_
_
_
_

Israel se define como ‘Estado-nação judeu’ e minoria árabe protesta contra “apartheid”

Polêmica lei aprovada no Knesset reserva exclusivamente ao povo judeu o direito à autodeterminação, além de instituir o hebraico como única língua oficial

Vista geral do Parlamento de Israel, em 2016.
Vista geral do Parlamento de Israel, em 2016.REUTERS

O Knesset (Parlamento israelense) aprovou na madrugada desta quinta-feira a polêmica Lei do Estado-Nação, que define oficialmente Israel como “Estado-Nação do povo judeu”, reserva o direito à autodeterminação a este coletivo e estabelece o hebraico como única língua oficial. Trata-se de um projeto defendido pela coalizão de Governo do primeiro-ministro Benjamim Netanyahu, que após aprovar o texto —com 62 deputados a favor e 55 contra— afirmou ser este “um momento fundamental na história do sionismo”, porque “estabelece por lei o princípio básico de nossa existência”. Os deputados da Lista Conjunta Árabe abandonaram o plenário aos gritos de “apartheid”, e um deles, o palestino-israelense Ayman Odeh, agitou uma bandeira negra para simbolizar “a morte” da democracia.

A lei, que já havia sido aprovada em primeira votação na Câmara na semana passada, foi alvo de um intenso debate nos últimos dias para modificá-la e obter sua sanção definitiva. Fontes do Knesset dizem que Netanyahu sacrificou a lei de sub-rogação —que permitiria que os homens de Israel tivessem filhos por esse método— em troca do apoio dos partidos religiosos judaicos à chamada lei de nacionalidade.

Mais informações
Parlamento israelense debate a criação de cidades segregadas só para judeus
EUA abandonam o Conselho dos Direitos Humanos da ONU em apoio a Israel
Israel, 70 anos de avanços e velhos conflitos

O presidente de Israel, Reuven Rivlin, o procurador-geral Avichai Mandelblit e os advogados do Parlamento haviam recomendado que o texto fosse alterado e que se buscassem alternativas à exclusão categórica de cidadãos inicialmente proposta, o que abria as portas à rejeição de indivíduos por sua condição social, raça, religião, sexo ou qualquer outra característica. O parágrafo 7-b, que permitia a criação de “comunidades separadas” e foi tachada de “discriminatória” por Rivlin, acabou sendo substituído por outra redação que reconhece que “o Estado considera o desenvolvimento do assentamento judaico como um valor nacional e atuará para estimular e promover seu estabelecimento e sua consolidação”.

Além de mencionar em seus princípios básicos que “o Estado do Israel é o lar nacional do povo judeu”, o texto reconhece o direito de autodeterminação, mas só de uma parte da população. “O direito a exercer a autodeterminação nacional no Estado de Israel é exclusivo do povo judeu”, diz a nova lei.

O novo texto foi aprovado por margem mínima (8 votos contra 7) na comissão parlamentar encarregada de preparar o anteprojeto para sua aprovação definitiva. Esta polêmica lei, além disso, não será uma qualquer no ordenamento jurídico israelense, pois passará a ser parte das chamadas leis básicas, as que regem o sistema legal como uma Constituição (que Israel não tem), são mais difíceis de revogar uma vez aprovadas e são modificáveis apenas por outra norma do mesmo status. Com esta nova lei, já são 12 as leis básicas do Estado de Israel.

Alguns dos parlamentares contrários à sua aprovação argumentam que o texto não menciona nem a palavra democracia nem a palavra igualdade, e que além disso discrimina as minorias não judaicas de Israel. Entre elas os quase 20% de população árabe do país. “É um crime de ódio contra as minorias e contra a democracia. Isto é uma etnocracia. O fato de se considerar como um valor nacional que os judeus se estabeleçam nesta terra significa que continuarão demolindo casas árabes e que não desenvolverão nossas infraestruturas”, disse ao EL PAÍS Ahmad Tibi, deputado árabe do Knesset.

Quem está contra considera a lei discriminatória não só por adotar o direito de autodeterminação somente para os judeus, mas também por reconhecer o hebraico como única língua oficial do país, relegando o árabe a um segundo plano, pois deixa de ser considerado língua co-oficial e é rebaixado a um “status especial”, a ser definido em legislação posterior.

Em outro ponto, a lei afirma que a capital de Israel é “Jerusalém completa e unida”, algo que contradiz os acordos assinados até agora com a Autoridade Nacional Palestina, nos quais se contempla que o status da cidade será definido pelas partes em negociações futuras. “Oficialmente legaliza o apartheid e define legalmente Israel como um sistema de apartheid”, disse em nota Saeb Erekat, o chefe da equipe negociadora palestina.

O texto reconhece também como símbolos do Estado a bandeira branca com duas faixas azuis horizontais perto das bordas e a estrela de David azul no centro; o escudo ou emblema, a menorá (candelabro judaico) de sete braços com folhas de oliveira em ambos os lados e a palavra Israel debaixo, e o hino, o Hatikváh (adaptado de um poema judaico, sobre o retorno do povo a Israel).

Depois da primeira votação no Parlamento, milhares de cidadãos —entre 3.500 e 5.000, segundo a fonte— manifestaram-se em Tel Aviv contra uma lei que, desde sua apresentação em 2011, pelo deputado Avi Dichter, não deixou de motivar críticas.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_