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Onda de frio histórica já deixou pelo menos vinte mortos nos EUA

Entre os mortos está um jovem de 18 anos, encontrado em um campus da Universidade de Iowa quando a sensação térmica era de -46ºC

Antonia Laborde
Sem-teto pede dinheiro do lado de fora de uma lanchonete em Portland, Maine
Sem-teto pede dinheiro do lado de fora de uma lanchonete em Portland, MaineAP

É quinta-feira à noite e o centenário clube de jazz Green Mill, em Chicago, se prepara para viver uma noite no ritmo do swing. O guitarrista Andy Brown pendurou seu instrumento para abrir caminho para a orquestra de Alan Gresik. Os garçons cobrem de branco uma mesa ao lado do balcão e colocam sobre ela retratos das celebridades mais famosas que passaram pelo clube do bairro de Uptown. A fotografia principal é de Al Capone. Pela janela é possível ver flocos de neve caindo suavemente e o púbico pede martinis e cervejas. Quase parece uma noite de inverno como qualquer outra, mas não é. O vórtice polar que fez despencar as temperaturas até os -30°C já fez pelo menos nove mortos na cidade, segundo o Hospital John H. Stroger Jr. A eles se soma a dúzia de vítimas por congelamento ou acidentes de trânsito devido às geadas em outras regiões do Meio-Oeste e do Nordeste do país.

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“Nunca tive tanto frio na minha vida”, reconhece Mike Bowen, de 32 anos, que veio do Colorado até a cidade do vento por razões de trabalho. O termômetro marca -16ºC, o que parece ser uma trégua da massa de ar polar que atinge metade dos EUA desde o começo da semana. Mas Bowen, que vem do Colorado, onde as temperaturas são ao menos 30 graus mais elevadas, está impressionado. “Cresci aqui, mas me mudei e valorizo o que é viver em um lugar quente. Eu definitivamente não sinto falta deste inverno”. Outros, como Desiree, colocam panos frios – se é possível – na reação das pessoas. A taxista reconhece que a onda polar marcou uma diferença em relação aos anos anteriores, mas seu segredo é simplesmente colocar mais camadas de roupa: “Devemos estar bem preparados. Suponho que é por isso que dizem que as pessoas de Chicago são duras”.

Fazia mais de duas décadas que uma explosão de ar do Ártico semelhante não atingia de tal maneira o Meio-Oeste e o Nordeste, de acordo com o serviço meteorológico. Entre os 21 mortos contabilizados na quinta-feira, 31, estava Gerald Belz. O jovem de 18 anos foi encontrado morto em um campus da Universidade de Iowa quando a sensação térmica era de -46ºC. “Simplesmente não há como sobreviver a um clima assim por muito tempo se você não estiver perto de uma fonte de calor”, disse o legista Stephen Evans, do condado de Lorain, ao Chronicle-Telegram. Evans informou a morte por hipotermia de uma mulher de 60 anos que foi encontrada em uma casa abandonada em Lorain, Ohio.

A solução para as dezenas de milhões de pessoas afetadas que podem pagar foi aumentar a calefação. Na quarta-feira, casas e empresas norte-americanas usaram quantidades recordes de gás natural, segundo resultados preliminares do fornecedor de dados financeiros Refinitiv. Em Detroit, a General Motors e a Fiat suspenderam as operações em várias de suas fábricas depois que o serviço público fez um apelo de emergência para economizar energia.

Agora se espera que as temperaturas subam ao longo do fim de semana nos 14 Estados que permaneceram em alerta. Em Chicago está previsto que os termômetros saltem até 10ºC, o que significa que na mesma semana terão sido testemunhas de uma diferença de 40ºC. Este fenômeno trará consequências aos afetados. Especialistas alertam que o rápido degelo que está sendo observado não tem precedentes e que poderia criar problemas como estouros de tubulações, inundação de rios e deslizamentos em estradas.

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