Trump acende estopim de uma guerra comercial e diz que os EUA a vencerão
“Guerras comerciais são boas e fáceis e ganhar”, afirma o presidente, após a polêmica com a Europa em torno das tarifas para importação de aço
Donald Trump fez rufar os tambores de uma guerra comercial de maneira explícita em sua conta do Twitter, no melhor estilo Trump. O anúncio de quinta-feira sobre as novas tarifas para importação de aço e alumínio ativou a União Europeia, que advertiu sobre possíveis represálias, e caiu como um banho de água fria no México e no Canadá, em plenas e difíceis negociações para reformular o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês). Para o Brasil, os efeitos são diretos também, uma vez que o país é o segundo maior exportador para o mercado americano. Representantes do Governo brasileiro e das indústrias de aço vinham negociando com autoridades americanas para que o Brasil ficasse de fora das medidas de segurança nacional impostas por Trump. “O posicionamento oficial brasileiro se baseia no fato da nossa exportação para aquele país ser de semiacabados (80% do total), atendendo a necessidade americana de complementariedade numa longa e sólida relação comercial”, diz comunicado do Instituto Aço Brasil. Na verdade, o Brasil escapou de ser enquadrado num grupo de 12 países que teriam restrições ainda maiores, com sobretaxa de 53%. Agora, fica sujeito a ser sobretaxado em 25%. O Brasil vai recorrer.
Trump, no entanto, desdenha as reações que chegam do exterior. Na manhã de sexta, o presidente se gabou dizendo que os Estados Unidos têm vontade de vencer uma eventual disputa mercantil. Quando um país está perdendo bilhões de dólares no comércio com praticamente todos os países com quem faz negócios, as guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar”, disse ele na rede social. “Por exemplo, quando estamos perdendo 100 bilhões de dólares com um determinado país e eles se tornam engraçadinhos, não faça mais comércio – nós ganhamos mais. É fácil”, afirmou, numa surpreendente demonstração de seus conhecimentos de comércio internacional.
O secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, defendeu a medida e não deu muita importância ao possível impacto sobre o aço (cuja tarifa global será de 25%) e sobre o alumínio (10% sobre os carregamentos importados da China, Alemanha e México). “O motivo pelo qual temos de fazer isso é que eles não resolvem o problema da sobrecapacidade na competição desleal global”, disse Ross em entrevista à rede de TV CNBC. O secretário segurou nas mãos uma lata de sopa Campbell para minimizar o assunto, lembrando que num recipiente desses “há cerca de 2,6 centavos de dólar em aço. Então, se [a tarifa] subir a 25%, serão seis décimos de um centavo [no preço de uma lata de sopa Campbell]. Acabo de comprar isso hoje no 7 Eleven... e custava 1,99. Quem no mundo vai se incomodar?”
A empresa Campbell afirmou pouco depois que os preços de suas sopas realmente aumentariam. “Qualquer nova tarifa comercial sobre o preço de aço para latas – cuja produção nos EUA é insuficiente – vai gerar preços mais altos para um dos produtos mais acessíveis da cadeia de alimentação”, declarou um porta-voz da empresa à CNBC.
Em qualquer caso, as palavras e o tom do presidente vão além de alguns centavos. Há um pano de fundo muito político em sua mensagem do Twitter. O déficit comercial dos EUA, a nação mais rica do mundo, foi um dos elementos centrais da agenda econômica na candidatura de Trump, com a China e o México no papel de vilões. Em novembro passado, a diferença entre o que a economia importa e exporta atingiu o nível máximo nos últimos cinco anos – 50,5 bilhões de dólares por mês –, graças, em boa medida, às compras feitas ao gigante asiático. O lema “América primeiro”, que marcou o discurso de Trump, tem significado, em sua versão econômica, retirar-se da Parceria Transpacífico (TPP, também questionada pelos democratas), esquecer o projeto de novo acordo com a Europa (o TTIP), colocar em xeque a sobrevivência do Nafta e incorporar tarifas.
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