A base de apoio a Jair Bolsonaro
O “combo” constituído pela rejeição à política tradicional, pelo combate à corrupção e por uma visão mais punitivista sobre o combate à criminalidade formou o caldo sobre o qual o apoio ao candidato se consolidou
A poucos dias do primeiro turno das eleições presidenciais, o candidato Jair Bolsonaro (PSL) lidera a disputa. Segundo pesquisa Datafolha divulgada no dia 02 de outubro, o capitão reformado conta com 32% das intenções de voto. A preferência pelo candidato de direita cresceu ao longo do ano. Mas subiu a partir de uma base relativamente sólida construída a partir de sua militância política. Em pesquisa realizada pelo Datafolha em novembro de 2017, Jair Bolsonaro já contava com 11,2% das menções na pergunta espontânea, atrás apenas de Lula (PT), com 16,5%. Quem foram seus apoiadores de primeira hora? Quais são as características do “núcleo duro” do bolsonarismo? Se assumirmos que a menção ao candidato na pergunta espontânea, um ano antes do pleito, é um bom indicativo de seus eleitores mais fiéis, podemos, com os dados que temos aqui, apresentar a base sobre a qual se assentou o apoio ao candidato.
De uma maneira geral, com relação às características sociodemográficas, os apoiadores de Bolsonaro, no final de 2017, destacavam-se pela idade, pela cor, pelo sexo, pela escolaridade e pela religião quando comparados ao restante do eleitorado. Jovens, homens, brancos e evangélicos estavam claramente sobrerrepresentados, assim como pessoas com maior nível de escolaridade. O gráfico abaixo resume esses achados.
Para além das diferenças de corte sociodemográfico, é interessante observar as variações com relação a temas políticos e sociais entre os grupos. A avaliação do desempenho de deputados e senadores é algo que distingue os bolsonaristas. Embora a avaliação não seja boa de uma forma geral, para 69,8% dos apoiadores de Jair Bolsonaro ela era ruim ou péssima, contra 59,1% entre os outros eleitores.
Com relação ao principal problema do País, outra diferença importante. Para os bolsonaristas, o principal problema era a “corrupção” (23,1%). Para os outros eleitores, era a “saúde” (25,1%).
O Datafolha fez uma pergunta sobre a possibilidade de votar em um candidato apoiado pelas seguintes personalidades: Lula, Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer e Sérgio Moro. Segundo os dados, apenas o apoio de Sérgio Moro seria capaz de influenciar a maioria dos eleitores de Jair Bolsonaro naquele momento.
Por fim, analisamos alguns temas relativos a valores sociais. Com relação à criminalização do aborto, não houve diferença significativa entre os bolsonaristas e os outros eleitores. No entanto, com relação ao “direito de portar armas” e ao “apoio à pena de morte”, as diferenças são substantivas. 78,3% dos eleitores de Bolsonaro afirmaram serem favoráveis à posse de armas, enquanto a porcentagem entre os outros eleitores foi de 37,2%. No mesmo sentido, 76,6% dos bolsonaristas se declararam favoráveis à pena de morte, enquanto a porcentagem entre os outros eleitores foi de 54,3%.
O que esses dados sugerem? Eles indicam que os “bolsonaristas originários”, provavelmente a base da militância do candidato durante todo o período eleitoral, possuíam uma visão negativa sobre a política considerada “tradicional” e estavam especialmente preocupados com o tema da “corrupção”. Para além disso, tinham visões claras sobre alguns temas sociais, como a “pena de morte” e o “porte de armas”.
O “combo” constituído pela rejeição à política tradicional, pelo combate à corrupção e por uma visão mais punitivista sobre o combate à criminalidade formou o caldo sobre o qual o apoio ao candidato se consolidou. Durante a campanha, dado o crescimento de Fernando Haddad (PT), somou-se a ele o forte “antipetismo” existente em boa parte do eleitorado. O capitão reformado passou a ser visto como uma alternativa “consistente” ao retorno do PT ao poder.
Todos os temas acima preocupam uma grande parcela do eleitorado. Jair Bolsonaro passou a ser visto como um candidato com capacidade para enfrentá-los. Até o momento, nem mesmo a completa ausência, por parte do candidato, de respostas elaboradas sobre todos os assuntos, em especial como resolver questões fundamentais, como a estagnação econômica, o desemprego, e como melhorar nossos sistemas de saúde e de educação, foram capazes de minar essa percepção.
Oswaldo E. do Amaral é professor da Unicamp e diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da mesma instituição.Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2018, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: observatoriodaseleicoes.org
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