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Philippe Coutinho, um franco-atirador de excelente mira

Meia-atacante assume as responsabilidades na seleção e se destaca com suas finalizações de fora da área

Coutinho comemora gol diante da Costa Rica.
Coutinho comemora gol diante da Costa Rica.Getty Images
Jordi Quixano

Para Philippe Coutinho se transferir ao Barcelona era quase uma obrigação porque queria jogar onde alguns de seus ídolos ganharam fama, fortuna e títulos. Por isso, convencido pelo ex-secretário técnico, Robert Fernández, solicitou o transfer request [pedido de transferência] ao Liverpool que por fim não deu certo em primeira instância e sim na segunda, no último mercado de inverno europeu.

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Coutinho já era uma estrela, mas isso, em um vestiário como o do Barcelona – e como o de qualquer equipe de ponta – não vale nada sem conquistá-lo. Ele logo percebeu isso. “Você passou branqueador nos dentes, não?”, um de seus novos colegas lhe disse como cumprimento, uma brincadeira para enturmar, mas também para situá-lo à altura do resto, sempre um escalão abaixo de Messi como outros compreenderam em sua época como Ibrahimovic, Neymar e Luis Suárez. Algumas horas mais tarde, entretanto, esses colegas já lhe davam tapinhas nas costas porque não sofreu nas rodas de bobinho como de praxe (pela precisão e velocidade do passe) e demonstrou que tinha futebol e lugar de sobra no grupo. “Os vestiários são muito chatos e te avaliam em apenas cinco minutos” dizem dos escritórios do Barcelona.

Coutinho passou no teste. Mas desde então não parou de assumir responsabilidades como fica claro na Copa do Mundo da Rússia, agora com a camisa do Brasil.

No Barcelona no começo lhe pediram que assumisse o posto de Iniesta, circunstância a que Valverde se negou porque entendeu que com os dois em campo o time ficaria melhor. E assim foi. Também lhe foi exigido rendimento imediato porque custou aproximadamente 150 milhões de euros (663 milhões de reais) entre fixo e variáveis, talvez porque Dembélé não tenha cumprido as expectativas e a torcida não aguentava mais reveses. Ele não decepcionou porque acumulou seis assistências e 10 gols em 1.483 minutos, o que significa um gol a cada 247 minutos e um passe para gol a cada 148. De modo que passou do sucesso em Anfield a conquistar o respeito no Camp Nou em poucos meses, também a caminho da Rússia.

Mesmo indicado como titular, não era uma certeza porque Willian pedia passagem, Firmino apresentava sua candidatura e Douglas Costa suas mudanças de direção e verticalidade. Mas Tite sempre lhe deu moral e isso não mudou na Rússia, onde Coutinho também conquistou o carinho de seus colegas – Neymar, Marcelo e Gabriel Jesus lhe deram uma ovada após um treino para comemorar seu aniversário –, da torcida e do técnico. Entre outras coisas porque foi o que correu mais quilômetros (22,1 nos dois primeiros jogos, à frente de Marcelo, que correu 19,2 e Neymar, com 18,5) e marcou dois dos três gols da equipe, um contra a Suíça e outro contra a Costa Rica. Resta ver como jogará no duelo decisivo da fase de grupos contra a Sérvia, uma vez que o Brasil precisa de um empate para assegurar a vaga nas oitavas sem depender do jogo entre Suíça e Costa Rica.

O gol, entretanto, nem sempre foi uma vontade de Coutinho, que quando era garoto e jogava no Vasco da Gama gostava mais do passe do que do chute. Resolução que seu pai, Zé Carlos, tentou equilibrar ao dar alguns reais por cada gol que fizesse; e medida que convenceu o menino a tentar o chute de longa distância. E essa é, exatamente, um das melhores armas de Coutinho, um franco-atirador de excelente mira. Não só é o quarto jogador que mais finaliza (10) na Copa – atrás de Cristiano Ronaldo (15), Cavani (13) e Messi (12)—, como também é o terceiro que mais vezes finalizou de fora da área (4), atrás do mexicano Layún e do saudita Al Dawsari (5). Em um deles, acertou o ângulo para marcar contra a Suíça. Para Tite a situação é clara: “A liderança técnica do time pertence a Coutinho e Neymar”. O 11 e o 10 na mesma estratosfera.

Chegada de trás

E Roberto Carlos, que foi o grande lateral esquerdo da década anterior, afirmou: “Todos estão falando de Neymar, mas a verdade é que Coutinho também é um grande jogador para o Brasil. Todos os marcadores se concentram em Neymar e ele aparece e decide jogos”. Tese que foi demonstrada contra a Costa Rica, quando veio de trás para chutar de bico e voltar a marcar. “Em poucas palavras: um craque”, diz sobre ele seu colega de seleção Fagner.

Com problemas para vazar as fechadas zagas adversárias, Tite revela a fórmula a seguir: “Nosso maior desafio é criar uma equipe com mentalidade coletiva para que as individualidades possam brilhar”. E é esse o papel de Coutinho porque com seus chutes consegue o efeito cobertor. Por um lado, os rivais sabem que com o menor espaço ele acha uma brecha [com muita capacidade], de modo que se preocuparão em marcá-lo; e por outro, com mais defensores ao seu redor, poderá fazer com que os outros joguem, especialmente Neymar e Gabriel Jesus, que em cada duelo tiveram dois rivais no encalço.

A bola, os holofotes e o Brasil iluminam Coutinho. “Mas dentro de campo estou mais confortável do que aqui”, disse o camisa 11 quando lhe pediram para que desse a entrevista após o treino da seleção; “sempre disse que não gosto de falar muito sobre mim mesmo”. Disso já se encarregam seus pés para festa de todo o Brasil.

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