados Unidos consideram que o regime iraniano “emprega o terrorismo como ferramenta central de sua política e utiliza a Guarda Revolucionária para liderar e levar a cabo sua campanha terrorista global”. Além disso, segundo a Casa Branca, a Guarda Revolucionária “proporciona financiamento, equipamento, treinamento, pessoal e apoio logístico a grupos terroristas”. Washington considera que a opaca estrutura da Guarda Revolucionária serve de cobertura para atividades terroristas que ameaçam Israel e as forças europeias e norte-americanas.

O anúncio ocorre na véspera das eleições em Israel, em que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, apoiado por Trump e crucial em sua estratégia para o Oriente Médio, busca a reeleição com promessas de combater com dureza a ameaça do Irã na região.

A Guarda Revolucionária é uma organização fundada pelo aiatolá Khomeini na esteira da Revolução Islâmica de 1979. Ela funciona independentemente do Exército regular e tem como missão a defesa do regime contra qualquer tipo de ameaça. Hoje, é o corpo militar mais importante do Irã, com relevantes interesses econômicos no país. O Departamento de Estado considera atualmente sessenta grupos como organizações terroristas internacionais, incluindo a Al Qaeda, o Estado Islâmico e Hezbollah.

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