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Brexit
Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

Incerteza, amargura, rancor

Theresa May ainda pode sofrer novas derrotas devido à eficácia trituradora do ‘Brexit’

Lluís Bassets
Manifestantes contrários ao Brexit nesta terça-feira em frente ao Palácio de Westminster
Manifestantes contrários ao Brexit nesta terça-feira em frente ao Palácio de WestminsterHENRY NICHOLLS (REUTERS)
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Podia parecer a derrota final, dadas as enormes dimensões da catástrofe parlamentar sofrida por Theresa May, a maior nos últimos cem anos para um governante britânico. Mas não é assim. Outras derrotas ainda podem surgir. A eficácia da máquina trituradora que é o Brexit não se esgotou nesta terça-feira, 15, à noite, quando o Parlamento castigou a primeira-ministra com uma severa e insólita desqualificação de quase dois terços da Câmara dos Comuns.

Para desgraça dos britânicos, e talvez também dos europeus, esta terça-feira foi um dia histórico que não exclui outros dias históricos, todos eles carregados das trágicas nuvens escuras que costumam acompanhar a história. O triturador continuará funcionando, alimentado pela incerteza, a amargura e o rancor, os três sentimentos sombrios que May evocou no discurso de sua derrota, como três espíritos maus que crescem a cada dia que passa, sem que o Brexit tenha sido resolvido.

Esta é a segunda vez que o Reino Unido rejeita um acordo com a União Europeia proposto por seu próprio Governo. Na primeira ocasião, o referendo de 23 de junho de 2016, foi o corpo eleitoral inteiro, por quase quatro pontos percentuais de diferença, que recusou o acordo renegociado por David Cameron, pelo qual os britânicos obteriam um status ainda mais especial do que já tinham, com a consequência imediata da demissão do primeiro-ministro. Desta vez a rejeição ocorreu no Parlamento e, embora seja muito mais ampla, não desencadeou a demissão da primeira-ministra Theresa May, apenas a apresentação, de resultado muito improvável, de uma moção de censura por parte do líder da oposição trabalhista, Jeremy Corbyn.

Cair de madura deveria ser o destino de uma primeira-ministra que negociou um acordo desqualificado pelos votos, e com mais motivo ainda se, como neste caso, os deputados que o rejeitaram também desejam que o pacto seja negociado de novo em Bruxelas, por mais que os 27 países restantes da UE tenham recusado taxativamente essa hipótese. Mas May continuará. Só sairá se for tirada, e só o seu partido pode fazê-lo. A derrota que se espera nesta quarta-feira será a de Corbyn, mais uma, e tampouco será a última. Depois haverá consultas entre os conservadores, antes de passar novamente o bastão para Bruxelas, onde May estimulará entre os 27 o medo de um Brexit selvagem, da mesma forma como o difundiu infrutiferamente entre os deputados para tentar obter a aprovação do acordo no Parlamento.

May calcula que ainda pode conseguir de Bruxelas o que Bruxelas não pode nem quer dar, um acordo melhorado que possa ser aprovado em Westminster, algo que só um novo primeiro-ministro suficientemente apoiado pelo Parlamento teria como exigir. E isto significa convocar eleições, e fazê-lo quando quase não há mais tempo. Ou seja, mais incerteza, mais amargura e mais rancor. Abandonada a terra firme do único acordo que parecia possível, entramos com as velas desfraldadas em território desconhecido, onde se pretende combater o medo com mais medo.

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