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Marielle e Mônica: uma história de amor interrompida

Aos 5 meses da morte da vereadora, Mônica Benício conta como Marielle se tornou o amor da sua vida e explica por que dizer que é sapatão é um ato político

Mônica Tereza Benício segura a boneca de pano Mariellinha, uma homenagem ao seu grande amor.
Mônica Tereza Benício segura a boneca de pano Mariellinha, uma homenagem ao seu grande amor.Daniel Arroyo (Ponte Jornalismo)

Era uma tarde de sábado quando a arquiteta Mônica Tereza Benício, 32 anos, nos recebeu em sua casa, seis dias antes de tatuar o rosto do seu Chicão, como carinhosamente chamava Marielle, no dia em que ela completaria 39 anos, em 27 de julho. Em quase três horas de bate-papo, a arquiteta contou como foram os 14 anos da história de amor com Marielle Francisco da Silva, que só se tornou Franco há dois anos.

O primeiro encontro, o momento em que a amizade se tornou paixão, o primeiro beijo, os momentos de dificuldade, a falta de aceitação —da família e delas mesmas. Um romance que poderia bem ser roteiro de filme: mesmo com tantas idas e vindas, o coração de uma pertencia a outra. “O que aconteceu com a Marielle não pode servir para perder a esperança. A gente precisa transformar o que aconteceu numa releitura, para ressignificar e recobrar essa esperança”, explica.

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Hoje, impulsionada pela morte de sua companheira, Mônica, que se reconheceu como sapatão por causa do amor com Marielle, aceitou ocupar um lugar importante na militância e enfatiza: “Me reconhecer e dizer que sou sapatão é um ato político”.

Lugar este que, aliás, Marielle fazia questão de defender dentro da Câmara dos Vereadores do Rio, como a Ponte contou em março em reportagem sobre a relação da vereadora com as lutas LGBT. Um dos 20 projetos de lei que a vereadora tentou emplacar em seu mandato defendia a inclusão do Dia da Visibilidade Lésbica no calendário da cidade do Rio de Janeiro, comemorado em 29 de agosto, mantendo bem perto de seu mandato, ou “mandata”, como ela chamava, os movimentos de mulheres lésbicas e bissexuais.

“Vamos conhecer a casa?”, disse Mônica depois de partilhar conosco lindos detalhes de uma história de amor tragicamente interrompida no 14 de março, quando a quinta vereadora mais votada do Rio foi executada em um crime que completa cinco meses ainda sem solução. Do quarto do casal ao jardim que ela construiu para Marielle, Benício nos mostrou a intimidade de seu relacionamento com Chicão. Nas portas do guarda-roupas, a concretude desse amor nos mínimos detalhes: fotos e recados deixados uma para outra durante os dias.

Bilhetes que as duas frequentemente trocavam: “Com você sou uma pessoa melhor”.
Bilhetes que as duas frequentemente trocavam: “Com você sou uma pessoa melhor”.Daniel Arroyo (Ponte Jornalismo)

A prática de escrever uma para outra era muito comum. Tanto que, em determinado momento, Mônica tirou uma grande caixa do armário que continha diversas cartas trocadas pelo casal nos últimos 14 anos. Uma delas, encontrada dentro da bíblia de Marielle, relatava as lembranças vívidas na memória de Benício em relação ao primeiro encontro e os anos em que morar juntas era um sonho muito distante. Emocionada, leu a carta em voz alta:

