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Opinião
Texto em que o autor defende ideias e chega a conclusões basadas na sua interpretação dos fatos e dados ao seu dispor

Quero hoje uma bandeira branca para o Brasil

O país precisa se erguer, deixar de lado as bandeiras do “nós contra eles”, parar de acreditar que a violência é exorcizada com mais violência

Juan Arias
Apoiadores do candidato Jair Bolsonaro em vigília no hospital Albert Einstein.
Apoiadores do candidato Jair Bolsonaro em vigília no hospital Albert Einstein.Nelson Antoine (AP)
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O Brasil é hoje um laboratório político, por JUAN ARIAS

Minha bandeira já teve muitas cores ao longo de minha vida. Hoje, no Brasil e para este país em guerra ideológica entre irmãos, quero uma bandeira branca na qual possam se abraçar, sem mãos ensanguentadas, todas as ideias, todas as cores da pele, todos os pensamentos criativos.

O Brasil não será o mesmo depois do atentado que fez o candidato à presidência e capitão da reserva Jair Bolsonaro perder mais de três litros de sangue, deixando-o à beira da morte. A política também não. O ódio, que não sei de qual cor é, parece correr solto por este país do sol. Um ódio tristemente alimentado por aqueles que deveriam ter sempre erguida a bandeira da concórdia entre diferentes, por aqueles que continuam pensando e pregando, de um lado a outro da política, a antiga lei de talião, do olho por olho e dente por dente. Ódio por ódio termina sempre em tragédia.

Em todas as guerras da História onde corria o sangue de ambas as partes, a bandeira branca era como um arco-íris de paz erguido como símbolo de trégua. O Brasil precisa se erguer, deixar de lado as bandeiras do “nós contra eles”, parar de acreditar que a violência é exorcizada com mais violência. Enchamos as mãos de nossas crianças, que são o Brasil que sonhamos para elas, não de gestos de guerra, mas sim de pombas da paz.

Hoje no Brasil tudo parece ter a cor do sangue, das chamas do incêndio do Museu Nacional, que engoliu séculos de história, até aquele derramado toda dia, toda hora, todo minuto, com tantas armas disparando contra a vida, no barro das favelas e no asfalto da cidade. Sim, também o sangue arrancado no vil atentado ao militar Bolsonaro, que aspira a governar o país. Ele tem razão quando reclama que ninguém hoje, no Brasil, sai tranquilo à rua, mas se equivoca quando acredita que essa hemorragia de vidas pode ser detida armando até as pombas do parque.

Não é nos armando até os dentes que seremos todos mais seguros, e sim desarmando as ratoeiras das ideologias do ódio e da violência, da caça aos diferentes, da inquietação com as ideias que não coincidem com as nossas. O Brasil hoje se reflete em abismos perigosos de intolerância política e até religiosa. Houve um tempo em que existiam − como em Oeiras, a primeira cidade do Piauí − três igrejas diferentes, para brancos, negros e pardos. Hoje as visitamos com a lembrança de uma blasfêmia religiosa. No entanto, o Brasil de hoje, em que entram juntas na igreja pessoas de todas as cores de pele, continua mantendo Igrejas políticas separadas para quem pensa diferente, outra blasfêmia − não contra os deuses, mas sim contra a tolerância. É a nova inquisição cultural e política que não permite que alguém possa votar, pensar, amar e até morrer como preferir.

Quero para este país muitas bandeiras brancas onde cada um possa escrever, sem medo de ser açoitado ou expulso da convivência humana, pensamentos de paz, desenhos cheios de diversidade cultural e humana. Aí sim, nessa bandeira branca, usemos, como as crianças, todas as cores, pintemo-nos com todas elas até criar um arco-íris do qual não se disparem raios de violência, e sim feixes de luz.

Basta de ódios e de sangue. Eu, que não voto aqui, quero que os brasileiros, dentro de um mês, saibam digitar nas urnas nomes capazes de nos unir em vez de continuar nos desgarrando entre irmãos quase em uma guerra civil. Votem em políticos que não tenham perdido a esperança de que o país possa sair do inferno da intolerância que está nos dessangrando. Alguém que seja capaz de ensinar às crianças e aos adultos gestos brancos de paz.

A Bolsonaro, como pessoa, desejo que recupere seu sangue perdido e volte para sua casa curado do vil atentado de que foi vítima. O que eu gostaria é que ele voltasse do hospital nos dando a surpresa de ter aprendido na dor algum gesto novo para fazer com as mãos. Gestos que evoquem a vida, aquela que tentaram arrancar dele, e não a morte. Gostaria de lembrar a ele, um fiel cristão, a passagem do capítulo 26 de Mateus em que Jesus, diante do apóstolo que, no Monte das Oliveiras, havia sacado a espada e arrancado a orelha de um dos soldados que iam prendê-lo, afirmou: “Guarde a espada em seu lugar, porque todos que empunharem a espada morrerão pela espada”.

Que o Brasil embainhe todas suas espadas sem esquecer que as palavras podem ser espadas de ódio ou versos de reconciliação.

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