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Macron pede unidade europeia para evitar “que o mundo mergulhe no caos”

O presidente profere um discurso no Bundestag, o primeiro de um presidente francês em 18 anos

Ana Carbajosa
Emmanuel Macron, primeiro à esquerda, neste domingo na cerimônia em homenagem às vítimas da guerra em Berlim.
Emmanuel Macron, primeiro à esquerda, neste domingo na cerimônia em homenagem às vítimas da guerra em Berlim.Markus Schreiber (AP)

A seis meses das eleições europeias, em pleno processo de separação com o Reino Unido, e com uma União Europeia imersa em uma crise de identidade acelerada pelas forças populistas, Berlim e Paris quiseram demonstrar a cumplicidade do eixo franco-alemão e sua disposição para relançar o projeto europeu. Em um discurso solene pronunciado diante do Bundestag alemão, o presidente francês, Emmanuel Macron, fez uma defesa emocionada da Europa e defendeu o fim da inércia e dos tabus em prol de uma maior cooperação entre os Estados da UE. Abre-se “um novo capítulo”, no qual só uma Europa “mais forte” e “mais soberana” poderá fazer frente aos novos desafios, advertiu.

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Depois, Macron participou de uma reunião com a chanceler Angela Merkel, para acelerar a implementação das tão anunciadas quanto postergadas reformas europeias, a fim de obter resultados tangíveis com vistas às eleições europeias. Berlim, que enfileira profundas crises internas há mais de um ano, garante compartilhar com Paris o desejo de mudança, mas acaba nunca dando seu aval para avanços profundos, sobretudo no capítulo relativo à reforma da zona do euro. “Há muito por fazer daqui até maio”, advertiu Macron. A chanceler mencionou o futuro da zona do euro, a digitalização, a cobrança de impostos, a defesa europeia e as migrações como assuntos na agenda do encontro bilateral de domingo.

Em seu discurso diante do Bundestag, que coincidiu com o dia de homenagem às vítimas das guerras e da violência, Macron relembrou a história da Europa e os desafios enfrentados pela União Europeia e assegurou que a Europa e o eixo franco-alemão têm a obrigação de não deixar “que o mundo mergulhe no caos e de acompanhá-lo no caminho da paz”. “Precisamos ter coragem de abrir um novo capítulo, superando nossos hábitos e rompendo os tabus”, pediu Macron.

O presidente francês afirmou que a força europeia reside na “unidade” e na “soberania” diante do desafio proposto pelo “nacionalismo sem memória” e “o fanatismo”. O presidente francês considerou que é possível que a “Europa não seja exemplo para tudo”, mas foi capaz de superar “o narcisismo das pequenas diferenças” e que agora mais do que nunca é necessário cooperar. “Esta nova fase pode dar medo, porque teremos de compartilhar e cooperar em política externa, migração, desenvolvimento e compartilhar cada vez mais nossos orçamentos, a cobrança de impostos e uma política comum de defesa”, afirmou.

Depois, Macron e Merkel tiveram uma reunião bilateral, realizada diante da imprensa. Os dois líderes voltaram a demonstrar sua cumplicidade e sua afinidade de critérios e objetivos; concretamente, o aprofundamento e o fortalecimento do projeto europeu. “Não se pode obter avanços sem um acordo franco-alemão profundo”, advertiu o presidente francês. A reforma da zona do euro, uma defesa comum europeia, a migração, a digitalização e a mudança climática foram alguns dos assuntos abordados durante o encontro.

Trata-se agora, segundo explicaram os dois dirigentes, de colocar em andamento os consensos de Meseberg, as grandes linhas mestras da reforma da União Europeia acordadas nos arredores de Berlim antes do verão. “Teremos reuniões nas próximas semanas e nos próximos meses, essenciais para as próximas eleições europeias” de maio, disse Macron. Paris e Berlim têm consciência de que a Europa corre riscos nestas eleições, nas quais as forças populistas lutarão para impor sua visão de uma UE de nações com menos interferência de Bruxelas. “Precisamos de uma Europa mais unida, mais soberana e mais eficaz”, defendeu, no entanto, Macron em Berlim.

Uma verdadeira política de defesa europeia é uma das ideias que Paris defende em busca de uma autonomia em tempos de fratura transatlântica, e que Berlim respalda. Na terça-feira passada, em uma intervenção para o Parlamento Europeu, Merkel defendeu continuar avançando na integração comum com uma política externa e de defesa comuns. A chanceler chegou inclusive a apoiar “um autêntico exército europeu”, como demonstração de que “uma guerra entre países europeus nunca mais seja possível”.

A visita de Macron acontece às vésperas de uma reunião do Eurogrupo, na qual se prevê a cristalização de um avanço por fim tangível na anunciada reforma da arquitetura da zona do euro. Paris e Berlim teriam chegado a um acordo —ainda que vago— para apresentar uma proposta conjunta e assim implantar um orçamento para a zona do euro dedicado a investimentos nos países da moeda única e que funcione como colchão preventivo de futuras crises financeiras.

Reativação do eixo

O orçamento europeu é apenas uma entre a bateria de reformas com a qual o eixo franco-alemão aspira a refundar uma União Europeia debilitada. A paralisia política atravessada por Berlim há mais de um ano manteve até agora as reformas em suspenso e colocou à prova a paciência do Executivo francês. Paris teve primeiro de esperar as eleições gerais alemãs de cerca de um ano atrás. Depois os partidos alemães precisaram de seis meses para implantar um Governo de grande coalizão que não parou de ratear desde seu nascimento. Depois foram as eleições bávaras e também as de Hesse. O anúncio de Merkel de que deixará a presidência de seu partido em dezembro e o cargo de primeira-ministra no fim do mandato ajudou a semear ainda mais incerteza quanto à tração do chamado eixo franco-alemão, cuja reativação Merkel e Macron encenam atualmente.

A visita de domingo ocorreu uma semana depois que Merkel participou na França dos atos do centenário do fim da Primeira Guerra Mundial. Macron é o primeiro chefe de Estado francês que se dirige ao Bundestag desde que Jacques Chirac o fez há 18 anos. Sua visita coincide com manifestações de multidões na França contra a alta dos impostos e do combustível.

Pouco antes de sua fala ao Bundestag, Macron participou, com o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier, de um encontro com jovens no qual o dirigente francês garantiu que “estamos em um ponto muito importante de nossa história”. E acrescentou: “a juventude só pode construir o futuro se conhecer o passado”.

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