Lembro de estar sentada na porta da igreja em cima de minha mala, onde estava a minha fantasia de carnaval, quando vi a personificação de que viria, muito breve, a ser o amor da minha vida. Lembro da luz, lembro do cheiro do cabelo que logo senti ao me cumprimentar, lembro do tom esverdeado da blusa azul clara. Lembro da criança que corria a sua frente, mas, sobretudo, eu me lembro do sorriso e de como o meu estômago revirou e o meu coração disparou ao ver aquele sorriso. O tempo, paciente e sábio ditoso, retomou o que jamais podia ser separado. E ainda que o tempo se descompasse, se perca e mude novamente, não será razão para separar, nada pode dividir o indivisível. 13 anos depois, o que foi sonhado, ensaiado, desejado se concretiza. Como nada nunca foi fácil, até aqui as dificuldades são dramáticas, reais e testam diariamente a vontade do permanecer, mas o amor permanece, a paixão permanece, o desejo de caminhar juntas permanece. Não poderia te amar de outra forma se não posso ser inteira sem você. Te amarei sempre para seguir amando, entendendo que nada no meu mundo é completo sem você. Não há hoje uma razão especial que justifique o meu textão, a única ocasião especial é que eu vou te entregar isso na nossa casa e que vamos dormir juntas sem preocupação e que poderemos seguir juntas pela manhã. Houve um tempo que isso era só um sonho e se hoje é real deve ser celebrado diariamente. Feliz mais um dia, meu amor, te amo.

Agora a saudade é impulsionada pela vontade de mudar as coisas.

O começo de tudo

De uma despretensiosa viagem com as amigas de Marielle que frequentavam a Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, em fevereiro de 2004, passando por um beijo que durou toda uma madrugada, Mônica conta que parece até destino esse encontro delas. Logo de cara, Marielle tirou Mônica do sério porque atrasou mais de duas horas e chegou, como quem não quer nada, com a filha Luyara, que tinha apenas 5 anos.

“Aí a Marielle veio cumprimentando as pessoas, mas eu ainda não tinha olhado pra ela, pois estava entretida brincando com a Luyara. Ela parou na minha frente e deu boa noite pra se apresentar. Eu já tava puta, pensei ‘chegou a atrasada, que maravilha’, e aí olhei para cima para cumprimentar. Lembro exatamente do primeiro momento que eu olhei Marielle, é muito nítida a imagem na minha cabeça daquele momento. E aí passou a minha raiva, e a gente começou a conversar um pouco, esperando arrumarem as malas. Ali a gente já mobilizou as pessoas e trocaram de lugar pra gente sentar juntas e ir conversando”, relembra Mônica.

Durante a viagem, a identificação entre as duas foi imediata: elas passaram todo tempo possível juntas. Antes de se conhecerem, nenhuma das duas tinha tido histórico de relacionamento com outras mulheres. Depois de muita conversa, descobriram que moravam há apenas 300 metros de distância na Maré. Por conta de uma reunião de trabalho, Marielle teve que voltar mais cedo para a capital fluminense.

Não demorou muito para que se encontrassem novamente. Dias depois, com um encontro marcado, Marielle foi buscar Mônica na igreja, local onde se conheceram. Nessa época, Marielle tinha muita vivência na igreja católica e convenceu Mônica a retomar o contato com a religião, que voltou a fazer o curso de crisma e passou a frequentar as missas de domingo. Foi Marielle que incentivou Mônica e fazer o pré-vestibular da Maré. Então, as amigas passaram a conviver os sete dias da semana: de segunda a sábado se viam no cursinho, pois Marielle era secretária do local, e aos domingos na igreja.

Nesse período, como tinha saído da Maré —sua mãe tinha ido morar em Jacarepaguá, cerca de duas horas de distância—, e as aulas do cursinho terminavam depois das dez horas da noite, Mônica passou a dormir na casa da amiga durante a semana. Um ano se passou e, como nenhuma das duas tinha pensado na possibilidade de ter algo mais do que amizade, ficavam juntas na mesma cama (uma bicama de solteiro), conversando até de madrugada. A primeira a dormir continuava na mesma cama, enquanto a outra mudava pra cama de baixo. Em uma dessas noites, meio sem querer, aconteceu o primeiro beijo.

“Foi um susto. ‘O que a gente tá fazendo?’. Ao mesmo tempo que esse beijo aconteceu e deu muito medo, a gente ficou ‘e agora, se parar vai ter que conversar sobre isso’, e aí a gente ficou horas se beijando, até o dia clarear e a casa começar a se movimentar. Só então a gente falou ‘pronto, tá na hora de parar’. Mas daí já tinha gente acordada não tinha tempo pra uma DR”, narra Mônica.

