Oposição convoca “paralisação nacional” na Venezuela
Partidos sugeriram medida após Maduro anunciar pacote de medidas econômicas
As medidas econômicas anunciadas pelo Governo de Nicolás Maduro serviram de combustível para que setores políticos e sindicais vinculados à oposição venezuelana convocassem uma greve geral para a próxima terça-feira, 21 de agosto, um dia depois da entrada em vigor da polêmica reconversão monetária. A paralisação, de um dia de duração, chama a protestar contra o catastrófico estado geral dos salários, da economia e das condições de vida no país.
ATENCION. Convocamos este martes #21Ago a un primer día de PROTESTA Y PARO NACIONAL, en contra de Maduro, en contra de la hiperinflación y el hambre. Mañana daremos los detalles #UnionNacionalYHuelgaGeneral
— Primero Justicia (@Pr1meroJusticia) August 18, 2018
Andrés Velásquez, dirigente trabalhista siderúrgico e líder do partido A Causa Radical, foi um dos principais organizadores da convocatória. Ao lado de outros dirigentes sindicais e políticos, agrupados na Frente Ampla por uma Venezuela Livre, Velásquez estava há algumas semanas fazendo consultas em nível nacional para analisar a disposição dos trabalhadores e cidadãos a aderirem à greve, tipo de protesto normalmente difícil de concretizar com sucesso na Venezuela atualmente devido ao controle férreo que o chavismo exerce sobre a administração pública.
Nesta ocasião, no entanto, vai se impondo a sensação geral de que o chamado para a greve pode encontrar apoio incomum, devido à situação desesperada em que vive quase toda a população, e que levou sindicatos —dos setores telefônicos, de transporte e a indústria elétrica— tradicionalmente controlados pelo chavismo, a sair às ruas e bloquear avenidas em protesto.
“Todos. Sem exceção. Trabalhadores, empresários, estudantes, desempregados, toda a sociedade civil deve ir à paralisação nacional e ao protesto”, escreveu Velásquez em sua conta do Twitter. Da organização dessa iniciativa cívica tinham ficado inicialmente excluídos, em um acordo pactuado entre todos, patrões e empresários, um dos elos mais vulneráveis da trama social opositora por sua alta exposição às sanções do Governo de Maduro. No entanto, a irritação chegou a níveis tão altos que não se descarta sua participação.
Além de Velásquez, sobressai no chamado à greve Maria Corina Machado, líder de Vamos Venezuela. A dirigente, que há um tempo decidiu sair da MUD por ter diferenças importantes de critério quanto aos métodos para enfrentar o Governo, não parou de percorrer o país. Depois dos anúncios de Maduro, Machado declarou: “O que foi anunciado ontem acelera o desenlace. Ou ficam e nos exterminam, ou os tiramos e reconstruimos a Venezuela”.
Apesar de nem toda a oposição estar decidida a convocar a greve —em parte por ter reservas diante do tom desafiador de dirigentes como Machado—, a decisão, afirmam os organizadores, foi tomada há dias. Faltava determinar a data, e a perturbação geral que os anúncios de Maduro produziram parece ter sido a gota que fez o copo transbordar. Juan Pablo Guanipa, Secretário Geral de Primero Justicia, e Juan Guaidó, da direção nacional de Vontade Popular, anunciaram que suas organizações acompanham a iniciativa e convidaram a população a se juntar.
As decisões anunciadas por Maduro estão orientadas, segundo porta-vozes do Governo, a recuperar o poder de compra dos trabalhadores. Parte do alarme que soou na sociedade venezuelana consiste, exatamente, na estratégia que o chavismo transformou em tradição: aumentos salariais unilaterais que têm um impacto inflacionário destruidor, que não podem ser assumidos com facilidade pelos empresários, e que costumam traduzir-se em maior paralisia, falência, imigração e desemprego.
“O Governo mantém o país praticamente paralisado em todos os sentidos, e não cumpre a todo momento com suas obrigações, na prestação de serviços elementares, como água, transporte ou energia. Os conflitos sociais não vão parar até que isso mude”, declarou Víctor Márquez, outro organizador da concentração e líder do Sindicato dos Professores Universitários.
O protesto do dia 21 não quer propor uma greve indefinida “nem derrubar o Governo”, disse o próprio Márquez. Uma vez realizado o dia de protesto, seus organizadores avaliarão politicamente o que se deve fazer. “O que queremos é organizar a população, exigir que nossos direitos sejam respeitados e enfrentar um Governo que não cumpre suas responsabilidades”.
Agora, o chamado dos dirigentes políticos opositores tem sido muito mais raivoso, e parece refletir a sensação generalizada entre a maioria da população de ter chegado ao limite. Esta greve, na boca de Velásquez, Machado, Guanipa e outros de seus organizadores, é “um primeiro dia de protestos” em um novo ciclo de tensões contra Maduro.
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