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Polícia investiga denúncia de estupro de mulher ameaçada por racistas em Fortaleza

Estudante da universidade privada Unifor havia registrado BO após ser abordada por homem que teria citado Bolsonaro e lhe feito injúrias. Observatório da Intolerância Política e Ideológica do Ceará acompanha o caso

Beatriz Jucá
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Uma estudante de 33 anos denunciou ter sido estuprada na noite desta quinta-feira (25), no bairro Edson Queiroz, em Fortaleza. O caso aconteceu no entorno da Universidade de Fortaleza, instituição particular onde estuda, dois dias após a universitária formalizar um boletim de ocorrência no qual declarou vir sofrendo ameaças que seriam motivadas por racismo e intolerância política. Um inquérito policial foi instaurado na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Fortaleza, unidade responsável por crimes de estupro, e a investigação corre sob sigilo.

Segundo a Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), a vítima compareceu à Casa da Mulher Brasileira na noite de quinta-feira, onde foi acolhida no Centro de Referência da Mulher por uma equipe formada por assistentes sociais e psicólogos. Em seguida, a estudante foi encaminhada para realização de exame de corpo de delito, na sede da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) e conduzida para uma unidade de saúde para ser medicada. O caso provocou manifestações de estudantes de diversas instituições no entorno da universidade "pela democracia".

A jovem já havia feito denúncias de racismo. No dia 10 de outubro, por volta das 20h30, ela teria sido abordada por um homem na entrada da Unifor, que lhe perguntou o que estava fazendo no local. A estudante respondeu que era aluna. Segundo declarou à polícia, o homem lhe disse: “Aqui não é o seu lugar, aqui não é lugar de escravos e negros. Depois que Bolsonaro ganhar, a partir de primeiro de janeiro, nós vamos fazer uma limpa na universidade e tirar sua gente. Aqui não é lugar de sua gente, não é espaço de vocês, sua macaca suja”.

A estudante contou que passou então a andar mais rápido, mas o homem a acompanhou: “Macaca, suja, eu sei o que vou fazer com você. Vou te colocar no seu lugar, lugar de escrava. E sabe o que a gente faz com escrava? A gente estupra”. A jovem contou à polícia que teria se abalado com o episódio, mas que seguiu as atividades na universidade e nada mais aconteceu neste dia.

Cerca de duas semanas depois, ela teria passado a receber mensagens no WhatsApp de diferentes números com ameaças de estupro e ofensas de cunho racista e político, segundo o boletim de ocorrência ao qual o EL PAÍS teve acesso. Uma dessas mensagens afirmava que ela seria estuprada por três homens e que seria gravada para servir de exemplo.

Universidade repudia ato de violência

A polícia não dá detalhes sobre o caso para não atrapalhar os trabalhos de investigação. Por meio de nota, a Unifor disse repudiar qualquer ato de violência e informa ter colocado sua estrutura de apoio jurídico e psicológico à disposição da vítima. “A Universidade de Fortaleza repudia qualquer ato de violência e se solidariza com as vítimas, em quaisquer circunstâncias, dentro ou fora do campus. Sobre o caso exposto na mídia nas últimas horas envolvendo uma aluna, a Unifor está tomando as medidas cabíveis junto às autoridades competentes e coloca a sua estrutura de apoio jurídico e psicológico para acompanhamento, mesmo que o assunto em voga não tenha ocorrido no campus. Reiteramos o compromisso da instituição de preservar as identidades de todos os envolvidos até que as questões sejam esclarecidas”, diz a nota da universidade.

O Observatório da Intolerância Política e Ideológica no Ceará – organização formada na semana passada pela Defensoria Pública do Estado do Ceará (DPE-CE), Defensoria Pública da União do Ceará (DPU-CE), Ordem dos Advogados do Brasil Secção Ceará (OAB-CE) e pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (CEDH) – está acompanhando o caso para averiguar os indícios de motivação política. “Todos os procedimentos cabíveis (nas esferas legal e criminal) e medidas administrativas estão sendo adotados para identificação do autor, responsabilização e resguardo da integridade da estudante”, diz a nota publicada pela entidade.

O Ministério Público do Ceará também se colocou à disposição da Polícia Civil para esclarecer a denúncia de racismo e estupro. "O MPCE repudia todas as formas de violência contra a mulher e reafirma seu compromisso na defesa e promoção dos direitos humanos", afirma, em nota. Já a Comissão de Direitos Humanos da OAB-CE afirmou, por meio de nota, estar acompanhando o caso "com muita preocupação e consternação" o caso do estupro "que ocorreu aparentemente por motivações políticas". "É lamentável e repugnante o nível que se chega nessas eleições. É preocupante o empoderamento de grupos que repercutem o discurso de ódio. A CDH presta total solidariedade à vítima e sua família e cobrará a apuração célere do caso, com a responsabilização desses criminosos", afirma a nota.

Muitos crimes e agressões com motivações políticas vêm sendo denunciados desde o primeiro turno das eleições. Desde então, pelo menos duas pessoas foram assassinadas e outras 70 sofreram agressões por conta de seus posicionamentos políticos, de acordo com levantamento do Open Knowledge Brasil e da Agência Pública. Os dados mostram que em seis dos casos as vítimas foram apoiadores de Bolsonaro; as demais foram agredidas por pessoas favoráveis a ele.

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