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Para evitar tarifa europeia, Harley-Davidson transfere parte da sua produção para fora dos EUA

Decisão do fabricante de motocicletas vai no sentido contrário à mensagem que Trump proclama

Motociclista fã da marca Harley-Davidson em Hamburgo, Alemanha.
Motociclista fã da marca Harley-Davidson em Hamburgo, Alemanha.FABIAN BIMMER (REUTERS)
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Donald Trump diz que a sobretaxação às importações de aço e alumínio ajudará a indústria norte-americana. O que talvez não calculasse era o efeito das represálias de seus sócios comerciais. A Harley-Davidson, uma das primeiras corporações a clamarem ao presidente para que evitasse a confrontação por causa dos seus danos colaterais, anunciou que se vê obrigada a transferir parte da produção para fora do país, a fim de “aliviar” o efeito do imposto alfandegário europeu.

A decisão do célebre fabricante de motos vai justamente no sentido contrário do que Trump proclama, tornando-se um claro exemplo dos danos colaterais da guerra comercial travada em ambos os lados do Atlântico. A União Europeia ativou na sexta-feira passada uma alíquota especial para uma lista de produtos importados dos Estados Unidos num valor total de 3,2 bilhões de dólares por ano, o que inclui produtos tão diversos como suco de laranja, amendoins, roupas e navios.

A resposta europeia foi concebida de modo a “equilibrar” a situação criada pela tarifa de 25% sobre as importações de aço nos EUA e de 10% sobre o alumínio. O elenco de bens selecionado é, além disso, politicamente muito sensível para distritos importantes para os republicanos nas próximas eleições legislativas, em novembro. A tarifa europeia, segundo a Harley, “terá um efeito imediato sobre o nosso negócio”.

Para o caso concreto de suas motos, a tarifa sobe de 6% para 31%. Isso, na prática, encarece o preço de cada Harley-Davidson em uma média de 2.200 dólares (8.300 reais). Mas a empresa de Milwaukee (Wisconsin), uma das marcas que se encaixam no slogan trompista de “América Primeiro”, não quer passar esse sobrepreço ao consumidor. Neste sentido, prevê aos investidores um custo adicional de 90 a 100 milhões de dólares pelo impacto tarifário.

Donald Trump citou justamente a Harley-Davidson como exemplo do estrago da concorrência comercial desleal. Essa é uma de suas corporações preferidas. Em fevereiro do ano passado, ele inclusive recebeu os seus executivos na Casa Branca, quando não fazia nem duas semanas que ocupava o Salão Oval. Não é só a tarifa europeia que afeta o fabricante. Ele também precisa de aço e alumínio em seu processo de produção.

A Harley faturou 5,65 bilhões de dólares no ano passado, e a Europa é o seu maior mercado fora dos EUA, com 40.000 unidades vendidas em 2017. A UE não é o único sócio comercial que está reagindo a Trump. A Índia também tem preparada uma lista de bens importados a serem submetidos a uma tarifa especial, que entrará em vigor em 4 de agosto. Exclui, entretanto, as motocicletas. O presidente citou expressamente a tarifa indiana sobre esse produto.

Na sexta-feira, além disso, Trump deu um ultimato à UE para que revogue a tarifa de 10% às importações de automóveis fabricados nos EUA. Do contrário, ameaça impor uma tarifa alfandegária de 20% sobre os carros europeus, bem acima dos atuais 2,5%. O presidente recorreu novamente ao Twitter neste domingo para insistir que o comércio com seus sócios deve ser justo e recíproco.

A Harley-Davidson não especifica para onde irá transferir a produção nem como isso afetará os EUA. A única coisa que especifica é que a mudança levará entre 9 e 18 meses para ser concluída. “Não é nossa preferência”, insiste, “mas é a opção para preservar a viabilidade do negócio na Europa”. Atualmente a empresa tem fábricas em York (Pensilvânia), Kansas City (Missouri) e Menomonee Falls (Wisconsin). As operações fora do país estão na Austrália, Brasil, Índia e Tailândia.

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