_
_
_
_

Diretora financeira da gigante chinesa de celulares Huawei é presa no Canadá

Meng Wanzhou, filha do fundador da empresa, teria violado sanções contra o Irã. Pequim demonstrou indignação e exigiu que ela seja solta

Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei
Meng Wanzhou, diretora financeira da HuaweiAP

O Canadá anunciou nesta quarta-feira, 5, que Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei, marca chinesa de celulares e equipamentos de telecomunicações, além de filha do diretor da companhia, foi detida em Vancouver, Canadá, no sábado passado, 1º, por supostamente violar as sanções dos Estados Unidos contra o Irã. O Governo chinês reagiu exigindo sua libertação imediata, num caso que ameaça descarrilar os recentes progressos na relação comercial entre Washington e Pequim, depois da guerra tarifária que colocou em xeque as perspectivas de crescimento global.

Mais informações
EUA ameaçam Irã com sanções “sem precedentes na história”
Assim é o OPPO R9s, o celular da China que desafia o iPhone
EUA e China acertam trégua de 90 dias em guerra comercial e ganham tempo para novo pacto

Washington já solicitou a extradição de Meng, mas os detalhes do caso permanecem sob sigilo judicial. O jornal canadense The Globe and Mail, o primeiro a noticiar a detenção, diz que aparentemente Huawei enviou ao Irã produtos manufaturados em solo norte-americano, rompendo assim as normas de exportação que impedem o comércio com o país do golfo Pérsico. Em abril, o The Wall Street Journal já tinha informado que o Departamento de Justiça dos EUA abrira uma investigação sobre o assunto. A detenção ocorreu no mesmo dia em que Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, jantaram juntos em Buenos Aires e concordaram com uma frágil trégua na disputa comercial.

Nos últimos meses, vários Governos, inclusive o norte-americano, manifestaram sua preocupação com as informações que Pequim poderia obter através dos produtos e serviços da Huawei. A empresa negou reiteradamente qualquer implicação do regime em suas operações e optou por manter certa distância em relação às autoridades e a empresas estatais do país, com o objetivo de mostrar uma imagem de independência. A Huawei é um dos maiores fornecedores de equipamentos de telecomunicações do planeta e colheu um sucesso nada desdenhável fora de seu país de origem, mas sua atuação nos Estados Unidos se viu muito limitada pelas acusações de espionagem.

A empresa chinesa disse em nota que sua executiva foi presa quando fazia uma escala no aeroporto de Vancouver. “A companhia recebeu pouquíssima informação sobre as acusações e não tinha conhecimento de delito algum por parte da senhora Meng. A Huawei confia em que os sistemas de Justiça do Canadá e Estados Unidos chegarão a uma conclusão justa”, diz o texto.

A Embaixada chinesa em Ottawa, por sua vez, se pronunciou sobre o assunto através de seu site, solicitando que as autoridades canadenses e norte-americanas corrijam qualquer irregularidade na detenção e liberem Meng. “Seguiremos de perto o desenrolar deste problema e tomaremos todas as medidas necessárias para proteger os direitos e interesses legítimos dos cidadãos chineses”, acrescenta a mensagem. A legação afirma ainda que Meng “foi presa sem que tenha violado nenhuma lei norte-americana ou canadense”.

Meng Wanzhou, nascida em 1972, é diretora financeira da Huawei desde 2011 e vice-presidenta de seu conselho de administração. Além disso, é filha de Ren Zhengfei, o engenheiro que fundou esse gigante chinês das telecomunicações em 1987 e que atualmente ocupa o posto de executivo-chefe. Ren, ao contrário de outros grandes magnatas do país asiático, sempre se manteve num discreto segundo plano. A detenção de sua filha mais velha representa um golpe de enorme simbolismo para a China e seu cada vez mais influente setor tecnológico, cujas práticas empresariais e relação com o Partido Comunista chinês são crescentemente questionadas.

Embora as acusações contra Meng ainda não tenham sido concretizadas, o caso parece semelhante ao da empresa tecnológica chinesa ZTE, que também foi alvo de uma investigação nos Estados Unidos por ter vendido tecnologia ao Irã e Coreia do Norte. O Departamento de Comércio chegou inclusive a proibir essa companhia de comprar componentes fabricados nos Estados Unidos, o que a colocou em sérios apuros. Finalmente, após uma ordem de Trump e com o objetivo de aplainar as negociações comerciais com a China, alcançou-se um acordo que reverteu esse veto.

A investigação sobre a Huawei, na qual o Departamento de Justiça dos EUA interveio diretamente, poderia ser mais grave não somente porque ninguém foi detido no caso da ZTE, mas também pelo enorme peso e nome da mulher atualmente sob custódia no Canadá. Meng é vista, apesar do secretismo que cerca a cúpula da Huawei, como uma das candidatas a suceder o seu pai à frente do grupo. Nesta quinta-feira, 6, ela terá uma audiência perante um juiz que decidirá se lhe concede a liberdade sob fiança ou se ela permanecerá presa durante o processo judicial.

Em uma jornada marcada pelas turbulências dos dois pregões anteriores, as principais Bolsas asiáticas se viram prejudicadas pelo temor dos investidores de que a detenção do Meng complique o recente princípio de entendimento entre Washington e Pequim em busca de uma solução para seus atritos comerciais.

A Huawei e a ZTE são as duas empresas que registraram mais patentes em todo o mundo em 2017, segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual. Em 2017, a Huawei registrou um lucro líquido e quase 7,3 bilhões de dólares (28,2 bilhões de reais), e no segundo trimestre desse ano desbancou a Apple como a segunda empresa que mais vende celulares, atrás da sul-coreana Samsung. Mas em volume de negócios ela ainda continua bem atrás de ambas, apesar de ser hoje um gigante mundial do setor tecnológico.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_