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No farol, William pede dinheiro e um emprego: “Você se importa de receber meu currículo?”

Há um ano sem trabalho, estudante de Direito pede contribuições nas ruas do Recife para conseguir tirar mais cópia dos currículos

William Douglad, na rua em que pediu dinheiro no Recife.
William Douglad, na rua em que pediu dinheiro no Recife.Shilton Araújo
Marina Rossi
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O estudante de Direito William Douglad da Silva Alves, 22, passou as últimas três semanas dividindo seu tempo entre a faculdade e os semáforos das rua do Recife, onde pede dinheiro aos motoristas. Desempregado há um ano, ele não consegue mais pagar a mensalidade de 1.095 reais da faculdade desde o fim do ano passado. “Fui fazer a matrícula no início deste ano e já estava devendo mais de 3.000 reais”, conta. Apesar de não estar oficialmente matriculado, ele segue assistindo às aulas, mas não pode fazer as provas do 5º período que está cursando.

Sem nenhuma oferta de emprego depois de procurar a Agência do Trabalho de Pernambuco, órgão estadual que divulga as ofertas e demandas de trabalho, tentou buscar uma alternativa para resolver seu problema. “Vi que estava difícil a coisa na Agência do Trabalho. Aí um dia, de manhã, pensei: o que falta para eu ir para a rua pedir ajuda?”. Sabendo da resposta, encheu uma pasta de currículos e foi para a saída do Shopping Recife, no bairro de Boa Viagem, zona Sul da cidade. Aos motoristas dos carros que paravam, pedia não só dinheiro, mas também um emprego. “Eu pedia qualquer contribuição e aproveitava para perguntar: você se importa de aceitar meu currículo?”. Com o dinheiro que recebia – de 60 a 100 reais por dia -, pagava a alimentação e as novas cópias do currículo.

A situação de William soma-se à de outros 13,7 milhões de brasileiros (13% da força de trabalho) que estão desempregados atualmente. Sob uma lupa, ainda pesam sobre ele dois agravantes. O primeiro, é o fato de ser jovem, camada da sociedade cujo nível de desemprego no primeiro trimestre chegou a 28%. O segundo, é estar em Pernambuco, Estado que encerrou o ano de 2017 com a segunda maior taxa de desemprego do país: 17,6%, ficando atrás somente do Amapá, com 17,7%. Todos os dados foram divulgados pelo IBGE, e são de pleno conhecimento do estudante. “Existem 14 milhões de desempregados no país hoje. Eu sou um deles”, diz.

O estudante conta que muitos de seus amigos estão na mesma situação que ele. “E muitos ainda têm filhos”, diz. “Eu procuro incentivá-los”. Apesar da força e do incentivo, William diz não acreditar que o cenário do país mudará nos próximos meses. E pouco crê que essa mudança virá com um novo presidente. A família, conta, sempre votou em Lula. Neste ano, porém, ele diz que não sabe em quem depositará seu primeiro voto para presidente. “Só sei que em Bolsonaro [candidato do PSL] eu não vou votar, porque não me identifico com a linha dele”, diz. “Talvez eu vote em Marina [Silva, pré-candidata da REDE]. Acho que temos que dar uma oportunidade para ela, assim como demos para Dilma”.

“Eu pedia qualquer contribuição e aproveitava para perguntar: você se importa de aceitar meu currículo?”

Inspiração

Filho de pai taxista e mãe zeladora, William, o do meio entre mais dois irmãos, conta hoje com a ajuda dos pais para pagar as contas da casa, onde mora sozinho, no centro do Recife. Até o meio do ano passado, trabalhava no departamento administrativo de uma loja da sul-coreana Hyundai. Com o salário que recebeu ao longo do 1 ano e 8 meses, pagava a faculdade e ajudava a pagar as contas da família. Demitido, passou a distribuir currículos por onde passou, circulando pelos três shoppings da cidade e diversos restaurantes, até chegar aos semáforos.

A inspiração do estudante - não para cursar Direito, mas sim para ir às ruas - foi um jovem em Brasília que diz ter conseguido pagar a faculdade engraxando sapatos dos políticos. “Eu vi uma reportagem com a história dele e pensei que se ele conseguiu, eu também poderia conseguir”, diz. Nos primeiros dias, ele afirma que só pedia moedas, mas depois perdeu a vergonha e passou a entregar os currículos também. “Todo mundo tem amigos e nem sempre quem precisa de um empregado vai à Agência do Trabalho”, diz. “Muitas vezes as pessoas saem perguntando aos mais próximos se conhecem alguém que poderia se encaixar no perfil da vaga”.

Após três semanas, a estratégia do estudante pode ter funcionado. “Na semana passada uma mulher pegou meu currículo aqui, na saída do shopping, e disse que tinha um amigo que iria me ligar”, disse. Ele conta que naquele mesmo dia recebeu uma ligação de um restaurante e foi fazer uma entrevista. “Estou esperando uma resposta. Eu só quero terminar a minha faculdade e ser aprovado na OAB”.

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