“Se tiver de rever a posição sobre Meio Ambiente, ninguém vai agir de forma radical”
Nabhan Garcia, cotado para o Ministério da Agricultura, que seria unido com área ambiental por Bolsonaro, agora pondera fusão "É um tema que vai ser mais debatido. Por questões de prudência, tem de esperar ele ser eleito. Pode ser fundido ou pode não ser"
A três dias da votação que decidirá o próximo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PSL) intensificou mudanças em duas propostas que constavam de seu plano de Governo ou que foram prometidas por ele ao longo da campanha. O presidenciável de extrema direita, que lidera com ampla margem as pesquisas eleitorais, reavalia a fusão dos ministérios da Fazenda com o da Indústria e Comércio, assim como o do Meio Ambiente com o da Agricultura e Pecuária.
Nos últimos dias, ele recebeu duas comitivas de industriais e de produtores rurais para discutir o assunto. Após ouvir algumas críticas, anunciou que deverá repensar suas propostas. Seu desafio, agora, será o de cumprir sua meta de campanha de reduzir de 29 para 15 o número de ministérios.
No caso do superministério da Economia, que previa juntar o Planejamento, com a Fazenda, com a Indústria, o candidato afirmou que deverá acatar a demanda feita por um grupo de industriais. “Recebemos a visita de homens da indústria do Brasil falando dos problemas e de como eu poderia resolver as questões deles. Falaram que gostariam que o ministério da Indústria e do Comércio continuasse existindo. Vamos atendê-los”, afirmou durante uma transmissão em seu perfil no Facebook na noite de quarta-feira.
A preocupação dos empresários é que poderia haver uma perda de autonomia que afetaria as exportações do país. É o que também temem parte das lideranças do agronegócio. Algumas delas entendem que a atual estrutura do Ministério do Meio Ambiente é muito mais voltada para a questão do licenciamento nas áreas industriais e do desenvolvimento urbano do que para a agricultura, em si. Citam, por exemplo, que o tratamento de resíduos sólidos ou o saneamento básico, que precisam de aval do Meio Ambiente, é algo que não afeta diretamente a economia. Caso as duas pastas fossem unificadas, dificilmente o tema seria tratado adequadamente pela Agricultura. Além disso, temem que a imagem do Brasil no exterior possa ser afetada. Por ainda possuir uma das maiores áreas não desmatadas do planeta, o país é tido como um dos principais defensores do meio ambiente e um dos protagonistas nessas discussões.
Entre os derrotados nessas propostas, caso haja de fato esse recuo em um eventual Governo Bolsonaro, estariam o economista Paulo Guedes e o produtor rural Luiz Antônio Nabhan Garcia. Guedes será o ministro da Fazenda em caso de eleição do candidato do PSL. Garcia é um dos nomes cotados para a Agricultura. Em entrevista ao EL PAÍS, o produtor rural relatou como tem sido essa discussão com o presidenciável.
P. Você se reuniu com Bolsonaro nesta semana. Há alguma definição sobre a fusão dos ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura?
R. No Plano de Governo do Bolsonaro existe definido que tem de haver uma redução para 15 ministérios, será de mais ou menos 60% dos ministérios. Obviamente haverá fusão em quase todos os ministérios. Onde encaixou o Meio Ambiente? Encaixou com a Agricultura. Agora, se tiver de rever essa posição, ninguém aqui vai agir de forma radical. Estamos ouvindo comentários, críticas, elogios. Os produtores querem a fusão da Agricultura com o Meio Ambiente, mas tem o lado dos ambientalistas. Existe um lado dos que defendem o Acordo de Paris. Então, é um tema que vai ser mais debatido. Por questões de prudência, tem de esperar ele ser eleito no domingo. Uma vez eleito, haverá o processo de transição e, aí sim, será amplamente discutido com todos os segmentos da sociedade para ver o que será definido. Pode ser fundido ou pode não ser.
P. Parte dos deputados Frente Parlamentar da Agropecuária é contrária a essa fusão da Agricultura como o Meio Ambiente.
R. A Frente Parlamentar da Agropecuária é uma frente política. Ela existe para legislar. Ela não tem o poder de dizer que ela representa o setor produtivo. É, claro, para legislar em assuntos que favoreçam o setor produtivo. Agora, nessa questão administrativa quem sabe produzir somos nós. A base produtiva acha interessante a ideia de fusão.
P. Você é um dos principais defensores dessa fusão, não?
R. Em vários pontos eu defendo. Mas não posso radicalizar, mesmo que favoreça o meu setor. Eu tenho de priorizar o meu país. Temos de avaliar os prós e os contras para entender se isso é mesmo interessante. Se não for, não vejo problema nenhum. O que não pode continuar é tendo um ministério político, de conchavos. Isso ficou muito definido com o Bolsonaro. Estivemos com 40 empresários do agronegócio, esse foi um recado, um pedido. Essa é a base de compromisso do Bolsonaro com seus eleitores. No Governo dele não haverá nenhum tipo de conchavo. Não haverá a velha política do toma lá, dá cá.
P. Por que os produtores defendem a unificação das pastas?
R. Não é hora de entrar em detalhes agora. A fusão seria uma forma de diminuir ministérios porque há essa posição definida de cair para 15 ministérios. Vai ter de fazer fusão. E até a extinção de alguns. Depois de eleito, ele vai definir como será.
P. Essa fusão não enfraqueceria o Meio Ambiente?
R. Não entendo que isso ocorreria. Mas não quero entrar nesse detalhe porque essa fusão pode nem acontecer. E qualquer coisa que eu fale poderá gerar novos questionamentos. O Governo Bolsonaro, em caso de eleito, poderá responder melhor. O que nós queremos é ouvir amplamente todos os setores.
P. Você é um dos cotados para o ministério da Agricultura em um eventual Governo Bolsonaro. Como tem sido essa conversa com o candidato?
R. Não sei se sou cotado. Sou amigo do Bolsonaro. Ele me reconhece como um conselheiro para o agronegócio. Esse é o meu papel. Antes de mais nada é ser um representante de uma entidade importante do setor do agro, que é a União Democrática Ruralista. Sou o presidente da UDR. Sou produtor rural da quinta geração. Meu tataravô já era produtor rural. Não estou caindo de paraquedas. Sou da raiz da produção agrícola e pecuária. E conheço o Bolsonaro há mais de 20 anos.
P. Como você se aproximou dele?
R. Sempre fiz parte da diretoria e núcleos atuantes da UDR. E o Bolsonaro sempre teve empatia muito grande com o produtor rural e com o segmento produtivo agrícola e ganadeiro. Isso aí fez com que tivéssemos uma proximidade. Fomos assimilando algumas ideias e posições, quando ele se definiu para concorrer à Presidência, teve nosso apoio. Minha função hoje não é ser cotado para a Presidência, mas ajudá-lo. Tenho orientado Bolsonaro em vários momentos por conta de minha experiência. Ele não é produtor, não é agropecuarista, por isso tenta ouvir a gente.
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