No dia seguinte, elas precisavam conversar para entender o que havia acontecido. Mas era primeiro de fevereiro, aniversário de Mônica, e Marielle havia planejado uma festa surpresa. A conversa precisou ser adiada até o fim do dia. Com um tom de negação, elas falaram sobre o tal beijo.

– Você já tinha pensado sobre isso?

– Não. Você já tinha?

– Não, a gente confundiu as coisas, não era isso.

Depois da festa surpresa, todos foram embora e elas ficaram a sós de novo. Mais um beijo aconteceu e dessa vez com a certeza de que não era um erro. Durante os próximos 7 meses, o casal escondeu o relacionamento com medo da possível reações de seus amigos e familiares.

“A gente não tinha assumido para as pessoas, mas as pessoas já tinham entendido. Tinham entendido antes da gente inclusive, mas foi um período difícil, porque a gente tinha medo e vergonha de contar, pois eram duas mulheres faveladas, que vinham de um universo que é muito machista. Então como é que ia ser isso, como a gente ia falar sobre isso? Como que as pessoas iam entender? Se as pessoas iam aceitar? Se não iam aceitar? Da família a gente já imaginava que ia ter muita resistência, então a gente demora muito para ter esse relacionamento mais público”, recorda.

“Eu me apaixonei por ela no primeiro momento que eu vi”, diz Mônica.
“Eu me apaixonei por ela no primeiro momento que eu vi”, diz Mônica.Daniel Arroyo (Ponte)

Sol em leão, lua em aquário

Por conta da reprovação da família, e levando em consideração as dificuldades financeiras, Marielle e Mônica não conseguiam seguir juntas. Terminavam e tentavam se relacionar com outras pessoas, sobretudo homens por causa da aceitação social. Somente em 2013, o casal consegue a estabilidade para estruturar uma relação mais longa.

Os brincos que Marielle gostava de usar ainda estão na casa.
Os brincos que Marielle gostava de usar ainda estão na casa.Daniel Arroyo (Ponte)

Olhando para trás, Mônica consegue perceber que, quando rolou o primeiro beijo, já estava apaixonada por Marielle. “Eu me apaixonei por ela no primeiro momento que vi. Porque foi uma coisa muito específica, a sensação, e depois toda relação”, conta.

Marielle vivia atrasada. Por causa da agenda pública, tinha muitos momentos de imprevisto. Se tinha reunião às 9h, por volta desse horário ela ia para o banho. Mas com Mônica ela não podia ser tanto.

“Uma vez, marquei o cinema com ela, eu já tava puta com alguma coisa que eu nem lembro o que era, e então sei que eu falei assim ‘olha só, se você atrasar eu vou embora’. Marcamos o horário, lembro que era um horário redondo, seis ou sete. Mandei uma mensagem avisando que tinha chegado, 5 minutos antes do combinado, e ela disse que estava no caminho. Perguntei ‘onde?’, ela dizia ‘tô chegando’ e eu perguntava ‘quanto tempo?’. Falei ‘vou te esperar até seis e cinco e se até seis e cinco você não chegar, eu vou embora, falei pra você que eu não ia esperar hoje’. Ela não chegou e eu fui embora. Ela me encontrou no meio do caminho, conseguiu me achar no ponto de ônibus e tal, e eu falei ‘não vou mais ficar aturando seus atrasos, isso é um absurdo, uma falta de respeito'”, relembra.

A personalidade de cada uma era refletida pela paleta de cores do guarda-roupas. Do lado de Marielle, leonina, todas as cores possíveis. Roupas brancas eram raridade. Já do lado de Mônica, aquariana, é possível encontrar apenas branco, preto e cinza. Mas um dos segredos do dia a dia com Marielle estava nas inúmeras vezes que Mônica teve que brigar com a companheira para que ela controlasse os gastos: Marielle adorava fazer compras.

“Eu brigava muito, porque ela gastava muito com roupas, bolsas e sapatos. Falava que ela não era centopeia, que ninguém precisa de tanto sapato. Eu tinha dois pares de sapato e achava que isso era mais do que suficiente. Eu só tenho dois pés, gente”, diverte-se. “Por que eu preciso mais do que isso? É um pra andar na chuva e um pra andar no sol. Então eram dois guarda-roupas, um no nosso quarto e um no escritório, e 99% era só de roupa dela”, lembra.

