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Mais de 200 mulheres buscam MP de Goiás para denunciar João de Deus por abuso sexual

Promotoria do Estado criou força-tarefa para o caso, que veio à tona com depoimento de 10 pessoas em programa da TV Globo

João de Deus, durante atendimento em 2012.
João de Deus, durante atendimento em 2012.PEDRO LADEIRA (AFP)
Marina Rossi
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O Ministério Público de Goiás realizou, até o final da tarde desta terça-feira, 206 atendimentos a mulheres que se apresentam como vítimas do médium João Teixeira de Faria, 76, conhecido como João de Deus. De acordo com a procuradoria, a maioria das possíveis vítimas - 156, até o momento - fizeram contato por e-mail, um canal criado exclusivamente para essa finalidade. Elas se identificaram como sendo de Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, além de duas que residem no exterior: uma, nos Estados Unidos, e outra, na Suíça.

As vítimas estão sendo orientadas a procurarem o Ministério Público de seus Estados. Nesta terça, o MP de Minas Gerais informou ter feito dois atendimentos sobre o caso. Em Goiás, cinco promotores e estão à frente da investigação sobre as supostas ocorrências, reveladas pelo Programa do Bial, da TV Globo, na sexta-feira, quando ao menos 10 mulheres relataram terem sido vítimas de crimes sexuais promovidos pelo líder religioso. Para coletar depoimentos que possam surgir de fora de Goiás, Estado onde o médium vive e trabalha, o MP anunciou uma coordenação nacional entre os promotores de outros Estados.

Antes mesmo de um balanço ser divulgado, o promotor Luciano Miranda Meireles, coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal (CAO) do MP-GO, já havia sinalizado que as supostas vítimas não se restringiriam somente a Goiás. “Sabemos que há vítimas no país inteiro e fora do país”, afirmou durante entrevista coletiva na manhã de segunda-feira. “Não será necessário que elas venham até aqui. Elas podem prestar depoimento no Ministério Público local”.

Desde que as denúncias se tornaram públicas, na madrugada do sábado para o domingo na TV, a repercussão do caso só cresceu. O médium, que nega todas as acusações, se tornou famoso internacionalmente por tratar celebridades e políticos, como o ex-presidente Lula, e já foi entrevistado por Oprah Winfrey.

De acordo com os relatos feitos pelas mulheres ao programa, os casos ocorreram entre 2010 e fevereiro de 2018. “Sabemos que muitas vezes as vítimas que sofrem esse tipo de violência demoram um tempo até denunciar”, afirmou a procuradora Patrícia Otoni, coordenadora do CAO de Direitos Humanos do MP de Goiás, que também faz parte da força-tarefa. Ela classificou as acusações como “gravíssimas”. Para facilitar o processo de coleta das eventuais denúncias, foi criado um e-mail para receber os relatos: denuncias@mpgo.mp.br. A promotoria afirmou garantir o sigilo dos depoimentos, não expor a vítima e, se necessário, providenciar segurança para elas. “Sabemos da influência que a pessoa que está sendo denunciada possui na localidade. Talvez a vítima que more aqui tenha menos coragem de denunciar”, reconheceu a promotora.

Absolvido em 2012

Os cinco promotores à frente do caso também contarão com o apoio de duas psicólogas para dar suporte às eventuais vítimas. Meireles explicou que os depoimentos podem ser suficientes para uma eventual condenação, já que se trata de um crime que muitas vezes não encontra provas materiais. “É claro que não vamos encontrar vestígios do crime, nem lesão corporal, ou algum tipo de ferimento na mulher. Principalmente se já passou algum tempo”, diz. “Então, o depoimento da vítima em algumas situações pode sim ser o único meio a levar a uma condenação. E não há por que duvidar de uma mulher que venha até o Ministério Público, que corre o risco de se expor, a troco de nada”.

A promotoria explica que, a partir dos depoimentos, será possível definir os rumos do processo e as eventuais medidas cautelares a serem tomadas, como intimar o acusado a depor ou até mesmo interditar o templo do médium, mantido em Abadiânia (GO). “Se for verificado que aquele ambiente era um ambiente voltado para a prática do crime, a interdição do estabelecimento vai ser uma dinâmica necessária”, afirmou Meireles.

Ao portal G1, o advogado Alberto Toron, que defende o médium, afirmou que seu cliente nega as acusações “enfaticamente”, e que ele está à disposição da Justiça para prestar esclarecimentos. Toron também disse que o "padrão" de atendimento de João de Deus é em grupo e não individualmente, ao contrário do que as supostas vítimas apontaram nos relatos.

Caso um inquérito seja aberto, esse não será o primeiro envolvendo denúncias por abusos sexuais contra João de Deus. Em 2012, o médium chegou a ser denunciado por assédio sexual, mas foi absolvido na sequência, por falta de provas. Agora, se virar réu, ele pode responder por estupro, violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável.

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