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NASA cancela primeiro passeio espacial de duas mulheres por falta de trajes

Agência admite que só tem um macacão preparado no tamanho que as astronautas vestem

Javier Salas
As astronautas Christina Koch (esquerda) e Anne McClain, em 22 de março, na Estação Espacial Internacional.
As astronautas Christina Koch (esquerda) e Anne McClain, em 22 de março, na Estação Espacial Internacional.NASA

Quando a NASA se preparava para enviar pela primeira vez uma mulher ao espaço, os engenheiros da agência perceberam que não tinham nem ideia de como era uma mulher. Seria uma viagem de seis dias, e perguntaram a essa astronauta, Sally Ride, se 100 absorventes bastariam. Os especialistas da NASA também tiveram problemas para desenhar seus trajes especiais, porque não sabiam exatamente como ela urinava. Mais de 30 anos se passaram, mas a agência espacial norte-americana continua tendo problemas para integrar as mulheres. Recentemente, a NASA anunciou com orgulho que em 29 de março ocorreria o primeiro passeio espacial com a participação exclusiva de astronautas mulheres. Mas o fato histórico precisou ser cancelado por falta de trajes adequados.

Durante sua saída ao vácuo na semana passada, McClain percebeu que a parte de cima do macacão de tamanho médio se ajusta melhor ao seu corpo

O plano era que as astronautas Christina Koch e Anne McClain saíssem juntas da Estação Espacial Internacional para uma missão de seis horas, em que instalariam baterias de íons de lítio para melhorar o fornecimento de energia do laboratório. Mas a NASA só tem um traje espacial preparado de tamanho médio, o mesmo que as duas astronautas usam. Durante a saída ao vácuo que McClain fez a semana passada, ela percebeu que a parte de cima desse traje se ajusta melhor ao seu corpo, assim como ocorre com Koch. Como só há um macacão preparado para a missão, no dia 29 Koch sairá para a tarefa externa na companhia de seu colega Nick Hague, segundo um comunicado da NASA.

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Essa falha na logística numa missão da NASA é surpreendente, especialmente num momento em que a agência queria se autocongratular ao estabelecer um marco na história da conquista espacial, após um longo período de discriminação de gênero – e especialmente depois dos progressos que a agência realizou na astronáutica feminina. Em 1983, quando Ride saiu ao espaço, quase não havia apenas mulheres no Centro Espacial Johnson, responsável pelas missões tripuladas. Agora, por outro lado, sua última diretora foi uma mulher, a astronauta Elle Ochoa. Além disso, o recorde absoluto de permanência no espaço numa missão da NASA cabe à comandante Peggy Whitson, com 665 dias, mais do que qualquer homem enviado ao espaço pela agência norte-americana.

Uma porta-voz da NASA, Stephanie Schierholz, esclareceu na segunda-feira que há dois trajes de tamanho médio na Estação Espacial, mas que só um deles está preparado para essa missão no exterior, conforme noticia o The New York Times. McClain achava que poderia realizar os trabalhos externos com o tamanho grande, mas depois de sua saída da semana passada percebeu que o médio seria melhor. "Quando você tem a opção de trocar as pessoas, a missão se torna mais importante do que estabelecer um marco notável", admitiu Schierholz. McClain, aliás, tuitou há poucos dias um vídeo em que se mostra o minucioso trabalho de manutenção dos trajes espaciais.

As mulheres astronautas sofreram numerosos obstáculos em sua corrida espacial particular, enfrentando discriminações conscientes e inconvenientes inesperados – como o que McClain e Koch encontraram agora. Quando em 2014 a Europa enviou pela primeira vez duas mulheres à Estação Espacial Internacional, a cosmonauta russa Elena Serova teve que escutar perguntas dos jornalistas sobre sua maquiagem e seu penteado. "Por que não pergunta a Alexandr por seu penteado?", respondeu Serova em referência ao colega Alexandr Samokutyaev, sentado ao seu lado. Com a viagem de McClain e Koch, são já 63 as mulheres que são ou foram astronautas, o que representa 11% das pessoas que estiveram no espaço ao longo da história.

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