Era difícil manter a companheira na linha quando o assunto era alimentação, mas Mônica não desistia. “Eu regulava a alimentação dela porque ela comia muito. Chegou num nível que eu tava pesando a comida! Comia pra caramba e saía daqui chorando falando que ia passar fome o dia inteiro. Ela falava ‘você vai me matar’, e eu respondia ‘Marielle, para de reclamar, aqui tem mais do que o suficiente de comida, e se você comer nas horas certas vai dar tudo certo, você não vai ficar com fome’. Só que ela chegava no gabinete e roubava a comida das pessoas. Depois vinham me falar ‘Mônica, você precisa deixar a Marielle comer porque ela tá roubando nossa marmita’. E ela metia mesmo a mão na comida das pessoas”, conta.

A mulher forte que era vista em público amolecia ao lado da mulher amada. Quando a gripe começava a chegar, Marielle era só dengo para cima de Mônica, procurando por atenção, carinho e uma boa sopa. Para Mônica, cozinhar era um ato de amor, por isso, desde que a companheira morreu, ela parou de cozinhar.

“Quando ela tava muito gripada, falaram de uma receita de sopa que era muito maravilhosa e sei lá o que. Fui na rua, comprei os ingredientes da sopa e fiz pra ela. Olhava no sofá para Marielle, e ela com cino meias, 15 calças, um casaco, uma touca, repetindo ‘tô morrendo, tô com muita febre, acho que vou ter que ir no hospital’. Peguei o termômetro e 37,5º C. Olhei pra cara dela e falei ‘meu amor, você vai sobreviver, é só uma gripe, fica calma, e tudo bem. Toma sopa, toma chá’. Ela não gostava dessas coisas de tomar remédio, ela gostava mais das coisas naturais”.

Entre as boas lembranças da vida ao lado de Marielle, Mônica guarda uma especial. A arquiteta tem como passatempo cuidar de muitas plantinhas. Uma noite, quando estava trabalhando de casa, recebeu a notícia inesperada que Franco iria cuidar das plantas naquele momento. Como único pedido, Marielle escutou de Mônica: “mas tem que conversar com elas, tá bom?”. Durante todo o tempo que ficou regando as plantas, Marielle falava especificamente com uma delas: a roxinha.

“Fiquei escutando ‘porque você é tão bonita, não sei o que e nãnãnã’, ‘ah, porque essa roxinha é minha favorita, porque você é tão bonita’. Eu, trabalhando no computador, pensei ‘eu nem tenho planta roxa!’. Aí, eu olhei e falei: ‘o que você tá falando?’ e ela ‘essa aqui, é minha favorita’. Dei um ataque de risos e falei ‘Marielle, isso é uma planta de plástico!’. Ela insistia ‘mas ela é tão bonita, minha favorita, cheguei a fazer assim nela’, e apertava a planta com a unha, e eu falei que ‘se fosse de verdade você tinha machucado ela, né meu amor, não pode fazer isso com a planta não. Que bom que eu passo horas cuidando de um jardim inteiro pra você e sua planta favorita é uma planta de plástico, fico muito lisonjeada com isso, com essa sua atenção”, relembra entre risadas.

A ‘roxinha’, planta preferida de Marielle, é artificial.
A ‘roxinha’, planta preferida de Marielle, é artificial.Daniel Arroyo (Ponte)

Militância como fortaleza

“Assumir isso pra mim mesma é o processo que dá start nessa militância. É muito importante, diante do simbolismo que eu venho me tornando, dizer que sou sapatão, é uma questão de querer me tornar referência positiva para que outras pessoas que tiverem aquele tipo de sentimento de vergonha e dor, olhe, se identifiquem e olhem que é possível. A gente tem que lutar, a gente tem que andar de mãos dadas com a pessoa que a gente ama, mesmo sabendo que pode ter olhar feio, mesmo sabendo que pode ter piadinha, mas isso precisa ser bancado, precisamos afirmando isso na luta diária pois é um direito simples e básico de amar, isso tem que ser legítimo”, conta Mônica, que por muitos anos teve a sua militância apenas nos bastidores.

