Relatório acusa Amazon de servir como plataforma para a venda de produtos nazistas
Mochilas infantis com ícones supremacistas, roupas de bebê com uma cruz em chamas e soldadinhos nazistas são alguns dos artigos em questão
A Amazon deu um tiro no pé. Um relatório de duas organizações que lutam pela justiça racial acusou o gigante do comércio eletrônico de servir como plataforma para a venda de produtos racistas, nazistas e supremacistas. Isto apesar de a empresa ter adotado por conta própria uma política contra todos os artigos que “promovam ou glorifiquem o ódio, a violência, a intolerância racial, sexual ou religiosa, ou promovam organizações com tais opiniões”. Além disso, a Amazon se concede o direito de eliminar qualquer elemento que considere inapropriado. Mas essa classificação, aparentemente, não foi aplicada aos bodies para bebês com a imagem de cruzes ardendo, aos brinquedos com simbologia nazista e aos livros de editoras supremacistas.
O ressurgimento dos grupos de ódio nos Estados Unidos faz as organizações de combate à discriminação voltarem seus olhos para as grandes empresas. Na quinta-feira passada, a Aliança para as Famílias Trabalhadoras e o Centro de Ação sobre Raça e Economia publicou um relatório em que critica a Amazon por permitir que grupos de ódio e ideólogos racistas difundam suas ideias e gerem recursos para respaldar suas operações enquanto a multinacional lucra. Depois da publicação, a Amazon retirou grande parte dos produtos citados, mais uma vez reagindo à polêmica ao invés de tomar medidas preventivas.
Depois a matança de nove afro-americanos numa igreja de Charleston em 2015, a multinacional se comprometeu a eliminar mercadorias que incluíssem a bandeira do lado confederado da Guerra Civil dos Estados Unidos, hoje associada a ideias supremacistas. Entretanto, em junho deste ano havia dúzias de exemplos de imagens desse estandarte. Os clientes podiam comprar, por exemplo, uma fantasia de “oficial confederado”, que trazia de brinde um broche e patches costuráveis da bandeira, assim como camisetas com a imagem. Outro produto criticado era uma prótese de pescoço que simulava o enforcamento com uma corda, evocando a prática de linchamento utilizada pelos supremacistas brancos norte-americanos depois que a escravidão foi abolida.
Uma figura que se repetia em bodies, mochilas, bonés e brinquedos era a do sapo Pepe. A Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês) tem esse personagem de desenho animado em sua lista de símbolos de ódio, pois ele virou ícone do movimento supremacista branco. Outro produto à venda era uma “mochila infantil” com a imagem do sapo disfarçado de Donald Trump. Essa animação costuma ser utilizada como meme com simbologia nazista ou do Ku Klux Klan (KKK).
Os investigadores recomendam que a Amazon desenvolva políticas mais sólidas para todas as suas plataformas, com a ajuda de especialistas que estudam os movimentos e símbolos de ódio, como o Southern Poverty Law Center (SPLC). “Estas novas políticas devem ser coerentes e transparentes, e evoluir adequadamente junto com os movimentos e seus símbolos.” A SPLC alertou em fevereiro que nos 12 meses anteriores havia observado um crescimento da presença de grupos de ódio e uma contínua difusão das suas ideias. A ADL atribuiu 18 mortes a pessoas e organizações de extrema direita em 2017, o dobro que em 2016.
Os grupos de ódio utilizam os negócios de livros eletrônicos, autopublicação, música e sites para fazer seu movimento crescer e recrutar seguidores. A Amazon, como maior fornecedora de livros eletrônicos do país, representa uma excelente vitrine para eles. A Counter-Currents Publishing, uma editora nacionalista branca, tem 50 títulos disponíveis no Kindle, segundo o relatório. Os investigadores também encontraram pelo menos 11 bandas de música identificadas como “de ódio” e quatro selos fonográficos racistas, com um total de 48 álbuns disponíveis. “Como editor de mídias em livros eletrônicos e impressos, a Amazon facilita a propagação de ideologias de ódio, incluindo a supremacia branca, o antissemitismo, a islamofobia e a homofobia”, conclui o relatório.
As organizações criticam a empresa, que no último balanço duplicou seu lucro trimestral com relação ao mesmo período de 2017, por não investir o suficiente no controle dos produtos que oferece e de quem deles se beneficia: “A Amazon tem a responsabilidade ética e moral de deixar de transmitir ódio ao mundo”, diz o texto.
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