Bombas e prisões em SP na primeira manifestação contra Bolsonaro eleito
Ato foi pacífico até o final, quando manifestantes se recusaram a desocupar rua da Consolação e jogaram garrafa na PM, que reagiu com bombas e gás
O primeiro ato contra o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), realizado na noite desta terça-feira, 30, na região central da cidade de São Paulo, foi pacífico durante quatro horas, desde o início, às 18h, na Avenida Paulista, até o final, na Praça Roosevelt. Ali, por volta das 22h15, um grupo de manifestantes se recusou a desocupar a rua da Consolação e, durante uma discussão, jogou uma garrafa nos policiais. A noite, então, terminou com bombas, gás lacrimogêneo, correria e pânico nas ruas.
A Polícia Militar deteve três manifestantes. O primeiro a ser detido foi o estudante Vitor Meneguim, 18 anos, ainda durante a concentração do ato, na Avenida Paulista.
Os policiais que prenderam o jovem afirmam, em vídeo, que ele estava com uma máscara antigás, uma camiseta com dizeres antifascistas, além de combustível e um bastão – que testemunhas afirmam que era uma estrutura de bandeira – e que isso “demonstraria enfrentamento” (assista ao vídeo no fim da matéria).
O jovem foi levado ao 78º DP (Jardins). Ali, foi liberado em seguida sem ser autuado, por volta das 21h40.
O ato foi inicialmente convocado pela Frente Povo Sem Medo, mas contou com a adesão de vários outros grupos, inclusive evangélicos e antifascistas. No trajeto, do Masp (Museu de Arte de São Paulo) até a Praça Roosevelt, o ato foi pacífico. A organização pediu que os manifestantes começassem a dispersão por volta das 21h, sob gritos de “aqui está o povo sem medo, sem medo de lutar”, “lutar, virar, poder popular”, “nem fraquejada e nem do lar, a mulherada tá na rua pra lutar” e “ô Bolsonaro, seu fascistinha, a mulherada vai botar você na linha”.
Por volta das 22h15, a PM informou a um grupo de 150 pessoas, que continuava diante da Praça Roosevelt, que precisava liberar a Rua da Consolação para os carros passarem. A conversa entre PMs e manifestantes mudou quando uma garrafa foi jogada contra o escudo de um dos policiais. Em seguida, o grupo de jovens foi alvo de bombas de efeito moral. Dois jovens foram detidos, um no terminal Parque D. Pedro e outro no Avenida Nove de Julho.
O manifestante detido na Nove de Julho foi identificado como Samuel. Questionado pela Ponte, o PM se negou a dizer para onde e por que o jovem havia sido detido. Depois que a viatura saiu, levando o manifestante detido, a reportagem entrou em contato, por telefone, com a divisão de Imprensa da PM, que informou que uma viatura do Caep (Companhia de Ações Especiais) havia detido um jovem no Viaduto Nove de Julho e que “provavelmente” seria levado para o 78º DP (Jardins). “Posteriormente será informado o motivo da detenção ou se foi detido para averiguação”, afirma a Divisão de Imprensa. A detenção para averiguação, comum durante a ditadura militar, é uma prática ilegal.
O estudante Thiago Torres, 18 anos, contou à Ponte que, apesar de ainda estar abatido com o resultado das eleições, agora é hora de lutar nas ruas. “É para ficar claro para a população que esse governo, apesar de ter sido eleito democraticamente, não representa toda a população. Não temos o que esperar, não temos tempo a perder porque cada segundo que a gente perde vai ser um direito que a gente vai perder também. Esse governo me afeta diretamente, porque Bolsonaro é assumidamente homofóbico e racista e eu sou negro e gay”, disse.
A atriz Damaris Soares também reafirmou o clima de resistência. “A gente não vai ficar calado perante a necessidade de lutar pela democracia. Ele foi eleito de forma democrática, mas é um político fascista, e temos que nos posicionar. Hoje começa a oposição e é importante lutar pelos meus direitos enquanto mulher negra e homossexual. Todo dia a gente vai lutar, seremos resistência sempre”, afirmou.
Para o aposentado Bruno Gaigher, 70 anos, jornalista aposentado, as ruas devem seguir ocupadas para garantir a democracia. “Elegeram um fascista e a sociedade está correndo risco, a democracia está morrendo e não podemos deixar isso acontecer. O povo tem que tomar as ruas porque não tem outro jeito. Ele ganhou as eleições, mas não ganhou com a maioria de brasileiros”, defendeu.
Já para o captador de recursos Tiago Ramos da Silva, 30 anos, estar nas ruas hoje é lutar por aqueles que se foram na ditadura militar. “Mostrar que lutamos pela nossa democracia contra um governo que é a favor da ditadura e quer nos calar, mostrar que o povo tá na rua unido e não vamos aceitar calados. Independentemente do que aconteça, a gente vai estar nas ruas exercendo o nosso direito, lutando pela nossa liberdade e por aqueles que lutaram pela gente há 30 anos, por todo sangue derramado. É a nossa obrigação estar aqui pela nossa liberdade de expressão”, disse.
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