Apesar de ainda ser muito complicado para Mônica se tornar a Mônica que fala publicamente em frente às câmeras, ela decidiu falar. O tamanho das lentes e o barulho dos cliques ainda a assustam. É a sua forma de pedir justiça pelo assassinato da mulher de sua vida.

O primeiro discurso público foi realizado no plenário em Brasília, quando Mônica, ao lado da cunhada Anielle Franco, disse: “A Marielle se tornou uma coisa muito maior, ela se transformou em um símbolo de esperança e é por isso que a gente vai lutar e seguir lutando, porque Marielle é resistência, Marielle é força, Marielle é potência, e o mundo agora está vendo isso”.

O segundo, direcionando sua fala para o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão: “Seu governador, o senhor tem sangue nas suas mãos enquanto o caso da Marielle não for solucionado”. Aos poucos, o luto foi se tornando luta e Mônica aceitou a falar em eventos, como na “Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de SP“.

“A Mônica que passa a falar diante das câmeras, é uma Mônica que nem eu sabia que existia. Foi uma Mônica construída nesses 129 dias por uma necessidade, por ainda ter medo desse lugar de fala, mas que acha que a causa é muito maior e que não pode ser superada. Hoje esse é o único medo que eu tenho, então é muito pouco perto do que a luta que eu resolvi travar representa, então a gente vai com câmera mesmo e é o que tem pra hoje”, afirma.

Sobre a cadeira vazia deixada pela figura de Marielle, na vida de Mônica, na militância e na Câmara, a arquiteta é enfática ao dizer que “se a gente deixar essa cadeira vazia, de vida e luta, a gente vai deixar de lutar com a potência que Marielle fazia e isso não pode acontecer, a gente não pode perder potência, a gente tem que ganhar potência nesse momento pra poder fazer valer o 14 de março. E, para o que aconteceu com Marielle não seja motivo de perder a esperança, mas que a gente transforme o que aconteceu em uma releitura para ressignificar a esperança, porque a gente precisa de mais Marielles na política, não menos”.

Proteção internacional

No começo de agosto, por determinação da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) , da OEA (Organização dos Estados Americanos), a justiça brasileira será obrigada a tomar medidas para proteger a vida de Mônica, após ter sido escutado de homem que ela seria a próxima e seguida, por duas vezes, por um carro branco perto de sua casa.

Por telefone, Mônica contou à Ponte quais os próximos passos para receber a proteção do Estado. “Eu entrei em contato com a OEA pedindo proteção como ativista, para continuar defendendo os direitos humanos. O próximo passo agora é o Brasil aceitar as medidas cautelares e me procurar para vermos a melhor forma de proteção, o que ainda não aconteceu oficialmente. Em uma primeira conversa, o Estado me ofereceu o programa de testemunhas, mas não é isso que eu quero, eu não sou testemunha de nada, o que eu quero é continuar sendo defensora dos direitos humanos. Fui na DHPP [Delegacia De Homicídios E Proteção À Pessoa], na semana passada, para falar sobre o caso da Marielle, e a Polícia Civil se colocou a disposição para eventuais acontecimentos, mas ainda falta esse contato oficial do Estado”.

Marielle Vive

Nos despedimos de Mônica, que pediu para a gente avisar quando chegasse em São Paulo, e fomos embora rumo à rodoviária. Passamos pela porta com os dizeres “Marielle presente”. Passos lentos em direção à rua. Primeiro portão, segundo portão. Quando ele finalmente fechou, eu e Daniel ficamos alguns segundos sem ação, a gente se olhou e se abraçou.

A emoção tomou conta de nós. Foi real, tínhamos acabado de escutar uma das histórias de amor mais lindas que nossos ouvidos um dia vão escutar. Interrompida tragicamente. Mas não é à toa o adesivo “Marielle vive” no portão da casa de Marielle e Mônica. Marielle vive e sempre viverá enquanto essa história ecoar.

Reportagem originalmente publicada no site Ponte Jornalismo.

Uma das cartas escritas por Marielle para Mônica.
Uma das cartas escritas por Marielle para Mônica.Daniel Arroyo (Ponte)

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